Retrato Inacabado – Agatha Christie

>>  segunda-feira, 11 de março de 2024

CHRISTIE, Agatha. Retrato Inacabado. Porto Alegre: Editora L&PM Pocket, 2011. 320p. Título original: Unfinished Portrait.

"O desgosto não dura para sempre. Nada dra. Só uma coisa consola e cura de verdade: o tempo."

Chegamos ao 23º livro do Projeto Agatha Christie! Eu tenho lidos todos, mas é o primeiro que venho resenhar, a Alice tem resenhados todos até o momento. Esse é o segundo livro da autora no projeto, escrito sob o pseudônimo de Mary Westmacott, publicado pela primeira vez em 1034. Confiram o que achei de Retrato inacabado.

Durante uma viagem para uma ilha, um pintor famoso, Larraby, encontra por um acaso uma moça e percebe o desespero dela. Ele se aproxima, tentando evitar algo que ela sabe que ela está prestes a fazer, se matar. Ele a convence de voltar para o hotel e lhe contar sua história, ela a chama de Célia.

Célia era a filha mais nova de um casal razoavelmente rico, cresceu em uma propriedade rural idílica, no interior de Londres. Ela tem um irmão mais velho, mas os dois nunca foram próximos. Sua história começa aos 3 anos de idade, com sua babá religiosa, uma mãe amorosa e um pai divertido. 

Ao passar dos anos Célia cresce, começa a estudar, viaja por uma parte do mundo com os pais e foi sempre uma criança tímida e insegura. O pai faleceu muito cedo e a mãe perdeu sua boa condição de vida.  

As duas ainda vivem na grande propriedade rural, mas passam um bom tempo na casa da avó paterna de Célia, em Londres. Uma senhora forte, que enterrou três maridos, e tem suas próprias dicas de vida para passar para a neta. 

Ainda bem jovem, Célia se apaixona, e deixando de lado vários pretendentes com melhor situação financeira, se casa com Dermot. Um soldado pobre, egoísta e ambicioso, mas eles estavam profundamente apaixonados. 

A vida adulta de Célia não é fácil e em seus percalços acaba por se render ao desespero. E em um momento crucial, ela conta tudo a este senhor desconhecido. Resta saber o que Célia irá fazer depois desta longa conversa. 

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O que achei interessante na narrativa, foi o fato da  Agatha usar este livro como uma espécie de desabafo, o livro é visto em parte como autobiográfico. Seu primeiro casamento terminou em 1928, e a autora de coração partido, não conseguia falar sobre o assunto. Em 1933, Agatha já estava casada novamente e resolve refletir sobre seu primeiro amor. 

Apesar de ser interessante conhecer esse lado pessoal de uma autora tão amada, a história em si deixou a desejar para mim. Achei extremamente descritiva e muito depressiva. Fora que a história não "envelheceu bem" como costumam faltar atualmente. Tem partes machistas, gordofóbicas, racistas, a mulher é vista de forma extremamente depreciativa.  Mas, imagino que muito disso fizesse parte da realidade da autora à época. 

O problema é que Célia conta sua história com suas memórias desde os 3 anos de idade! Em 50% do livro ela ainda é uma adolescente, e eu achei um porre essa ladainha toda kk. Cada detalhe da vida dela não me interessava tanto. A protagonista, já adulta, se torna uma mulher insegura, tímida e com muito pouca auto estima. Mas ela surpreende em suas batalhas, e na luta para fazer o melhor pela família. Dermot, claro, se mostra um macho escroto, nada menos do que eu já esperava.  

Minha personagem favorita foi a mãe de Célia, uma mulher que se casou por amor e viveu uma vida dedicada ao marido e à filha. Ela entendia as dificuldades de ser mulher àquela época, e queria fazer de tudo para garantir um futuro para a filha, o que seria possível apenas com um bom casamento. Célia, muito inocente, preferiu olhar tudo com esperança e amor, desconsiderando as desconfianças da mãe, e as dicas maduras da avó. 

O final foi outra coisa que não curti, o livro termina realmente "inacabado", já que o final fica totalmente em aberto. Não se sabe o que Célia irá fazer depois daquilo, se ela vai tentar se matar novamente, se ela vai dar uma chance ao amor e recomeçar. 

É o segundo livro escrito sob esse pseudônimo, o primeiro foi Entre dois amores. Então eu não estranhei a narrativa reflexiva e mais dramática, esses livros são realmente bem diferentes do estilo da Agatha, sem ter um mistério no meio da história.  E eu gostei bastante do primeiro livro, esse já não funcionou para mim. Mas vi muitos elogios para o estilo mais reflexivo e a batalha de Célia contra a depressão. Então acho que depende somente do gosto do leitor, o livro é bem escrito como todos da autora. 

Este eu não indico, mas independente disso, estou amando ler todos os livros da diva Agatha Christie na ordem de publicação. Serão mais de 90 livros, uma leitura por mês, um projeto longo e muito interessante! 

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Livros sob o pseudônimo de Mary Westmacott
  1. Entre Dois Amores (Giant's Bread), 1930
  2. Retrato inacabado (Unfinished Portrait), 1934
  3. Ausência na Primavera (Absent in the Spring), 1944
  4. O Conflito (The Rose and the Yew Tree), 1948
  5. Filha é Filha (A Daughter's a daughter), 1952
  6. O Fardo (The Burden), 1956
Avaliação (1 a 5):

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