Garotas em Chamas – C.J. Tudor

>>  sexta-feira, 10 de setembro de 2021

TUDOR, C.J. Garotas em Chamas. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2021. 352p. Título original: The burning girls. 

C.J. Tudor foi uma autora que eu conheci pela capa. Seu livro de estreia, O Homem de Giz (cuja resenha vocês conferem AQUI) é um verdadeiro primor, com capa dura, texturas que remetem ao giz. Uma edição ambiciosa e fora do estilo tradicional da Intrínseca, mas que ajuda o leitor a mergulhar de cabeça na sinistralidade da história elaborada pela autora. O novo livro de Tudor, Garotas em Chamas, segue essa mesma lógica: capa dura, folhas pretas intercalando narrativas de passado e presente, e ilustrações dividindo o capítulo remetendo à fotografia, um dos detalhes importantes da trama. Dá prazer ler livros assim, onde a edição faz parte da história e é feita com cuidado e atenção. 

A autora é muito comparada com Stephen King, o que acho uma injustiça com os dois. King pelos anos de carreira e o trabalho que o levou ao status que possui, e Tudor que tem o peso da expectativa e uma comparação desleal diante de suas obras. Acho que isso faz a avaliação de seus livros serem um pouco mais rígidas, inclusive por mim. Mas esse é o preço que se paga pelo sucesso editorial, não é mesmo?

Minha história com os livros de Tudor não é muito saudável para mim, pois eu sofro horrores e continuo voltando para mais. Explico: eu sou uma pessoa medrosa que evita terror e suspense a todo custo. Para vocês terem uma ideia, eu não conseguia dormir com medo após ler “Harry Potter”. E Tudor dá medo! Ela teça a narrativa mesclando o sobrenatural com tramas de investigação, e amarra a história de forma a sempre ter pontas soltas, às pessoas jamais estarem em segurança, a você sempre querer um desfecho, uma solução, um fim àquela situação. E com isso a história voa e você devora o livro, apesar de não conseguir ir pegar um copo de água na cozinha petrificada de medo dos personagens sinistros e das inúmeras aparições sobrenaturais que aparecem na história. Então o que estou fazendo com os livros de Tudor? É aterrorizante, mas é viciante. Após ler seus 3 livros lançados, consigo identificar um estilo constante nas obras: 

LENDA URBANA. Garotas em Chamas traz um elemento comum dos outros dois livros da autora. Aqui, temos a história da Reverenda Jack Brooks que muda com sua filha adolescente Zoe para uma pequena cidade do interior da Inglaterra. Ali há uma tradição perpetuada pelos moradores de queimar pequenas bonecas de madeira em memória a duas crianças protestantes que foram queimadas vivas junto com outros habitantes 5 séculos antes. Ao chegar no local e se instalar no sinistro pároco, uma casinha caindo aos pedações ao lado da igreja e do cemitério, as duas constantemente se deparam com as bonecas e a presença do fogo. 

O CENÁRIO. Cria do interior da Inglaterra, Tudor situa ali suas histórias. São sempre cidades pequenas, úmidas, escuras, frias com poucos moradores e muita fofoca. Os moradores são todos parentes ou amigos que se conhecem desde a infância e carregam todo um histórico que os prendem à localidade e justificam suas ações, por mais agressivas que sejam. Também há a figura dos bullies adolescentes, crianças que foram criadas à sombra dos traumas dos seus pais e representam uma nova geração da violência e sinistralidade que acontece ali. No caso de Garotas em Chamas, a pequena Chapel Croft tem seus moradores locais que são parte essencial da trama do mistério criada. 

MISTÉRIO. Há sempre um suspense em torno da história. Não só um, mas vários, que acabam se entrelaçando em algum momento. No livro, as circunstâncias da transferência da Reverenda para a cidade são desconhecidas do leitor, e aos poucos, de migalha em migalha, vamos descobrindo todo o contexto que levaram a mulher até lá. Além disso, há o ponto central da história: o antigo reverendo cometeu suicídio se enforcando na capela. Tudo na história é estranho: ela recebe um kit de exorcismo contendo uma faca suja de sangue logo na sua chegada, e se depara com uma menina encharcada de sangue no cemitério. Trata-se de Poppy Harper, filha de um importante fazendeiro local. Ela e a filha também começam a ver coisas estranhas, o que fazem com que a Reverenda comece a pesquisar sobre a história da cidade. Isso a leva ao caso de duas adolescentes que desapareceram há 30 anos e o fato de que o falecido reverendo também estava investigando a história, que envolve fantasmas, lendas e exorcismo. 

O ELEMENTO SINISTRO. Somente o fato da história se passar em uma cidadezinha do interior, em uma casa que tem um cemitério como jardim já é assustador. Alie isso ao fato de os personagens principais serem clérigos e tratarem de temas como o mal e o exorcismo. Não suficiente, a autora constantemente insere elementos de terror na história, com aparição de meninas decapitadas em chama e constantes sustos levados pelos personagens. Isso é uma coisa que ela realmente sabe fazer: dar vida a lendas urbanas e contos locais de fantasmas e sempre inserir o elemento sobrenatural no desenvolvimento da história. É assustador e me dá pesadelos, mas é intrigante. 

Ao final, Garotas em Chamas é um livro que acerta em cheio a marca da autora. É assustador, é envolvente, é uma leitura que flui bem e que satisfaz tudo aquilo que se propõe. Não é um livro perfeito, pois na minha opinião algumas resoluções acontecem rápido demais e sem muita complexidade, e talvez existam mistérios demais. São muitos nós a de desatar no final, e talvez o livro precisasse de mais umas 50 páginas para o ritmo ser mais acertado. Mesmo assim, a autora nos entrega seu livro mais assustador e com cara de adaptação cinematográfica. Há um público fiel para isso, e esse público vai delirar com a história. 

E eu? Bem, eu vou dormir com a luz acesa por alguns dias me odiando por ter lido mais uma vez uma história dela. E logo vou esquecer esse trauma e pegar o próximo para sofrer mais um pouco! 


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 Avaliação (1 a 5): 




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