Viagem Literária: Sombra e ossos

BARDUGO, Leigh. Sombra e ossos. São Paulo: Editora Gutenberg, 2013. 288p. (Trilogia Grisha, v.1). Título original: Shadow and bone.

“Apertei ainda mais o kefta ao meu redor, sentindo um frio repentino. Eu me lembrei da segurança que tinha me inundado com o toque do Darking, e daquela sensação estranhamente familiar de um chamado ecoando por mim, um chamado que precisava de resposta. Aquilo tinha me assustado, mas me divertido também. Naquele momento, toda a minha dúvida e medo fora substituída por um tipo de certeza absoluta. Eu sempre tinha sido uma ninguém, uma refugiada de uma vila sem nome, uma menina magrela e desajeitada se movendo sozinha pela escuridão adensada.” p.61

Eu comprei este livro ano passado na Bienal do RJ, fiquei curiosa depois de ver tanta gente elogiando, mas ele acabou ficando parado na estante. Os livros de fantasia YA normalmente seguem a mesma fórmula, e ultimamente, está difícil eu me encantar com uma nova história nesse gênero. Mas ele foi a leitura escolhida para mim no Clube das chocólatras deste mês e hoje conto para vocês o que achei de Sombra e ossos, primeiro livro da trilogia Grisha da Leigh Bardugo.

Alina Starkov e Malyen Oretsev estão juntos desde que eram crianças, órfãos da guerra que dizimava o país há tanto tempo, eles foram acolhidos e cresceram juntos na casa de propriedade do Duque Keramsov. Quando crianças eram inseparáveis, melhores amigos, sempre juntos escondendo-se para espiar tudo que se passava na casa. Agora eles cresceram e se alistaram no exército, e já adultos, são muito diferentes. Alina é uma moça magra, sem graça, que nutre uma paixão inconveniente pelo melhor amigo. Ela é cartógrafa de seu regimento, enquanto Maly é um grande rastreador, o melhor deles. Ele é bonito, simpático, atrai sempre um bando de mulheres ao seu redor.

Agora eles caminhavam rumo ao perigo, o regimento deveria atravessar a Dobra das sombras, o lugar mais perigoso de toda a Ravka. A dobra assustava e matava viajantes, um vão negro, assolado por criaturas sedentas de sangue, os Volcras. Para atravessar os soldados contavam com a ajuda dos Grishas, soldados do Segundo Exército e Mestres da Pequena Ciência. Os Grishas eram poderosos e temidos, assustadores para as pessoas normais, considerados magos perigosos pela maioria da população. Os Grishas eram divididos em Corporalki (Sangradores e Curandeiros), Etherealki (os conjuradores) e Materialki (os fabricadores). Alina pouco sabia sobre os Grishas, exceto quando observava suas lindas mulheres passando em carruagens chiques, e a forma como elas olhavam para Maly.

Mas naquele dia, na dobra, algo terrível aconteceu. Maly é atacado por um Volcra e na ânsia de protegê-lo, Alina revela um poder, poder que nunca imaginou ter. E ela, a menina normal e sem graça, a órfã tímida e magra, é arrancada de seu mundo e levada a corte real para se treinada como um Grisha, a elite mágica liderada pelo temido Darkling. Com o poder de Alina, ele acredita finalmente conseguir destruir a Dobra das sombras.

Perdida e sozinha, ela precisa se adaptar a esta nova vida. Enquanto tenta treinar e aprender tantas coisas novas, seu coração está dividido entra a saudade que sente por Maly, e a crescente atração pelo Darking.

~~~~~~~~~

É difícil acreditar que este é o livro de estreia da autora, ela é uma legítima contadora de histórias. Leigh Bardugo nasceu em Jerusalém, formou-se na Yale e vive em Hollywood. A moça é maquiadora artística e tem uma banda, pelo jeito ela faz bem qualquer coisa que queira. E como faz bem, o livro é fantástico!!

Gente, há muito tempo uma fantasia YA não me animava tanto! Ambientado na Rússia conhecemos um cenário arrasado pela guerra, vemos o contraste entre a vida da população comum e a opulência dos Grishas e dos habitantes do castelo. O Darking é um mago poderoso, e domina com mãos de ferro o Segundo Exército, os Grishas. Os Grishas no início são só algo a se temer, até que Alina se torna uma deles.

Os personagens são ótimos! Temos Alina uma moça doce e inteligente, tímida e que sempre foi protegida pelo melhor amigo, o patinho feio ao lado do lindo Maly, um exímio rastreador. Vemos ela se transformar e deixar tudo para trás. No início achei Maly muito prepotente, mas o personagem mudou minha visão no decorrer do livro. O Darking é o curinga do livro, bonito e misterioso, com uma idade desconhecida, o leitor fica o tempo todo na dúvida sobre o que achar dele.

Misturando fantasia, magia e um mundo assolado pela guerra a autora criou uma trama deliciosa. É impossível não se empolgar, não se encantar com o cenário construído, com as descrições das roupas e comidas. Ela consegue introduzir um mundo completamente novo, sem deixar a história maçante nem o leitor perdido. Tem muita ação, muitas surpresas e um desfecho que chegou a me surpreender.

O livro é narrado em primeira pessoa por Alina, e claro que como todo YA tem aquelas partes da protagonista chorando as pitangas e enchendo o saco do leitor rs. E aí temos alguns clichês... A mocinha que se acha o cocô do cavalo do bandido, mas que na verdade é poderosa e a chave para salvar o mundo. O amor pelo amigo de infância que nunca deu bola para ela, versus, o cara do mal que não deveríamos gostar, mas que conquista o leitor mesmo assim. Aí meio que tem início um triangulo amoroso, mas não sei se a continuação vai investir nessa abordagem. A trama me lembrou muito da Trilogia do Mago Negro, quem leu vai perceber as semelhanças.

Leitura mais do que aprovada, quem gosta de fantasias jovem-adulto não pode deixar de ler, o livro é uma delicia. E eu quero o segundo na estante para ontem ^^. Leiam!!