Não confie em ninguém - Charlie Donlea

>>  segunda-feira, 2 de novembro de 2020

 



DONLEA, Charlie. Não confie em ninguém. São Paulo: Faro Editorial, 2018. 352p. Título original: Don't believe it.



" O sangue era um problema. Eu soube assim que o senti pingar em meu rosto. Ele escorria do contorno do couro cabeludo dele e deslizava pela mandíbula, até gotejar no penhasco de granito, primeiro em gotas vermelhas esporádicas, como os primeiros pingos de chuva de uma tempestade que se aproxima, e, depois, em fluxo contínuo, como se uma torneira tivesse sido conectada no lugar da cabeça onde eu a golpeei. Foi um erro de julgamento e estratégia; uma lástima, porque até aquele momento eu agi com perfeição." p. 13



Depois de A garota do lagoUma mulher na escuridão, eu posso dizer que Charlie Donlea não é um dos meus autores favoritos no gênero. Eu gosto da narrativa, dos enredos, mas acabo sempre achando problemas no final. Mas, lá fui eu para mais uma tentativa, confiram o que achei de Não confie em ninguém



Eles estavam passando férias em Santa Lúcia, uma pequena ilha no Caribe, foram até lá com vários amigos e a família para o casamento de uma amiga. Foi assim que tudo começou, apenas uma viagem de férias para Grace Sebold, até que tudo toma um rumo inesperado e trágico. Seu namorado, Julian Crist, é encontrado morto na água, mas tudo indica que ele foi assassinado, ferido e atirado do alto de um penhasco. Ela é presa, julgada e condenada pelo crime. Depois de várias apelações sem qualquer avanço, ela ainda jura inocência.  Dez anos se passam. 



Sidney Ryan é uma jornalista que trabalha produzindo documentários baseados em fatos reais. Ela analisa casos onde uma pessoa aparentemente inocente é condenada injustamente, e procura novas provas de sua inocência. Seus três primeiros documentários reverteram sentenças judiciais, libertando pessoas inocentes. Quando recebe uma carta de Grace, que foi sua colega de escola no passado, ela decide investigar e produzir seus novo documentário. Ele seria gravado e exibido em tempo real, para uma grande rede de TV.



E é assim que Grace finalmente tem sua chance de provar sua inocência. Sidney pesquisa e começa a fazer descobertas surpreendentes. Aparentemente o inquérito foi cheio de falhas e o advogado de defesa não teve muita competência em refutá-las. Eles queriam uma condenação rápida, que não afetasse o turismo da ilha, e conseguiram.  



Os primeiros episódios vão ao ar, e o documentário se torna um campeão de audiência. Enquanto ela filma os próximos episódios, uma reviravolta pode levar a reabertura do caso.  Até que uma descoberta, muda toda a linha investigatória. Será que Grace é realmente inocente? 



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Realmente eu acho que Charlie Donlea não é para mim... ainda falta um livro do autor para eu ler, Deixada para trás (inclusive uma médica legista que aparece neste livro aparece nele também), mas ainda estou pensando se compro ou não... se alguém leu me conte se vale a pena! O meu problema com o autor é que ele SEMPRE mata a história no final. Ou é colocando um desdobramento inexplicável (A garota do lago) ou ele deixa plots sem solução e pontas soltas (Uma mulher na escuridão e Não confie em ninguém). E isso me frustra muito!! Porque o enredo é bom, a narrativa é ótima e flui muito bem, ele cria bons personagens... eu vou lendo toda empolgada e me decepciono com a lambança no final! 



Aqui não foi diferente. Tudo começa muito bem! A trama fisga na primeira página, uma mulher nova, com a vida toda pela frente, de repente presa e condenada em um país estrangeiro.  Eu adorei Grace, acreditei em sua inocência e torci muito por ela. Ela estava prestes a fazer especialização médica, dez anos depois, continua na cadeia. Deu muita pena da moça, principalmente se ela fosse mesmo inocente.  Até porque inicialmente ela aparenta ser culpada, mas eu imaginei que só podiam ter armado para ela, ninguém poderia ser tão burra assim se realmente quisesse matar alguém kkk. Sidney se encarrega de descobrir isso e logo no início já encontra vários erros no julgamento, o que deixa o leitor e o público do suposto documentário empolgado. 



O livro é todo narrado como se fosse um documentário realmente, eu achei muito interessante esse formato. Algumas vezes eu me esquecia de que não estava lendo uma história real, o autor arrasou nessa abordagem, foi tudo muito interessante. As pistas, as revelações feitas aos poucos. O livro que alterna o documentário com a pesquisa de Sidney e cenas do passado. Gostei muito de Sidney também; honesta, inteligente e dedicada ao trabalho. 



Além de toda a tensão da obra fictícia, o livro nos faz pensar. Afinal, quantas pessoas não devem realmente existir por aí, presas por um mal julgamento, condenadas sendo inocentes? Quantas pessoas não tiveram realmente seus futuros destruídos por um erro? É muito assustador a forma como alguém inocente pode facilmente ser condenado. 



Esse livro caminha para um final bombástico, eu já estava com medo (devido aos livros anteriores rs) e acabei me decepcionando aqui também. O final é bem aberto, mas isso, incrivelmente, não foi o que me incomodou. A vontade do autor de sempre surpreender e deixar o leitor de queixo caído, acaba sempre atrapalhando seus finais. Ele coloca coisas sem sentido, que não convencem um leitor mais experiente, só para impressionar. Então eu tenho certeza que muita gente amou. Mas vamos pensar um pouco neste final... 



[ALERTA DE SPOILER]  Durante o livro temos cenas de um julgamento, que imaginamos ser o de Grace pela morte de Julian. Só no final descobrimos que é na verdade o julgamento de Ellie (a médica melhor amiga de Grace), pela morte de Sidney! O plot de o tempo todo ser o julgamento pelo assassino da Sidney e não do Julian, foi muito interessante. Mas a história da morte dela e eles conseguindo escapar não cola!! Vamos pontuar:


- Sidney vai ao apartamento de Ellie, em um prédio super chique da cidade. Não tem câmera, porteiro nada? Como assim, o corpo dela demorou dias para ser encontrado na banheira?? 


- Além disso Derrick, o câmera, sabia que ela estava lá. Ela combina com ele de atrair Grace para o parque para filmar, porque ela ia lá para ficar sozinha com o irmão dela. Grace sai correndo do parque quando percebe o que está acontecendo. Ou seja, Derrick, era para ter denunciado seu desaparecimento e onde ela ia por último no mesmo dia! 


- O detetive Gus estava com ela no telefone no momento!! Não é possível que ele não percebeu nada e não chamou a polícia. 


- Eles afirmam que Ellie estava fora trabalhando. Deve ser fácil provar o plantão de uma médica. Gente, como assim!! Se tem o dia que ela morreu, a hora, porque o câmera sabe, como ela foi presa e condenada? Como não encontraram o corpo logo?  [FIM DOS SPOILERS]



Sinceramente, os finais acabam comigo, porque até chegar lá eu estou toda empolgada preparando para dar um 5... e aí caio do cavalo rs. Acho que um leitor menos acostumado com o gênero pode não perceber todos os furos, mas para quem lê muito thriller realmente não convence. Quem leu me conta se gostou! Eu gostei, mas com vários adendos rs. 



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