Dando um tempo - Marian Keyes
>> segunda-feira, 22 de outubro de 2018
KEYES, Marian. Dando um tempo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2018. 588p.
Título original: The Break.
“Então deito na cama, pronta para o
trabalho, e deixo que ele me tome nos braços. Nós nos abraçamos apertado, e
seus braços esmagam tanto minhas costas que chega a doer. Enterro o rosto em
seu pescoço, tentando capturar o cheiro de seu cabelo, de sua pele, de seu
hálito, sabendo que isso terá que me bastar pelos próximos 181 dias. Talvez
para sempre.
O rosto dele está manchado de
lágrimas, e sinto uma ânsia de ajudá-lo. Mas a única maneira de fazer isso é deixa-lo
partir.
Minha garganta doí. Eu me solto de
Hugh e desço as escadas correndo. Fecho a porta da frente às minhas costas,
enjoada com a ideia de que, na próxima vez que abri-la, meu marido terá sido
engolido por uma vida desconhecida do outro lado do mundo. O ar do início da
manhã está fresco e cheira a outono, dando ainda mais a sensação de que tudo
está escurecendo e morrendo.” p. 116
Ai ai, como eu estava com saudade dos
livros da Marian
Keyes! Já li todos os livros da autora, alguns mais de uma vez, e sou fã do
seu trabalho. Seus chick-lits estão mais maduros nos últimos anos, e a única
coisa que tenho para reclamar... é que ela demora em média 2 anos para lançar
um livro, e eu sofro com isso hehe. Então, confiram o que achei de seu novo
livro no Brasil, Dando um tempo.
Amy O’Connell, 44, é casada com Hugh, 46. Eles estão juntos há
dezesseis anos. O casal cria suas três filhas em uma casa alegre e tumultuada.
A mais velha, Neeve Aldin, tem 22
anos e é filha do casamento anterior de Amy; ela ainda mora com a mãe e nunca
aceitou Hugh como pai. Seu pai biológico, Rick
Aldin, é um jogador de futebol famoso que abandonou Amy com uma Neeve ainda
bebê e deu uma miséria de pensão para as duas. Neeve tem um canal no Youtube
famoso e vive para esse “trabalho”. Kiara
tem 16 anos, e é a filha boazinha, madura, o sonho de todos os pais. E Sofie, 18, é filha do irmão de Amy, Joe, mas que mora com eles desde
pequena; Joe se separou da mulher, Urzula,
e deixou a coitada na mesma situação em que Amy fora deixada um dia. Com uma
criança praticamente abandonada pelos pais, Amy leva Sofie para morar com ela. Amy é publicitária, tem uma empresa com mais
dois sócios e amigos, e uma vida plena e feliz. Ou, pelo menos, era isso o que achava.
Com três filhas adolescentes, um trabalho
que toma muito do seu tempo, um pai doente e as loucuras de uma família grande,
sua vida é sempre muito corrida. Ela e Hugh são melhores amigos, estão juntos
para o que der e vier... Até que seu marido avisa que precisa dar um tempo –
dela. Durante seis meses ele quer viajar pela Ásia, sem destino cento, fazendo
um mochilão. E pior, ele diz que quer fazer o que quiser, com quem quiser.
Promete que vai voltar após os 6 meses, jura que a ama, que a culpa não é
dela... e vai embora.
A vida de Amy vira uma loucura depois
disso. Todos da família sabem o que aconteceu, as vizinhas fofoqueiras, as suas
“amigas”, todos tem muitos palpites para dar sobre a situação. E ela tem três
filhas para proteger de tudo isso. Amy tenta ser positiva, dar esse tempo a
Hugh e esperar por sua volta. Ela entende que o marido passou por um longo
período de luto, após perder o pai intempestivamente e nunca se recuperou. Sua
mãe Lilian, 72, e suas irmãs Maura, 51, e Derry, 42, tem muitas opiniões a respeito. Seus sócios Alastair e Tim, tentam dar o tempo que ela precisa para se recuperar.
