Os quatro ventos - Kristin Hannah

>>  segunda-feira, 11 de abril de 2022


HANNAH, Kristin. Os quatro ventos. São Paulo: Editora Arqueiro, 2022. 384p. Título original: The four winds.

"Seja corajosa. Ou finja que é, da no mesmo"

Depois de 12 livros da Kristin Hannah eu posso dizer para vocês que ela é uma autora fenomenal e está na minha seleta lista de autores favoritos. E também é daquelas autoras que fazem com que você termine a leitura chorando em posição fetal. Com esse pequeno estímulo kkk, conto para vocês o que achei de Os quatro ventos!

Texas, 1921
Elsa Wolcott foi criada em uma família privilegiada, seu pai era um rico homem de negócios. Mas Elsa teve um problema de coração quando criança e o médico garantiu que ela não teria uma vida longa. Depois disso os pais e as irmãs sempre a trataram como uma inútil, uma doente que não servia para nada e precisava fazer repouso... para sempre. Ela não frequentou a escola mais, não debutou, não saia com exceção da igreja e sua amada biblioteca. Seu refúgio era os livros, os romances maravilhosos onde ela "conheceu" o amor. Até que Elsa resolve ser corajosa como seu avô falava. 

Aos 25 anos, Elsa sai escondida em uma noite e conhece Rafe Martinelli, um imigrante italiano lindo e encantador. Ela que nunca tinha sido cortejada e nem mesmo conversado com um rapaz, dá seu primeiro beijo e se entrega a esta paixão. Porém, as consequências não demoram a chegar. Com a reputação arruinada e renegada pela família, ela se casa com um homem que mal conhece.

Texas, 1934
Após a Grande Depressão, a queda da bolsa de valores de NY (1929) e a seca que devasta as Grandes Planícies há 7 anos, as plantações estão arrasadas. Fazendeiros prósperos estão agora falidos. As cidades começam a se esvaziar, todos começam a abandonar as fazendas e migrar para outros Estados do país, em busca de emprego. Não chove, o trigo morre, os animais estão morrendo de fome. A comida não é suficiente para alimentar as famílias. Homens abandonam as famílias e partem em busca de novas oportunidades, eles nunca voltam. 

Elsa, Rafe e seus sogros trabalham de sol a sol, tentando cuidar dos poucos animais que restam, colocar comida na mesa, rezando para que chova. E quando parece que não pode ficar pior, começam as tempestades de areia. O ar é difícil de respirar, eles não têm mais dinheiro, a escola fecha. Seus dois filhos, Loreda, 12 anos, e Anthony, 7 anos, andam magros e solitários pela fazenda. Eles amam aquela terra, querem fazer de tudo para manter a propriedade da família Martinelli funcionando. Mas agora tudo está em risco, seu casamento, a vida dos filhos. 

"Na verdade, Elsa nunca sabia ao certo o que dizer para aquele homem bonito e volátil com quem se casara, mas palavras nunca foram seu forte e ela não tinha coragem de dizer como se sentia, que tinha encontrado uma inesperada força em si mesma naquela fazenda, que seu amor pelo marido e pelos pais dele a tornara quase destemida." p.51

Agora ela precisa escolher entre lutar pela terra que ama e ficar ao lado dos sogros, ou partir rumo ao Oeste. A Califórnia anuncia empregos, água, comida. Um ar respirável. Cabe a Elsa ter coragem mais uma vez, e lutar para sobreviver. 

"Loreda queria ser como Jack, não como seu pai sem rumo. Queria lutar por uma causa e dizer ao mundo que ela era melhor do que aquilo, que os Estados Unidos não poderiam deixar que ela vivesse daquele jeito." p.278

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É uma tristeza e um sofrimento sem fim nesse livro... e como a autora arrasa fazendo isso! Kristin Hannah escreve com o coração, seus livros tocam fundo na alma do leitor. Uma narrativa de arrepiar, que oras aquece o coração, oras te deixa em prantos. Eu sou fã da autora desde seu primeiro livro lançado no Brasil, O caminho para casa, e de lá para cá, sigo apaixonada. 

