O Misterioso Caso de Styles – Agatha Christie

CHRISTIE, Agatha. O Misterioso Caso de Styles. Rio de Janeiro: Editora Globo Livros, 2014. 226p. Título original: The Mysterious Affair at Styles. 

Agatha Christie é uma autora que sempre esteve presente em minha vida. Seja nas leituras rápidas de saguões de espera de aeroportos, seja explorando bibliotecas antigas de tias distantes, algum livro dela sempre acabava em minhas mãos para ser devorado sem qualquer parcimônia no mesmo dia. Minha relação com suas obras sempre foi uma obra do acaso, sem jamais planejar para ler os livros ou ao menos consultar sua biografia. O desejo de conhecer toda a obra foi algo que veio aos poucos e, ao conversar sobre o assunto com a Nanda, descobri que em 2009 ela teve a mesma ideia: ler todos os livros da autora e na sequência do lançamento. Ela começou aqui o PROJETO AGATHA CHRISTIE, que nada mais era um compromisso de ler todos os livros sem pressa e ao sem tempo. Sem uma companhia, ele foi parado na terceira obra. Foi o suficiente para plantar a sementinha na minha cabeça, a ideia de que eu deveria ler a bibliografia completa dessa autora que redefiniu um gênero e une todas as tribos, essa mulher que conseguiu feitos inalcançáveis e ser praticamente incontestáveis. Em outubro de 2021 finalmente iniciei essa jornada que começa em O MISTERIOSO CASO DE STYLES. 

Antes de começar essa minha viagem sem muita pressa e que certamente tomará alguns anos da minha vida (assim espero), fui pesquisar um pouco mais sobre a autora. Não faltam artigos na internet sobre sua influência e sua vida, e indico a vocês especialmente o Podcast do projeto #LiteratureIsGreat do Consulado Britânico no Brasil. Eles lançaram episódios curtos sobre a vida e a obra de celebrados autores britânicos, e a Dama do Crime, a autora mais vendida da história, foi o tema do episódio 3 da série. Eu recomendo a escuta (e vocês podem acessar AQUI), especialmente por trazer o curioso caso do desaparecimento de Christie nos moldes de seus romances, algo muito interessante. Enfim, toda minha leitura e pesquisa me mostrou que escrevendo antes, durante e depois da 1ª Guerra Mundial, antes durante e depois da 2ª Guerra Mundial, ela soube como ninguém se renovar e observar as mudanças da época. É isso que pretendo analisar nos livros. E me divertir, como quero me divertir! 

O MISTERIOSO CASO DE STYLES é o seu primeiro livro lançado, aquele que abriu as portas da dinastia dos romances policiais. Escrito a partir de 1916, ele foi lançado em 1920 nos Estados Unidos e em 1921 no Reino Unido, uma época um tanto quanto diferente dos romances policiais de hoje, cheio de tecnologias. Era um mundo diferente, ainda sofrendo com a 1ª Guerra Mundial sem a dinâmica trazida pela 2ª Guerra e a Guerra Fria. E mesmo assim ele se sustenta incrivelmente bem. Ele nos apresenta ninguém menos que Hercule Poirot, aquele que viria ser seu personagem mais retratados e um dos mais famosos da literatura mundial. Baseado em refugiados belgas que a autora conheceu quando voluntariava na 1ª Guerra Mundial, temos uma senhora apresentação do carismático personagem. Ao contrário do que faz Arthur Conan Doyle com seu Sherlock Holmes (cuja resenha de Um Estudo em Vermelho vocês conferem AQUI), Christie habilidosamente já apresenta todas as características de Poirot e o faz um personagem completo digno de uma série de livros desde o momento em que ele é apresentado. 

O livro nos apresenta à dinâmica da casa Styles Court e seus habitantes, que na manhã de 18 de julho acorda com a notícia que a idosa proprietária e matriarca Emily Inglethorp foi encontrada morta envenenada. Vendo o mistério e as curiosas circunstâncias dos acontecimentos, Arthur Hastings, um soldado da Frente Ocidental que está hospedado na mansão, vai até a aldeia vizinha para pedir a ajuda de seu amigo Hercule Poirot. Ora, Emily era uma mulher rica e que sabia guardar rancor, conhecida por frequentemente alterar seu testamento. Entre a família temos Alfred Inglethorp, um homem mais jovem com quem ela se casou recentemente; seus enteados (do casamento anterior do primeiro marido) John e Lawrence Cavendish; a esposa de John, Mary Cavendish; Cynthia Murdoch, filha de um falecido amigo da família; e Evelyn Howard, a governanta da casa.

Poirot descobre que John herdaria a propriedade devido ao testamento do pai, mas o dinheiro que a Sra Inglethorp herdou seria distribuído de acordo com seu próprio testamento, o mais recente favorecendo Alfred. Ao entrevistar os moradores e empregados, Poirot descobre que no dia do assassinato, Emily estava discutindo com alguém, o que a deixou angustiada a ponto de fazer um novo testamento, ainda não encontrado. Há algumas outras informações sobre trancas, objetos, portas, janelas e o quarto em si, mas, em suma, ninguém sabe explicar como ou quando o veneno foi administrado a ela. Cabe à Poirot usar suas habilidades de observação e suas perguntas mais estranhas possíveis para tentar desvendar esse curioso crime. 

