Esperança - Lesley Pearse

>>  segunda-feira, 17 de junho de 2019

PEARSE, Lesley. Esperança. São Paulo: Editora Arqueiro, 2019. 560p. Título original: Hope.

“- Nós poderíamos procurar lady Harvey e dizer que Hope é filha dela... Fazê-la se comprometer a ajudar a menina quando for preciso.
Meg ficou escandalizada.
- Como pode pensar uma coisa dessas, Silas?! – exclamou. - Não podemos fazer isso! Ela vai pensar que estamos tentando chantageá-la. Nell, Albert, James e Ruth, todos perderiam seus empregos. Você provavelmente também perderia o seu.
- Não acredito que ela faria tal coisa! Não depois dos bons serviços que nossa família lhe prestou.
- Não conte com isso. – Meg fez uma careta. – Uma mulher com um segredo desses é um animal perigoso.” p.65

A Inglesa Lesley Pearse escreve romances densos e muito sofridos, quase uma saga onde seus protagonistas lutam para sobreviver. Foi assim com Belle, que li há muitos anos atrás. Então eu já esperava o drama, o sofrimento e a busca por uma vida melhor que encontrei em Esperança. Confiram o que achei da leitura!

Inglaterra, 1832
Lady Harvey é uma aristocrata mimada e egoísta, casada com Sir William Harvey. O marido estava na América fazia dois anos, e por isso suas duas criadas encontravam-se desesperadas naquela noite, com a patroa prestes a dar à luz. Nell Renton tinha apenas 16 anos, e ficou muito assustada quando entendeu o que estava acontecendo. Todos os criados haviam sido dispensados, elas fizeram o parto e Bridie, uma criada idosa que faria tudo pela patroa, anuncia que a menina nascera morta. Ao ver a bebê se mexer, desesperada, Nell resolve levar a menina para sua mãe criar. Ela a chama de Hope.

Meg Renton e seu marido, Silas, eram pessoas de bom coração. Mesmo mal tendo como sobreviver, recebem Hope com amor, apenas mais um bebê em meio a seus 10 filhos. Ninguém no vilarejo desconfia de nada, Hope cresce numa família simples, repleta de amor e carinho.

Alguns anos se passam. Nell se casa com Albert, o jardineiro chefe. Inocente, ela não sabia que o homem tímido e calado se tornaria um tirano após o casamento. Na infância Hope fica amiga de Rufus, filho de Lady Harvey, sem saber que ele é seu meio irmão. Com apenas 11 anos, Hope começa a trabalhar na mansão.  

Poucos anos depois, uma enorme tragédia acontece. Hope acaba precisando ir morar com Nell e Albert. Ela tinha pavor dele, e sabia que ele era violento com a irmã. Ela tentava ficar longe, mas em uma tarde acaba presenciando uma cena que mudaria sua vida para sempre.

Hope vai embora de Somerset. Sozinha, machucada, com a roupa do corpo e sem nenhum dinheiro. Na periferia de Londres, ela conhece o que é a verdadeira pobreza. Ela é salva da morte por Betsy e Gussie, dois jovens que sobrevivem como podem, roubando comida e fazendo pequenos trabalhos. Eles vivem juntos por alguns anos, até que a cólera ataca a cidade.

A coragem e a bondade de Hope irá transformar sua vida novamente. Em meio a tanto sofrimento, pobreza e descriminação, uma menina mulher lutará com todas as forças em busca de sua felicidade.

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Para quem leu Belle, esse segue o mesmo estilo... uma desgraceira no início rs. Muito drama, muito sofrimento e desventuras na vida dessas mulheres, que tiram força sabe-se lá de onde para persistir e seguir em frente. Um romance maduro, forte e emocionante.

O grande destaque desse livro, e acredito que no trabalho da autora (apesar de só termos 4 livros dela no Brasil, Lesley tem muitos livros publicados e na maioria o título é o nome de uma mulher) são suas personagens femininas. Mulheres forjadas de muito sofrimento, que se tornam mulheres incríveis. Foi assim com Belle e é assim com Hope. Fiquei triste com a tradução tosca do título do livro, porque afinal, o título se refere ao nome da protagonista, deveriam ter mantido o título original.

A construção dos personagens é muito boa, a narrativa em terceira pessoa se alterna entre alguns deles, e aos poucos vamos conhecendo e amando ou odiando todos. Nell é outra força da natureza, uma adolescente que salvou Hope de um triste destino e ajudou sua mãe a cria-la. Uma mulher presa em um casamento terrível (nada se podia fazer naquela época), a um emprego onde doava tudo de si sem receber nenhum reconhecimento em troca, mas que buscou forças e coragem para recomeçar. Meg com seu amor e bondades infinitas, que acolheu como sua a criança de uma aristocrata, sem nunca dizer uma palavra sobre isso. Que a amou como sua até o final. Lady Harvey teve sua grande cota de sofrimento, mas não tive pena da mulherzinha com tão pouca força de vontade ou bondade.  Angus foi uma grata surpresa entre os personagens masculinos, que homem!

O romance em si foi um pouco sem sal. Bennett é um bom homem, uma ótima pessoa. Mas não senti aquela química e paixão entre eles. Esperava mais dos dois como casal.

No geral, os ricos e aristocratas são descritos de forma muito arrogante. Acho que é um excesso de generalização colocarem todos no mesmo potinho, mas em geral era isso que acontecia, a classe trabalhadora fazia tudo pelos patrões, parem terem em troca baixos salários e nenhuma consideração. Ainda bem que temos Rufus para dar uma balanceada, um menino fofo, que se tornou um rapaz incrível, trabalhador e de bom coração.

A ambientação e as descrições são excelentes. A vida na fazenda, a aristocracia local, a vida dos trabalhadores. Depois o caos de Londres, a pobreza e a imundície em que viviam os pobres da cidade. Somos transportados para o início da Guerra da Crimeia (conflito entre 1853 e 1856, de um lado o Império Russo, de outro o Reino Unido, a França e a Sardenha) e para diversos cenários em mar e em terra.

O livro tem partes bem lentas, algumas vezes descrições excessivas que me deixaram com preguiça. Mas no geral a história flui bem. A narrativa da autora é muito gostosa, mas percebi pequenas falhas de continuidade mais para o final do livro. Algumas cenas foram corridas, alguns personagens com cenas corridas e mal contadas (como o final de Albert e os surtos de Hope) e o final poderia ser melhor. Esperava mais da “grande revelação” e isso nem foi mostrado. Faltou mais do final, ou um epílogo sobre o depois de tudo aquilo.

Eu adorei a leitura! Mas faltou algo para eu amar, apesar de forte e bem triste, não chorei. É um livro cheio de grandes emoções, muitos sofrimentos e reviravoltas. Eu torci muito para que tudo desse certo e fiquei agoniada até o final. Espero que lancem outros livros da autora no Brasil, para quem curte romances mais maduros é um ótimo livro. Leiam!!
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