Em águas sombrias - Paula Hawkins
>> quinta-feira, 25 de maio de 2017
HAWKINS, Paula. Em águas sombrias. Rio de Janeiro: Editora Record, 2017. 364p.
Título original: Into the water.
“Voltei as pastas, à procura de mais
informações sobre Libby. Vasculhei as páginas impressas e as fotos, reproduções
de velhos artigos de jornal, recortes de revistas, aqui e ali seus garranchos
na borda das páginas, quase sempre ilegíveis, raramente distintos. Havia nomes
que eu já tinha ouvido e nomes que não: Libby e Mary, Anne e Katie, Ginny e
Lauren, e lá, no topo da página sobre Lauren, em tinta preta grossa, você havia
escrito: Beckford não é um local de suicidas. Beckford é um local para se
livrar de mulheres encrenqueiras.” p.89
Não curti tanto o
primeiro livro da autora, A
garota no trem, mas como adoro thriller psicológico, resolvi dar mais uma
chance para o seu trabalho. Esse livro teve os direitos cinematográficos
vendidos antes mesmo do lançamento, e promete muito suspense e mistério com Em águas sombrias da Paula Hawkins.
Nel Abott era fascinada pela história local, principalmente por tudo o que dizia
respeito ao “Poço dos afogamentos”, um lugar sinistro na pequena Backford, onde
ao longo dos anos, várias mulheres perderam a vida. Nel estava escrevendo um
livro sobre o local, mas não acreditava que aquele era apenas um lugar de
suicídios, não acreditava que todas aquelas mulheres tinham encontrado a morte
sozinhas. Poucos meses antes, uma adolescente tinha morrido naquele mesmo
local. Katie tinha apenas 15 anos e a família estava destruída pela perda. Depois disso, Nel redobrou sua obsessão
pelo local. Até que seu corpo também é encontrado lá, naquele Poço que tanto a
fascinava. Teria ela caído, sucumbido ao desespero, ou sido empurrada?
Jules não falava com a irmã mais velha há vários anos. Nunca a perdoara por
algo que acontecera durante a adolescência. E enquanto Nel lhe telefonava ao longo dos anos, sempre deixando recados; ela nunca mais falara com a irmã, apenas ignorava as mensagens. Agora precisa voltar a cidade que
tanto a assusta, encarar velhos medos, e a culpa pela morte da irmã. Será que
teria feito diferença se ela houvesse atendido as ligações?
Lena é a filha de 15 anos de Nel, ela acredita que a mãe tenha se matado, mas
não se abre com ninguém. Nem com a polícia, nem com a tia odiosa que resolvera
aparecer tarde demais. Lena parece aceitar a morte da mãe. Já Jules tem certeza de que a
irmã não se jogou. Jules tem pavor da casa do moinho, pavor daquelas águas... e do passado. E, bem lá no fundo, um fascínio pelo Poço dos afogamentos.
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Com um início truncado
e várias narrativas que se alternam, eu demorei um pouco a me envolver com a
narrativa de Em águas sombrias.
Porém, para minha surpresa, o suspense só foi melhorando no decorrer das
páginas, e eu acabei gostando mais desse livro do que de A
garota do trem. Saber o que aconteceu com Nel é a base do suspense, mas
várias tramas secundárias estão interligadas. O que causou a morte de Katie, o
que Lena esconde, e muitos outros segredos sobre as mulheres que morreram no
mesmo local.
Várias teorias
passaram pela minha cabeça enquanto eu lia, a autora acabou optando (novamente)
pelo mais óbvio, mas mesmo assim eu não posso dizer que tenha matado o
desfecho. Ela realmente conseguiu me confundir com tantas possibilidades de
finais, e mesmo sendo o mais fácil, de certa forma, me surpreendeu. Eu também
gosto da escrita sombria da autora, do clima tenso e até assustador. Ela
descreve as águas escuras, lamacentas e turbulentas do rio de forma tão
sombria, que chega a dar arrepios.
Agora, confesso,
continuo tendo problemas com os personagens (eu odiei a protagonista alcoólatra de A garota do trem). Hawkins constrói personagens
imperfeitos. Pessoas que mentem, traem, enganam e até matam. TODOS os seus personagens
têm um lado sombrio, não existe aqui o mocinho da história. E embora esse
aspecto possa ser algo diferente e até inquietante, acaba me afastando da trama. Eu não
consigo gostar dos personagens, não consigo me apegar a eles ou me importar com
o que acontece. Jules é um pé no saco, deprimida, esquisita, insegura. Lena é a
própria adolescente rebelde, resolvendo tudo sem pensar nas consequências. E
até a finada Nel me irritou, se não se metesse tanto onde não era chamada,
estaria viva rs. Então faltou empatia, e
acredito que só isso que fez com que eu não amasse o livro.
O livro debate temas muito
fortes e interessantes. Ele fala sim de mulheres que perderam a vida de forma
sinistra ou por se entregar para a morte. Mas nas entrelinhas, fala de
preconceito, de machismo. Fala como essas mulheres foram afetadas pela
sociedade em que viviam. Pelos olhares, pelos julgamentos, pela falta de
escolha. Pela solidão que as deixaram sem ter em quem confiar para pedir ajuda.
Independentemente de como chegaram ao fundo do Poço dos afogamentos, todas
tiveram suas histórias sombrias.
Esse é um suspense
forte, pesado, que conta muito nas entrelinhas. A narrativa é confusa no
início, mas logo fica interessante e prende o leitor até o final. Para quem
gosta de suspense, esse é, no mínimo, intrigante. Leiam!
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Avaliação (1 a 5): 3,5