O homem inocente - John Grisham

>>  segunda-feira, 15 de abril de 2019

GRISHAM, JOHN. O homem inocente . São Paulo: Editora Arqueiro, 2019. 336p. Título original: The innocent man.


“- Senhoras e senhores do júri, eu gostaria de dizer...
- Com licença – disse o juiz Jones.
- Dennis, você não pode fazer isso – alertou Greg Saunders.
Mas Dennis não admitiu que o impedissem. Continuou:
- Meu Senhor Jesus Cristo que está no céu sabe que eu não fiz isso. Só quero que saibam que eu perdoo vocês. Vou rezar por vocês.
De volta à cela, na escuridão de seu cantinho do inferno, ele não encontrou nenhum alívio no fato de que tinha evitado a pena de morte. Tinha 31 anos, era um homem inocente, sem tendências violentas, e a perspectiva de passar o resto da vida na prisão era totalmente avassaladora.” p. 177

Eu já li alguns livros do americano John Grisham e tenho vários outros na fila, adoro thriller jurídico e o autor é um dos grandes nomes do gênero. Já esse livro, é seu primeiro livro de não ficção, baseando-se em fatos reais, ele narra uma história real de crime e injustiça em O homem inocente.

Ada, Condado de Pontotoc, Oklahoma
Ron Williamson cresceu como um menino mimado, que tinha tudo o que queria. O filho mais novo de pais amorosos, tinha duas irmãs mais velhas e todos faziam tudo por ele. Ele era uma criança inteligente, mas tinha crises de humor e instabilidade. Em 1971, aos 18 anos, Ron conquistou uma carreira promissora no beisebol, sonhava em se tornar um profissional e sair de Ada para sempre. Mas ele não teve sorte; as inúmeras bebedeiras, uso de drogas e uma lesão no cotovelo, também não ajudaram. Seis anos depois, ele tinha sido demitido, sua carreira estava terminada. Ele não estudou, não tinha um emprego. Foi morar com a mãe e passava os dias dormindo no sofá, e as noites se embebedando.  Ron nunca superou o fracasso como jogador, e com o tempo, sua mente foi deteriorando, e inúmeros problemas mentais foram surgindo.

Em 1982, Debra Sue Carter, 21 anos, uma garçonete linda e independente, foi estuprada, sodomizada e assassinada em seu apartamento. O crime chocou a cidade, mas ficou sem solução por cinco anos. Em 1984, Denice Haraway, 24 anos, desapareceu misteriosamente. Seu corpo não foi encontrado na época. A pequena cidade tinha agora duas mulheres assassinadas, e todos cobravam alguma atitude da polícia. Essa segunda morte, mudaria para sempre a vida de Ron e de Dennis Fritz.

Dennis era um viúvo que perdera a mulher de forma trágica, ainda muito novo. Ele tinha uma filha pequena, que a mãe dele ajudava a criar, era professor de biologia na escola local. O único crime de Dennis era ser amigo de Ron, e o acompanhar em várias noites de bebedeira nos bares da cidade. Ele tinha também um pequeno delito e uma ficha criminal, por se envolver com maconha aos 18 anos.

A polícia tinha uma autópsia, amostra de cabelos e pelos, testes de polígrafos pouco confiáveis... e dois suspeitos que tentavam desesperadamente enquadrar pelo crime: Ron e Dennis.  Eles foram presos, o processo foi cheio de erros e fraudes. Testemunhas surgiam da própria prisão, onde outros presos afirmavam que os ouviram confessando. Um “sonho” de Ron com Debra, foi usado como confissão.

E embora soubessem que eram inocentes e acreditassem que iriam ser inocentados após o julgamento, para incredulidade dos dois, foram condenados. Dennis pegou prisão perpétua. Ron foi condenado à morte.  A condenação, não só arruinou com a vida de dois homens inocentes, como agravou os problemas mentais de Ron, e deixou que o verdadeiro assassino ficasse impune.

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Eu geralmente não curto não ficção, mas como não leio sinopse nem nada, nem sabia que era o caso deste livro rs. Vi que era do autor e já coloquei na lista, imaginei que era mais um dos seus thriller jurídicos. E de certa forma é, a narrativa do autor flui muito bem, é quase romanceada, eu demorei alguns capítulos para perceber que era uma história real. Só é mais denso e bem mais descritivo que seria na ficção. E claro, depois com os desdobramentos todos, isso fica claro.

A história inteira é muito chocante. Você fica assustado com a atitude da polícia, da promotoria e do juiz durante todo o processo. Algo deste nível, eu até acho “normal”, infelizmente, no Brasil. Mas em um país de primeiro mundo com o EUA, é terrível ver como isso aconteceu inúmeras vezes. E ainda pior, vários daqueles prisioneiros condenados estavam enfrentando a pena de morte.

A vida de dois homens inocentes foi maculada. A vida de suas famílias nunca mais seria a mesma. Inocentes ou culpados, eles estariam marcados para sempre. Ron havia sido preso anteriormente por embriagues, perturbação, dirigir embriagado e suspeita de estupro, foi inocentado na época. E isso serviu para que fosse automaticamente considerado culpado. Para piorar ele foi diagnosticado ao longo dos anos como sofrendo de depressão profunda, bipolar, esquizofrênico e incapaz de se defender. Tudo isso foi ignorado. Na cadeia ele não recebia tratamento ou medicação, de vez em quando o dopavam de remédios para que ficasse quieto. Os acontecimentos me lembraram de À espera de um milagre, um livro/filme que sempre mexe comigo.

Triste saber que algo assim é tão comum. E que julgamos e condenamos tanto, a revelia. A “presunção de inocência” até que se “prove o contrário” nunca foi posta em prática. Com a mídia, as informações e detalhes sendo divulgados em tempo real, a população condena criminosos e clama por justiça. Mesmo depois, caso a inocência venha a  ser provada, a vida da pessoa jamais será a mesma. Me espantou a forma como Ron e Dennis reagiram a isso, com ainda queriam viver e só queriam recomeçar. Não sei de onde tiravam forças para seguir em frente, depois de tudo.

O livro foi adaptado para a TV em uma série documental da Netflix, O inocente. Eu estou ansiosa para começar a série!

O livro é muito interessante e vale a pena a leitura. A parte processual do livro é bem pedante, são páginas e páginas que se arrastam descrevendo as minúcias do processo. Claro que o autor não poderia fazer diferente, mas para o leitor leigo é um pouco entediante.  Quem curte não ficção vai amar, quem não costuma ler, é uma excelente oportunidade para começar, leiam!


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