A lista de Schindler - Thomas Keneally

>>  segunda-feira, 30 de junho de 2025

KENEALLY, Thomas. A lista de Schindler. 15 ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2021. 424p. Título original: Schindler's List.

"Aquele que salva a vida de um homem salva a vida do mundo inteiro." p.52

A Lista de Schindler foi um filme que me marcou e emocionou muito quando assisti e sempre tive curiosidade de conhecer o livro. Considerado um clássico, o livro de Thomas Keneally narra o mais fielmente possível a vida do alemão Oskar Schindler que durante a Segunda Guerra Mundial salvou mais de 1.000 judeus da morte por extermínio em campos de concentração. A narrativa biográfica ganha ares de ficção em uma história fluída, emocionante e, claro, de partir o coração. 

Oskar Schindler (1908-1974) foi um industrial alemão, membro do Partido Nazista, que inicialmente visava apenas o lucro quando comprou uma fábrica em Cracóvia, na Polônia, e começou a produzir esmaltados para venda. A mão de obra judia era mais barata e muito lucrativa, mas com o avanço da Segunda Guerra Mundial e a criação, primeiro dos Guetos, depois dos Campos de Concentração, Oskar utilizou seus recursos e influência para proteger seus funcionários judeus, criando um ambiente seguro e fornecendo uma alimentação melhor para os seus funcionários "altamente especializados". 

"- Trabalhando aqui, vocês estarão a salvo. Se trabalharem aqui, irão até o final da guerra com vida." p.94

Quando começou a presenciar o nível de sadismo dos oficiais da SS, e assistiu do alto de um morro, a execução de judeus no gueto, inclusive mulheres e crianças, ele decidiu fazer o possível e impossível para salvar o máximo de judeus que conseguisse. Ele contratou funcionários independente de sua utilidade, construiu dormitórios em suas fábricas, subornou inúmeros soldados e políticos alemães para conseguir algumas regalias para seus empregados impedir execuções, conseguir transferências, o que pudesse conseguir no meio daquele caos. Oskar foi preso por duas vezes, sendo solto utilizando de suas influências e quanta propina pudesse pagar. 

Posteriormente, com o avanço da guerra e o fechamento dos Guetos, praticamente todos os judeus foram transferidos para Auschwitz e Bergen-Belsen. Eram colocados em trens com a roupa do corpo, sem água ou comida, e com a informação de que suas malas deveriam ser etiquetadas, pois seriam entregues depois... muitos deles, ao chegar, eram enviados diretamente para as câmaras de gás. O que no início parecia inacreditável, fazendo com que os próprios judeus acreditassem naquela "transferência", depois ficou claramente conhecido como uma sentença de morte.

"Todo oficial da SS tinha amigos que haviam se suicidado. Os compêndios de treinamento da SS, escritos para combater essas baixas absurdas, assinalavam a tolice de se acreditar que, pelo fato de o judeu não estar visivlmente armado, deixasse de possuir armas sociais, econômicas ou políticas. Na realidade, estava armado até os dentes. Fortaleçam-se, alertavam os compêndios, pois a criança judia é uma bomba-relógio cultural, a mulher judia uma biologia de traições, o homem jude um inimigo mais incontrolável do que nenhum russo poderia jamais ser." p. 179

Oskar, lutando contra o tempo, acabou criando o seu próprio campo de concentração em sua fábrica e continuou subornando oficiais nazistas para libertar judeus.  Quando tudo parecia perdido, ele consegue construir uma fábrica em Brněnec, na atual República Checa, e começa a tentar transferir todos os seus empregados e mais o máximo de judeus possível para lá. Para isso ele escreveu o que ficou conhecido como "A lista de Schindler". Fazer parte daquela lista, parecia ser a única forma de sobreviver. Muitos judeus ainda com alguma influência, conseguiram pagar alguém para ter seu nome na lista. Outros tiveram os nomes retirados e substituídos sem que Oskar chegasse a saber. Mais de 1.200 judeus fizeram parte daquela lista.  

Eles foram enviados por trens, passando por um ou outro campo de concentração e quase perdendo a vida no processo. Ao chegar, eles encontraram uma fábrica inativa; a nova fábrica de Schindler criada para fabricar armamentos indispensáveis para o esforço de guerra, na verdade, tinha dormitórios, enfermaria, e uma cozinha com um mingau nutritivo, feito pela esposa de Oskar, para recuperar os judeus que chegavam lá quase mortos depois da longa travessia.  Para muitos aquilo era inacreditável! 

Oskar foi um homem pouco ortodoxo. Por um lado, um marido infiel, um homem que durante a vida teve várias amantes e deu pouca atenção a Emilie Schindler. Sua esposa passou quase toda a guerra na Alemanha, mas reúne-se ao marido em Brněnec e foi pelos seus cuidados que muitos judeus conseguiram se recuperar e sobreviver. Oskar bebia demais, gastava demais, e terminou a guerra falido.

Após a Segunda Guerra Mundial, Oskar Schindler enfrentou dificuldades financeiras e pessoais. Ele foi obrigado a fugir da Alemanha com a esposa com a ajuda de um pequeno grupo de judeus. Eles viajam para evitar a prisão por sua associação com o Partido Nazista. Tentou reiniciar seus negócios, mas teve pouco sucesso, sendo sustentado, em parte, por judeus que ele havia salvo e por seus parentes. Mais tarde, imigrou para a Argentina, onde também teve problemas financeiros, voltando posteriormente à Alemanha. Schindler morreu em 1974 e foi sepultado em Jerusalém, no Cemitério Católico, homenageado por sua ação de salvar judeus durante o Holocausto.  

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O início da narrativa é lento, com inúmeras descrições e tantas pessoas que fica impossível decorar nomes e referências. São inúmeras reuniões, muitos contatos e negociações para Oskar enfim abrir sua primeira fábrica. Porém a narrativa fica cada vez mais triste e emocionante e prende o leitor até o final. Eu tive que parar de ler várias vezes porque é pesado, é triste, é de partir o coração. O livro me fez chorar de soluçar, mas terminei a leitura apaixonada pela obra, que livro incrível, que narrativa importante! 

Ler sobre o Holocausto, seja em narrativas biográficas ou ficcionais, é um exercício de memória e consciência. É recordar, constantemente, o quão devastador pode ser o preconceito levado ao extremo. É recusar o esquecimento do passado e se comprometer com um presente mais justo. Em tempos em que ideias intolerantes ganham espaço e julgamentos apressados são disfarçados de "opinião", torna-se ainda mais essencial sonhar com a igualdade e lutar ativamente por um mundo melhor.

Que livro triste e pesado. Já li muitos livros sobre o Holocausto, a maioria ficcional, mas nenhum havia me mostrado um retrato tão amplo e detalhado do que aconteceu com os judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Foram mais de seis milhões de judeus assassinados pelos nazistas — um número tão absurdo que chega a ser impossível de compreender por completo. Diante disso, o que Oskar fez pode até parecer um grão de areia no deserto, mas não há como ignorar o impacto de suas ações.

Oskar é uma figura complexa e contraditória — cheio de vícios, impulsos e fragilidades, mas também profundamente humano em sua coragem. Ele arriscou tudo para salvar o maior número possível de vidas, e isso por si só já o torna inesquecível. O fim da guerra, acompanhado dos depoimentos, dá um peso ainda maior à narrativa. Apesar do começo mais lento, o livro me tocou profundamente. Amei a forma como a história foi contada.

Um livro que dói, mas precisa ser lido. Que nos lembra do pior para que possamos escolher o melhor. Leiam. Por empatia, por memória, por humanidade.

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