A Abadia de Northanger – Jane Austen

>>  sexta-feira, 2 de abril de 2021


 
AUSTEN, Jane. A Abadia de Northanger. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2020. Título original: Northanger Abbey.
 
 
A Abadia de Northanger é um livro de Jane Austen publicado postumamente em 1817. Diferente de tudo que a autora já escreveu, hoje é considerado um exemplo dos dotes literários de Austen com suas doses equilibradas de sátira, ironia e humor ao gênero dominante da literatura da época, a escrita gótica. Embora o livro não esteja na mesma categoria de “Orgulho e Preconceito” ou “Razão e Sensibilidade”, uma leitura cuidadosa pode revelar muitos sinais da grande autora que Austen se tornaria.
 
Nas minhas resenhas de Jane Eyre e Rebecca eu cheguei a introduzir as características deste gênero literário, e ressalto as mais marcantes:

  • Cenário misterioso e sombrio, comumente em enormes mansões;
  • A presença ou o medo da presença de monstros e fantasmas;
  • Maldições ou profecias;
  • A donzela em perigo;
  • Romance;
  • Emoções intensas.

É importante ter esse conhecimento prévio antes de ler A Abadia de Northanger, pois Austen construiu uma história focada em explorar e satirizar o lado do romance gótico, famoso pelas mãos de autores como Ann Radcliffe em Os Mistérios de Udolfo, citado na obra.
 
Catherine Morland, no auge dos seus 17 anos, tem uma vida comum e que seria tediosa se não por sua fértil e vívida imaginação, que ela faz questão de exercitar em todas as pequenas oportunidades que aparecem. Filha de um clérigo, ela é uma verdadeira “heroína em treinamento”, e é fã de literatura, especialmente romances góticos.
 
Até que um dia, surge uma chance de ouro: Seus vizinhos, os Allen, decidem passar as férias em Bath e as convidam para acompanhá-los durante seis semanas. Bath, uma cidade histórica no sudoeste da Inglaterra (muito próxima da minha queria Bristol e onde Austen viveu muitos anos de sua vida), até hoje é conhecida por construções romanas, especialmente os banhos e retém uma fama de ser um lugar saudável e propício para o descanso. Na época, era um dos centros da sociedade britânica, e estar em Bath significava ser vista, conhecida e admirada por pessoas de nome e reputação ilibada. Ou seja, um ótimo lugar para encontrar um marido. A Sra. Allen é bastante vaidosa e faz questão de se preparar para ocasiões sociais, o que representaria à Catherine a sua chance de debutar de uma maneira vistosa.
 
Logo no início da história, a menina é apresentada ao jovem cavalheiro Henry Tillney, com quem desenvolve uma amizade e até mesmo alguns sentimentos amorosos, mas ainda leves. Ela também conhece Isabella Thorpe, uma jovem animada e que gosta de um bom e leve flerte, e as duas rapidamente se tornam amigas. O irmão de Isabella, John é colega do irmão mais velho de Catherine, James. Ou seja, como toda tradicional sociedade, todo mundo se conhece e no final todos viram amigos. Inclusive, a proximidade entre as meninas aumenta ainda mais quando James começa a namorar Isabella.
 
Os Thorpe, a família de Isabella e amigos íntimos dos Allen querem de todo jeito juntar Catherine e John e logo torcem o nariz para o relacionamento da moça com Tillney. Inclusive, Catherine passa por poucas e boas tentando manter um bom relacionamento com as duas famílias. Mas o tempo, nosso bom e velho amigo, acaba por fazer Catherine se afastar de Isabella e aproximar dos Tillney, que acabam convidando a moça para passar algumas semanas na Abadia de Northanger.
 
E aí o gênio satírico e irônico de Jane Austen aparece!
 
As abadias, conforme aparecem nos romances góticos, são lugares exóticos, misteriosos, obscuros e dignos de desconfiança. Essa abadia é bem clara, agradável e definitivamente não gótica.  Porém, a casa possui uma ala onde as pessoas jamais vão. Catherine, fã do gênero, não demora a dar asas a sua imaginação e, na escuridão da noite, cria um cenário em sua mente. Afinal, o que aconteceu com a esposa do general Tilney, a mãe de Elenor e Henry? Tinha alguma coisa a ver com a parte da abadia onde eles não podem ir?
 
As vezes um livro é apenas um livro, e romances, embora deliciosos, não acontecem do jeito “final feliz” das páginas que lemos. Essa é a lição de A Abadia de Northanger, um livro que demonstra desde já a leveza de Austen para tratar de assuntos tão sérios, como o tédio da vida na alta sociedade e os problemas do casamento por interesse. Esses temas são retratados quase como caricaturas pelos personagens secundários, como o General Tillney e os irmãos Thorpe. O que Austen acerta é em jamais “pesar a mão” nas críticas. Ela observa situações em seu cotidiano e encaixa os temas em suas histórias, as vezes como características e desenvolvimento de personagens. Vemos isso claramente em todas suas obras e não é diferente neste livro. Aqui, inclusive, considero o enredo leve, engraçado e até um pouco de partir o coração: a história da menina que descobre o amor e as obrigações da vida adulta e deixa de lado os livros e a imaginação. Porém, temas sociais estão sim mesclados em toda a obra, o que poucos autores conseguem fazer com tanta leveza e eficiência.
 
O livro definitivamente não é tão bom quanto Orgulho e Preconceito ou Razão e Sensibilidade, mas e daí? A Abadia de Northanger está repleta da perspicácia, sabedoria e observações de Austen sobre a sociedade. É uma leitura leve e gostosa e engraçada para quem conhece os detalhes e absurdos das aventuras góticas.
 
É divertido, um jeito diferente da Austen consagrada. Uma Austen que seus fãs certamente vão gostar de descobrir!
 
 
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Avaliação (1 a 5):


 




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