A casa das lembranças perdidas - Kate Morton

>>  segunda-feira, 19 de junho de 2017

MORTON, Kate. A casa das lembranças perdidas. Rio de Janeiro: Editora Rocco,  2008. 535p. Título original: The shifting fog. 

"As guerras tornam a história enganadoramente simples. Elas fornecem momentos de decisão muito claros, distinções muito fáceis: antes e depois, vencedor e vencido, certo e errado. A história verdadeira, o passado, não é assim. Não é plano nem linear. Não tem contornos. É escorregadio como um líquido; é infinito e desconhecido como o espaço. E é mutável: quando você pensa que enxerga um padrão, a perspectiva muda, uma outra versão é apresentada, uma lembrança há muito esquecida vem à tona." p. 307-308

Conheci o trabalho da australiana Kate Morton com O jardim secreto de Eliza, que eu amei. Depois dele li  A guardiã dos segredos do amor, que não amei como o primeiro, mas gostei muito. E agora tive a oportunidade de conhecer o primeiro livro da autora, que revelou seu talento para o mundo. Com direitos de tradução vendidos para 29 países, confira o que achei de A casa das lembranças perdidas.

Grace Bradley, 98 anos, vive agora em uma casa de repouso. Com o corpo e a mente já sentindo o cansaço da idade, ela lembra pouco do presente, e muito do seu passado. Ela trabalhou como criada da Mansão Riverton por muitos anos, e guardou consigo os trágicos segredos do que realmente aconteceu naquele local. No verão de 1924, na noite de uma grande festa...

As lembranças não saem mais de sua mente, desde que recebe a visita de uma jovem cineasta, que está produzindo um filme sobre os acontecimentos daquela época, quando um jovem poeta se suicidou. Só Grace ainda está viva e sabe a verdade, sobre o que realmente aconteceu naquela noite. Ela guardou esse segredo por muitos anos, e está pronta para levá-lo para o túmulo. Guando o passado ameaça emergir, Grace tenta colocar em ordem seus pensamentos, e começa a relembrar o passado. 

Com apenas 14 anos, a jovem Grace começa a trabalhar na mesma mansão onde sua mãe trabalhou por muitos anos, só saindo quando ficou grávida. Na mansão, conhece os irmãos Hartford. A bela Emmeline, a inteligente Hannah que sempre quis mais da vida do que ser a esposa comportada de alguém. O jovem David, o herdeiro da mansão.  E se torna parte da equipe dos fieis empregados, criados ingleses dedicados. O Sr. Hamilton, encarregado dos demais empregados. Nancy, o jovem Alfred e a talentosa cozinheira, Sra. Townsend. Juntos eles irão passar pela Primeira Guerra Mundial e suas perdas, pelo que sobrou da família depois da Guerra. E tudo que se passou, até aquela fatídica noite, em 1924... 

"Nesta foto eles não sabem: eles estão sorrindo. Hannah, Emmeline e Teddy. Sorrindo para a câmera. Foi antes. Eu olho para o rosto de Hannah, procurando alguma pista, algum conhecimento da fatalidade que está prestes a acontecer. Mas é claro que não encontro. O que vejo nos olhos dela é expectativa. Mas talvez eu esteja só imaginando, porque sei que está lá." p. 342

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O talento da autora fica claro em cada página, em cada frase bem construída e cheia de significados. Fico ainda mais impressionada, ao saber que se trata de seu primeiro livro. Sua ambientação e construção dos personagens, garantem o sucesso de suas obras. O leitor visualiza claramente cada uma das cenas, a beleza visual do livro é incrível. Cada cenário é muito bem construído, você se sente presente naquela Inglaterra aristocrática, acompanha o declínio social após a Primeira Grande Guerra e como tudo muda. Como os aristocratas se recusam a perceber que o mundo está mudando, e acabam perdendo muito com isso. E os mais jovens, os que mais sofrem, seja pelas escolhas dos pais, pela própria guerra, ou por sua busca por novas aventuras. 

Esse livro tem tudo para ser incrível, mas a autora utiliza de uma construção que sempre me desagrada, quando um personagem no futuro, adianta aos leitores os acontecimentos do passado. Antes de você conhecer os personagens você já sabe que tal pessoa irá morrer em um acidente, outro vai se matar, outro morrerá na Guerra e por ai vai.  Por mais que eu gostasse dos personagens, perdi a expectativa com a leitura. Eu já sabia tudo o que iria acontecer, o final de todos aqueles personagens que eu estava gostando tanto. 

Com isso, acabei me desconectando com a história. Não tinha como torcer pelos personagens, a tragédia já estava anunciada. Com isso só sobrou Grace, uma menina fofa e muito bem intencionada, que faria de tudo para proteger aquela família. Grace com suas melhores intenções, que acaba fazendo tudo errado. Fiquei agoniada com isso, ela abre mão de tudo para ajudar, e acaba, sem saber, estragando tudo. Que agonia com as más escolhas de Grace. Com o que aconteceu com Alfred e tudo o que vem a seguir. Sofri muito por ela, morri de pena de tudo o que ela teve que guardar só para si, por tantos anos. Escolhas infelizes... o livro todo é marcado por muita tragédia e pessoas tristes em decorrência disso, foi de cortar o coração.

Eu gosto muito da autora e acho sua narrativa fenomenal. Mas esse é um romance mais lento e descritivo, um estilo elaborado que nem todos os leitores irão gostar. Tanto que foi o que menos gostei da autora até agora, mas não tiro o mérito dele como um bom livro... ele só perdeu em comparação com os demais. Até porque O jardim secreto de Eliza é um dos meus romances favoritos. 

Quem não conhece o trabalho da Kate Morton, precisa ler algo dela! Quem gosta de romances adultos e bem elaborados, e principalmente de romances históricos, precisa conhecer seus livros. Leiam!! 

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