Oblomov - Ivan Gontcharóv

>>  sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Gontcharóv, Ivan. Oblomov. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2012. 736p. Título original: Обломов.
 
Oblomov, romance de Ivan Goncharov, foi publicado em 1859 e é considerado uma das obras mais importantes da literatura russa do século XIX. Um livro bastante elogiado pela crítica ao longo dos anos, é um grande registro literário das mudanças sociais e culturais da Rússia.
 
Claramente escrito sob um viés satírico, Gontcharóv nos apresenta um personagem principal com pompas de protagonista/vilão de Novela das 6, Ilya Ilyich Oblomov. Um dia precisamos conversar sobre como os clássicos russos me lembram as produções históricas do horário das 6, mas não hoje. Hoje vamos falar de Oblomov e como sua preguiça, proeminência e desencontro com a realidade me irritaram profundamente. De fato, Oblomov é tão pomposo e tão irritante que de cara já identificamos as intenções do autor: um satirismo beirando a ironia para tratar dos modos e atos da nobreza russa em meados do século XIX e o insustentável e delirante estilo de vida.
 
E temos isso centralizado em Oblomov, que nem está no topo desta pirâmide social, mas sim é um membro da pequena nobreza. Mesmo assim, seu título “nobreza” e o idealismo de um sangue azul diferenciado faz com que ele seja incapaz de agir ou tomar decisões, acabando consumido por sua própria indolência. O nosso nobre protagonista (aqui no sentido literal do termo) passa a maior parte de sua vida deitado em seu apartamento em São Petersburgo, sem fazer muito esforço para mudar sua vida ou tomar qualquer tipo de ação significativa. Sua vida é reclamar, discutir, e se sentar sem tomar qualquer ação. É desesperador e por vezes o livro me deixou com raiva o bastante para largar violentamente e o deixar de castigo esticado no canto até parar de revirar os olhos e criar coragem para continuar. Mas sabe, vejo isso com bons olhos, pois o autor cria uma conexão com o leitor capaz de passar o exato recado que desejava, algo que é raro. Com esse eterno jogo de ranço literário, exploramos a vida de Oblomov, seus sonhos e suas relações amorosas, bem como a sociedade russa da época.  Ao longo dessa jornada, confrontamos junto com todos a preguiça e indolência do protagonista, e entramos em choque com as suas reflexões fúteis sobre os limites (ou falta deles) da realização pessoal.
 
Gontcharóv é talentoso em deixar claro suas intenções em criticar as estruturas sociais da época e as pessoas que perdem suas vidas em busca de conforto e segurança em vez de seguir suas ambições e sonhos; expressa
 a preguiça e apatia da classe alta. Outros temas que observamos são a estratificação da sociedade russa que, mesmo repleta de figuras insolentes, impede as pessoas de alcançarem seu verdadeiro potencial. Com isso, o autor mostra uma sociedade sem ambição, fadada ao fracasso ao não ter qualquer motivação e mediante relações superficiais e insinceras.
 
Eu consigo conversar horas sobre os significados desse livro e os dotes do autor, consigo talvez até escrever trabalhos escolares sobre ele e como ele mostra uma sociedade russa fadada à explosão de uma revolução de classes. E, na verdade, a Alice adolescente simplesmente amaria isso e classificaria esse livro como um dos melhores da vida. Eu discorri sobre isso na minha resenha de Os Irmãos Karamazov (que você confere AQUI), então não falarei muito sobre esse assunto. Mas o fato é que eu ainda tenho dentro de mim essa parte que ama analisar a sociedade e suas representações na literatura, e gostaria de ter lido este livro em outra época. Mas, infelizmente, a leitura em 2022 (atrasei um pouco a resenha, peço desculpas) me apresentou algo que não me interessa tanto quanto antes. Apesar de eu conseguir ver o caráter progressista da obra e todas as reflexões, até mesmo ao retratar personagens femininas (algo que sempre critiquei Tolstoi, por exemplo), o livro simplesmente não é uma leitura leve e agradável. E eu passei da fase de persistir em leituras às vezes pretensiosas e intelectuais. Eu gosto de livros que combinam conteúdo com diversão, e esse definitivamente peca no segundo aspecto. No fundo, a lição que fica é essa: Oblomov não me divertiu, ao contrário das novelas das 6. E eu não quero ter a sensação de alívio quando termino uma leitura, mas sim um já saudoso suspiro de reflexão e lembrança.
 
Mas essa sou eu e esses são os meus objetivos. Dependendo dos seus, esse pode ser um baita livro imperdível. Quem sabe?
 
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Avaliação (1 a 5):

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