3096 dias - Natascha Kampusch

>>  sexta-feira, 23 de abril de 2021

 

KAMPUSCH, Natascha. 3096 dias. São Paulo: Editora Verus, 2010. 225p. Título original: 3096 tage.

"Ele incutira em mim o medo do mundo exterior, onde ninguém me amava, ninguém sentia minha falta e ninguém procurava por mim - tão profundamente que se tornara quase maior que meu desejo de liberdade." p.112

Esse é um daqueles livros que eu comprei há anos atrás e nem lembrava mais porque queria ler rs. Não-ficção é um estilo que eu raramente leio, não costumo curtir muito. Mas enfim, ele finalmente saiu da minha lista de não lidos com a ajuda do Clube das Chocólatras! Confiram o que achei de 3096 dias.

Natascha Kampusch passou por um dos destinos mais terríveis que podem acontecer a uma criança. Na Áustria, em 02 de março de 1998, com apenas 10 anos, ela foi sequestrada a caminho da escola. 

Seu sequestrador, Wolfgang Priklopil, um engenheiro de telecomunicações, era um homem pouco sociável, inteligente e com uma aparente inocência. Ele morava sozinho em uma casa enorme, recebia apenas a visita da mãe nos finais de semana. E era um homem solitário. Ele manteve Natascha em cativeiro no porão da casa. 

Com o passar do tempo, ele era tudo o que ela conhecia, toda o contato humano daquela criança. Ele era sua fonte de terror, mas também de alegria e esperança, algo difícil para qualquer pessoa compreender. Afinal, ele levava brinquedos, livros, comida e as vezes tinha gestos legais, como passear com ela no terreiro da casa, onde ela podia ver o céu. Ou deixar que ela saísse do porão para ficar dentro da casa com ele.

No início, ele cuidava dela como a criança que era. Alimentava, levava roupas, brinquedos e livros. Ensinava algo, levava presentes como uma TV, rádio etc. Mas essas poucas "gentilezas" foram dando lugar a uma tortura psicológica diária, espancamentos constantes e todo o tipo de abuso. Ela perdeu a conta do quanto apanhou, das suas muitas lesões sem tratamento. 

Natascha nunca perdeu a esperança de fugir, de voltar para seus pais, mesmo o sequestrador afirmando que ninguém mais a amava, que eles nem procuravam mais por ela. Seu pesadelo só terminou aos 18 anos, Natascha ficou em cativeiro por 8 anos, ou, mais precisamente. 3.096 dias.

"- Você não tem mais família. Agora eu sou sua família: seu pai, sua mãe, sua avó e suas irmãs. Sou tudo para você. Você não tem mais passado - insistia. Você está muito melhor comigo. Sorte sua que eu a trouxe para cá e que tomo conta de você. Você é minha agora. Eu a criei." p.114

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Uma leitura  que mexe com a cabeça e o coração do leitor.  Imaginar tudo pelo qual esta menina passou, como sua vida nunca será normal novamente... É tudo extremamente triste e pesado, angustiante. Este não é um livro para qualquer leitor! 

Por outro lado, a narrativa é seca, quase como se ela tivesse contando o que aconteceu com ela de forma muito impessoal, muito fria e crua. Apesar de triste e tão forte, e de tudo ser real, não foi um livro que me emocionou. Esperava uma narrativa mais intimista.   

Depois de sair do cativeiro, em 2006, Natascha virou motivo de curiosidade do mundo todo, a mídia enlouqueceu. Mas com o passar do tempo, ela foi tão julgada quanto o criminoso. Eles achavam que ela não sofria o suficiente, quando afirmou que não achava seu sequestrador "um monstro". Ela nega que tenha sofrido de Síndrome de Estocolmo e afirma que quando se vive só com uma pessoa durante 8 anos, ela é muito mais do que boa ou ruim. Que para ela tudo é muito mais complexo. Essa considerada empatia com o seu sequestrador, rendeu muitas críticas sobre seu comportamento.

Sua vida atual é um mistério, logo após ter alta do hospital onde esteve internada, ela insistiu em morar sozinha, comprou um apartamento. Ganhou bastante dinheiro com a publicidade em cima do seu caso. E o que mais chocou todo mundo, comprou a casa onde foi mantida em cativeiro todos aqueles anos. Ela argumenta que não queria que o local servisse para algo sórdido ou virasse um museu do seu passado. Ela não vive no local, mas é bem estranho tudo isso. Mas, quem é qualquer pessoa para julgar esta moça? 

No livro Natascha também fala sobre os diversos erros que a polícia cometeu enquanto investigava seu desaparecimento. Ela se recusa a falar de sua vida sexual em cativeiro, é um assunto que ela não toca no livro, mas fica claro que isso ocorreu, como mostram seus exames médicos depois da fuga. Não se fala quando o abuso começou, quantos  anos ela tinha; achei ótimo, porque sem isso o livro já é suficientemente pesado. 

O filme "3096 dias de cativeiro", foi lançado em 2013 e teve direção de Sherry Horman. Confiram o trailer. Eu ainda não assisti ao filme, mas quero ver.  

Apesar de não ter amado a narrativa, foi uma leitura muito interessante. Mesmo tão pesado e tão triste, eu gostei de ler algo tão diferente do que leio normalmente.  Alguém já leu ou assistiu ao filme?

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