A construção dos personagens é sempre impecável! Temos Elsa, nossa protagonista, uma moça que foi criada sendo ignorada pela família, depois rejeitada, até ser acolhida pelos sogros. Uma criança doente, uma moça frágil, uma mulher incrível! Elsa descobre no amor, a coragem que precisa para seguir em frente.  Ela enfrenta o que for preciso pelos filhos, mesmo morrendo de medo do que pode acontecer. Elsa é FODA! Que mulher incrível, que guerreira! Meu coração se partiu por ela em vários momentos, e eu chorei igual criança. Os personagens secundários são todos ótimos, os avós, Milo e Rose, são incríveis, queria abraçá-los o livro todo. Loreda é uma pentelha no início, o esperado kk, mas ela amadurece muito e surpreende a cada página. Ant é uma criança fofa! Não consegui desgostar de Rafe realmente, mas ele é um zero à esquerda. E Jack, que faz parte da segunda metade da história, um homem que luta por um futuro melhor para o seu país. 

A ambientação é perfeita. A autora descreve tudo tão bem, que a gente sente a seca, sente o gosto da areia na boca. Eu passei o livro todo incomodada com tudo. A areia, a seca, a água que precisavam ferver e coar para beber, a falta de comida, os cheiros horríveis, as mãos cortadas por colher algodão. Os bichos da fazenda ficando magros até morrerem, as roupas rasgadas e os sapatos furados, a pobreza em si descrita de forma triste, mas tão real.  

O enredo baseado em uma parte tão triste da história americana foi muito real. A história é fictícia, mas todos os fatos realmente aconteceram. A Califórnia era formada principalmente pelos grandes fazendeiros e suas enormes plantações. Fora da capital, Los Angeles, era o que sustentava o Estado. Após a queda da bolsa de NY e com a crise econômica que veio a seguir, o desemprego cresceu exponencialmente no país. Para abrir postos de trabalho, a Califórnia mudou a política de imigração e deportou os mexicanos, que eram quem fornecia a mão de obra para a lavoura. Depois disso faltou gente para trabalhar nas fazendas, já que os americanos preferiam mudar para as grandes cidades em busca de emprego. Então a Califórnia anuncia vagas, promete trabalho, comida, bons empregos. Esses panfletos chegam nas grandes planícies e as pessoas atingidas pela grande seca, começam a migrar. Agora a Califórnia está lotada de imigrantes do seu próprio país.

Cidadãos americanos sim, mas relegados a uma categoria inferior. Eles chegavam à Califórnia com a roupa do corpo, sem dinheiro, sem trabalho, sem ter o que comer. Eles faziam tudo o que podiam para arrumar empregos e sustentar a família, mas viviam com uma mísera ajuda do governo, que só bastava para não morrer de fome. Eles montaram acampamentos em lugares designados e viviam assim, isolados. As escolas não queriam seus filhos por lá, os hospitais se recusavam a atendê-los. 

Eles deixam de ser cidadãos, são chamados de "Oaks". Eles começam a trabalhar nas lavouras, recebendo por saca de algodão ou a colheita do momento. Muitos deles são praticamente escravizados, já que trabalham em troca de moradia e comida, sem nunca terminar de pagar sua "dívida" com os donos das fazendas. E quando se começa um movimento para exigir melhores condições de trabalho e salário, os taxados de "comunistas" são presos e até espancados. O início da luta sindical nas fazendas foi uma das partes mais emocionantes da história. 

Foi de cortar o coração ver tanta gente que só queria sobreviver, sendo tratado como mendigo. Os preços abusivos, o salário de fome que mudava todo dia. E o mais perturbador? O quanto tudo isso é real atualmente. Nós estamos passando por uma "pós" pandemia onde o desemprego aumentou, os preços estão abusivos e nada é feito. É aquela história que nunca envelhece... "e os ricos cada vez ficam mais ricos...". 

Voltando ao livro, o final foi de partir o coração. Eu já esperava o drama, mas não estava preparada para sofrer tanto! Eu amei o epílogo, mas acho que esperava um pouco mais do que a "desgraceira sem fim" que encontrei kkk. De qualquer forma é um livro impecável e uma leitura essencial nos dias de hoje. Eu adorei e indico para todos, leiam! Kristin Hannah é incrível! 

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Avaliação (1 a 5): 4.5

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