Eu mal consigo acreditar que esse é o primeiro livro da autora! Aqui, ela demonstra um controle absurdo e um talento nato para narrativas. Ela jamais perde o fio da meada e estamos presos desde as primeiras palavras. A história tem um bom desenvolvimento: inicialmente conhecemos um pouco da casa (mais uma casa literária, que acaba virando uma personagem da história) e da dinâmica familiar. Em seguida, temos uma descrição detalhada da cena do crime, para então sermos apresentados ao Sr. Poirot, com toda sua eloquência e peculiaridades que o fazem um personagem querido por tantos. Depois, segue-se a investigação, tanto da polícia quanto de Poirot, com algumas revelações que nos fazem cada hora apontar o dado para um lado. Quem é o culpado? O que te fez chegar a essa conclusão? Muitas são as pistas e os caminhos, que nos levam a ato final do livro, a conclusão. Eu não acertei e não tenho qualquer esperança de acertar nos 43 livros seguintes de Poirot que virão. Mas eu me diverti no processo, e era tudo o que queria! 

Encontrei uma crítica à época do lançamento do livro, em 1921, que dizia que “a única falha dessa história é que ela é quase engenhosa demais”. Eu concordo plenamente: ao nos mostrar ao que veio, Christie parece ávida em preparar o melhor cartão de visitas possível, mas ficou um pouco demais. Eu acredito que a história no final acabou dando muitas voltas e reviravoltas e mais voltas de novo que, embora divertidas, foram um pouco demais. Mesmo assim, estou intrigada para saber o que mais Christie tem em seu arsenal, já que de cara ela nos entregou envenenamento, disfarces, brigas familiares, intrigas de empregados, investigação policial e muitas coisas mais. 

Que venham os próximos!

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Série Hercule Poirot 

1. O Misterioso Caso de Styles (The Mysterious Affair at Styles), 1920 

2. Assassinato no campo de Golfe (The Murder on the Links), 1923 

3. Poirot Investiga (Poirot Investigates), 1924 

4. O Assassinato de Roger Ackroyd (The Murder of Roger Ackroyd), 1926 

5. Os Quatro Grandes (The Big Four), 1927 

6. O Mistério do Trem Azul (The Mystery of the Blue Train), 1928 

7. Café Preto (Black Coffee), 1930 

8. A Casa do Penhasco (Peril at End House), 1932 

9. Treze à Mesa (Lord Edgware Dies), 1933 

10. Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express), 1934 

11. Tragédia em Três Atos (Three Act Tragedy), 1935 

12. Morte nas Nuvens (Death in the Clouds), 1935 

13. Os Crimes ABC (The A.B.C. Murders), 1936 

14. Morte na Mesopotâmia (Murder in Mesopotamia), 1936 

15. Cartas na Mesa (Cards on the Table), 1936 

16. Assassinato no Beco (Murder in the Mews), 1937 

17. Poirot Perde uma Cliente (Dumb Witness/Poirot Loses a Client), 1937 

18. Morte no Nilo (Death on the Nile), 1937 

19. Encontro com a Morte (Appointment with Death), 1938 

20. O Natal de Poirot (Hercule Poirot’s Christmas), 1938 

21. The Regatta Mystery and Other Stories, 1939 (Não lançado no Brasil) 

22. Cipreste Triste (Sad Cypress), 1940 

23. Uma Dose Mortal (One, Two, Buckle My Shoe), 1940 

24. Morte na Praia (Evil Under the Sun), 1941 

25. Os Cinco Porquinhos (Five Little Pigs), 1942 

26. A Mansão Hollow (The Hollow), 1946 

27. Os Trabalhos de Hércules (The Labours of Hercules), 1947 

28. Testemunha de Acusação e Outras Histórias (The Witness for the Prosecution and Other Stories), 1948 

29. Seguindo a Correnteza (Taken at the Flood), 1948 

30. Os Três Ratos Cegos e Outras Histórias (Three Blind Mice and Other Stories), 1950 

31. Poirot Sempre Espera e Outras Histórias (The Under Dog and Other Stories), 1951 

32. A Morte da Sra. McGinty (Mrs McGuinty’s Dead), 1952 

33. Depois do Funeral (After the Funeral), 1953 

34. Morte na Rua Hickory (Hickory Dickory Dock), 1955 

35. A Extravagância do Morto (Dead Man’s Folly), 1956 

36. Um Gato entre os Pombos (Cat Among the Pigeons), 1959 

37. A Aventura do Pudim de Natal (The Adventure of the Christmas Pudding), 1960 

38. Double Sin and Other Stories, 1961 (Não lançado no Brasil) 

39. Os Relógios (The Clocks), 1963 

40. A Terceira Moça (Third Girl), 1966

41. A Noite das Bruxas (Hallowe’en Party), 1969 

42. Os elefantes não esquecem (Elephants Can Remember), 1972 

43. Os Primeiros Casos de Poirot (Poirot’s Early Cases), 1974 

44. Cai o Pano (Curtain), 1975 

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