Precisamos Falar Sobre o Kevin – Lionel Shriver
>> segunda-feira, 4 de novembro de 2019
SHRIVER, Lionel. Precisamos falar sobre o Kevin. Rio de Janeiro:
Editora Intrínseca, 2007. 464p. Título original: We need to talk about Kevin.
Normalmente eu começo as minhas resenhas com uma
sinopse. Normalmente sendo a palavra chave. A questão é que esse livro foge de
todos os níveis de normalidade. Tudo o que envolve o Kevin é da mais complexa
peculiaridade. E é por isso que definitivamente precisamos falar sobre o Kevin.
A história é minunciosamente contada por Eva
Katchadourian, mãe do Kevin. E começa do início: como ela conheceu e se casou
com o marido, Franklin, a vida profissional bem-sucedida, e as dúvidas sobre
ter ou não filhos. Após o nascimento de Kevin, Eva relata seu relacionamento
com o bebê, seus comportamentos, suas características e as nuances de sua
relação com a sociedade, as babás e especialmente o pai. Kevin nunca foi uma
criança normal aos seus olhos, mas queria ela enxergar razões para o que está
por vir? Seria Kevin realmente uma criança diferente, ou seria um menino amável
e amado, que nem o pai insistia... Acho que nunca saberemos, mas cabe a Eva
ponderar, e a nós sermos testemunhas de seu eterno estigma: o que aconteceu com
o Kevin. Como aconteceu. De quem foi a culpa. O que ela fez de errado. Até
quando uma mãe é responsável.
Lionel Shriver consegue tecer cuidadosamente e
morosamente uma trama envolvente, embora perturbadora. Tudo o que meche com
nossa consciência social, nossa noção de certo e errado e empatia é bastante
delicado. Junte isso com as reflexões de uma mãe do lado que a história nunca
conta e temos algo novo, inusitado e, de certa forma, brilhante.
A escrita realmente é o ponto forte do livro. Poucas
vezes vi algo tão bem feito e elaborado. O leitor realmente consegue se
envolver com todos seus sentidos na história, que incomoda e intriga em uma
balança que custa a se estabelecer. O início é maçante e devagar, e provavelmente
vai afastar diversas pessoas, mas o livro engrena. Quando Kevin entra na
equação, é irresistível. É a mesma coisa que passar um acidente na estrada e
andar devagar para observar tudo: nossos instintos humanos adoram ao mesmo tempo
que repudiam um desastre. E Kevin é isso: ele é um desastre ambulante, uma
incógnita sem solução, uma caixa de pandora. Ao mesmo tempo, Kevin repudia, dá
medo, enoja, choca. Mas você não consegue tirar os olhos.
Temos aqui um livro que não é para qualquer um,
mas que me intrigou. Eu tenho certeza que nunca vou esquecer o que li, o que
senti e o que vivi nesta história. E isto para mim é um tremendo sucesso. O
único problema é a narrativa lenta do início, especialmente as conexões com o
passado dos pais de Kevin. Isso poderia ser muito melhor.
Para quem se interessar, o filme baseado no livro
foi lançado em 2011, e conta com Tilda Swinton e Ezra Miller no papel de Kevin,
o que iniciou sua meteórica carreira em Hollywood.
Não é para todos os gostos, mas se você gosta de
tramas densas, com diversos elementos psicológicos e jogos de moral e ética,
está muito bem servido!
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