Mas Amy não sabe o que fazer. Permanecer
leal ao seu marido ausente e desleal? Acreditar que ele vai voltar depois desse
período? Arrumar um amante e fazer o mesmo que o canalha? E suas filhas? Muita
coisa pode acontecer em seis meses. Quando Hugh voltar, se voltar, será que ele
será o mesmo homem com quem se casou? E ela estará esperando por ele? Será que
ainda, Hugh é o único culpado de tudo o que está acontecendo? E se ele está
dando um tempo dela, ela também está dando um tempo, não é?
~~~~~~~
Esse é com certeza o livro mais maduro da
autora. Ele não tem aquelas piadas bobas e vergonha alheia dos primeiros livros
da Marian, mas mesmo assim consegue alternar uma história forte e bem
dramática, com momentos divertidos e descontraídos. É uma história muito realista, muito vida
real. São inúmeros personagens, todos muito complexos, repletos de defeitos e
qualidades. A leitura foi uma montanha russa para mim, eu amava Amy, odiava Hugh,
no meio do livro eu já estava amando Hugh, com raiva de Amy, no final estava
apaixonada por cada um dos personagens.
Os personagens são a alma desse livro. O
enredo é simples, Hugh pediu esse tempo por 6 meses, promete voltar no final, é
isso. Mas a história de cada um, o que aconteceu antes, durante e depois desse “tempo”,
muda tudo. Amy é uma mulher forte, amorosa e as vezes insegura. Ela criou Neeve
sozinha, depois de ser abandonada pelo traste do ex-marido. Estava longe de
casa e da sua enorme família, que morava na Irlanda. Depois ela conheceu Hugh,
engravidou, e eles se casaram. Ele criou com muito amor a enteada, a filha e
depois a sobrinha de Amy. Lilian, mãe de Amy, rouba todas as cenas! A parte
divertida do livro fica por conta dela e de Neeve. A menina é um porre no
início, eu queria dar uns tapas nela pela forma que ignorava a mãe e que
tratava Hugh. E como era obcecada por um pai, que não estava nem aí pra ela. Sofie
da vontade de colocar num potinho e proteger, ignorada pelo pai, que casou de
novo, tem três filhos e não liga pra ela. A mãe biológica é uma maluca, que
vive anoréxica, com dietas malucas e passou para filha seus distúrbios
alimentares. Kiara é uma fofa!
No início do livro eu queria matar Hugh,
porque até ele fazer essa loucura, ele era o pai e o marido perfeito. Eles eram
ótimos juntos, e aí ele some. Passei um bom período do livro achando que Amy devia
dar logo um pé na bunda dele. Depois disso, Amy começa a contar coisas do
passado, que me fizeram ter raiva dela e perdoar Hugh, parcialmente rs. E no
final... eu nem sabia mais pelo que torcer.
O legal de Marian é que ela sempre
constrói muito bem todos os personagens, protagonistas e coadjuvantes, e vai
construindo o cenário aos poucos. No começo a gente julga Hugh pelo que ele
fez, mas depois vai entendendo mais sobre o relacionamento deles. Como ele era
um grande homem, até fazer a merda que fez. E a pergunta é: Essa pessoa merece
perdão? Todos os anos dele sendo um ótimo marido, podem fazer com que Amy
perdoe a merda toda que ele fez? E Amy também, que não era lá tão certinha
assim, vai entender o que realmente quer?
São personagens mais maduros, que acreditavam
ter a vida já bem resolvida. E agora, como seria voltar a ser solteira
novamente? O conceito de solidão, é muito mais palpável nesse caso.
Gostei muito dos temas trabalhados, do
romance mais maduro. Não é daqueles que o leitor morre de rir ou suspira pelo
casal, mas é um romance forte e uma história interessante e questionadora.
Eu adorei a leitura, e indico muito esse
livro! Leiam! E não deixem de me contar
o que acharam! ^^
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Avaliação (1 a 5):