Uma dor tão doce - David Nicholls

>>  sexta-feira, 22 de maio de 2020

NICHOLLS, David. Uma dor tão doce. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019. 384p. Título original: Sweet sorrow.

“Mas o amor é chato. O amor é familiar e ordinário para qualquer pessoa que não participe dele, e o primeiro amor não passa de uma versão desengonçada e hormonal da mesma coisa. Shakespeare devia saber disso. Pegue uma cópia da história de amor mais famosa do mundo e segure entre o indicador e o polegar as páginas em que os amantes estão realmente felizes; não a preparação prévia, não o esforço posterior, mas o tempo em que o amor é mútuo e tranquilo. São só algumas páginas, quase um panfleto, o breve interlúdio entre ansiedade e desespero.  As confidências e intimidações dos novos amantes, o surgimento de piadas internas, as confissões de dúvidas e inseguranças, as promessas e juras. Só toleramos uma quantidade reduzida dessas coisas, e, se Shakespeare escreveu mesmo as cenas em que os amantes conversam sobre seu prato preferido, ou tiram sujeiras dos umbigos, ou explicam empolgados a letra de sua música favorita, então ele acertou ao excluí-las da segunda versão. ” p.247

David Nicholls escreve de forma muito crua e realista. Seus livros são reflexivos, tristes, engraçados, tudo ao mesmo tempo, tudo é muito “vida real” Não é um estilo que agrada a grande maioria, tanto que isso se reflete nas médias baixas de avaliação da maioria de seus romances. Eu li do autor apenas Um dia que adorei, mas já fazem muitos anos.  Hoje conto para vocês o que achei de Uma dor tão doce!

Charlie Lewis, 16 anos, passa as férias de verão evitando ficar em casa o maior tempo possível. É só ele, sua bicicleta e alguns livros. Charlie nunca foi um grande leitor, na verdade ele não se considera muito bom em nada. Razoável, é o que paira sobre ele. Nem bonito nem feio, nem burro nem inteligente, não se destaca nos esportes, desenha aceitavelmente, enfim, ele se acha uma pessoa mediana.  Depois que a escola termina, seus três amigos inseparáveis meio que somem e ele passa dias e noites solitárias. Sem faculdade pela frente, sem ideia do que fazer do futuro.

Seus pais tiveram um divórcio traumático, sua mãe saiu de casa, para morar com o novo namorado e levou a filha mais nova com ela. Para Charlie ela apena disse “Você precisa cuidar de seu pai”. E assim restou ele, e o pai... meio alcoólatra, meio depressivo e totalmente desempregado. Charlie trabalha em um posto de gasolina, no caixa, onde descobre que não entregar as “raspadinhas” de brinde aos clientes e depois embolsar os prêmios é um ótimo ganho extra, e não é roubo, afinal ele não está prejudicando ninguém, certo?

Em uma de suas tardes tediosas repletas de nada; ele conhece Fran Fisher, e isso, muda tudo! Fran tem a sua idade, estuda em escola particular e tem toda uma vida bem definida pela frente. Enquanto não vai para a faculdade, resolveu passar as férias de verão participando de um grupo de teatro, que vai encenar Romeu e Julieta. Ela é linda, inteligente, e claro, é a Julieta. Charlie se encanta pela menina e por isso, acaba aceitando fazer parte da peça. Ele consegue um papel secundário, se acha péssimo nisso, mas faz novos amigos e começa a fazer parte, de algo.  Com novas emoções, com o primeiro amor, Charlie vai encontrar uma chance de se redescobrir e ser alguém melhor.

E quem conta a história é um Charlie adulto, prestes a se casar. Que começa a relembrar um certo verão, intenso e melancólico, que moldou o resto de sua vida.

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“Mais vale um gosto do que um tostão no bolso”, não é verdade? Esse aqui vai realmente de gosto, uma tragicomédia melancólica e reflexiva sobre os tumultuados anos da adolescência. Eu pessoalmente achei um porre! hahaha. Não rolou para mim gente. Custei para terminar, achei arrastado, chato, uma lentidão que me dava preguiça, e sono rs.  Os livros do autor são realmente polêmicos e dividem opiniões.

O livro é bem escrito, ácido, com frases ora reflexivas, ora quase divertidas. Isso não dá para negar. Mas o enredo não me envolveu, as únicas partes de quem realmente gostei, foi do Charlie já adulto, e isso é apenas uma mísera parte do livro.

A narrativa é detalhada demais, um monte de informação inútil. O Charlie adolescente é um porre. São dias e dias da mesma coisa, adolescentes suados, pouco banho e desodorante, beijos babados e péssima atuação em uma peça de teatro de segunda categoria. A vida de Charlie é uma merda, coitado, mas era mesmo. Achei absurdo a mãe se mudar e deixar ele para trás, ele implorando para ir também. Ele ficava lá, sem dinheiro, sem planos para o futuro, com aquele pai inútil e uns amigos imprestáveis. Isso pelo menos melhora quando ele entra para o grupo de teatro, conheceu gente legal, fez novos amigos. Se apaixonou. Mais foram quase 400 páginas disso...

O final é morno, sem um grande ápice, o que eu não esperava depois de um livro todo morno.

Realmente não é para mim e eu não indico. Mas esse vi gente amando e gente falando mal, então vai realmente do gosto de cada leitor.  Nicholls continua escrevendo bem, mas ele precisa de mais do que belas palavras para me conquistar.

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