Tempo de Graça, Tempo de Dor - Frances de Pontes Peebles
>> quarta-feira, 11 de dezembro de 2019
PEEBLES, Frances de Pontes. Tempo de Graça, Tempo de Dor. São Paulo: Editora Arqueiro, 2019. 368 p. Título original: The air you breathe.
Estava
muito ansiosa por esta leitura desde que li Entre irmãs, livro da mesma autora
que esteve entre os meus 10 queridinhos de 2018. Deste modo, é claro que a expectativa
estava nas alturas para saber se eu ia curtir também este livro da autora. Sem
mais mistérios, descubram o que eu achei de Tempo de graça, tempo de dor.
Maria
das Dores, Das Dores, Jega ou Dor, é uma moça com uma vida nada fácil. Quando
nasceu, quase foi deixada em um canavial para morrer. Quase. Ela foi salva
quando foi levada para a casa-grande da fazenda Riacho Doce e deixada com a
cozinheira da família Pimentel, dona da fazenda e dos pés de cana. Nena, a
cozinheira, decidiu cuidar e criar Maria das Dores e assim ela cresceu sendo
Jega. Desde pequena, ela ficou ajudando Nena na cozinha da casa, até que, um
pouco mais velha, foi levada para trabalhar na frente da casa, cuidando e
brincando com a filha do dono da casa, Graça. Foi aí que começou uma grande
amizade.
Graça,
a filha única do casal Pimentel, foi ousada desde criança, queria ser
importante, ser vista, queria atenção. Sempre enfiava Maria das Dores em suas
aventuras. Elas eram inseparáveis. Um
belo dia, elas descobrem que não só de travessuras se vive a vida, mas também
de música, e passavam horas e horas ouvindo discos e cantando juntas. Certa vez,
graças a mais uma travessura de Graça, as duas vão parar no Rio de Janeiro e
ali, nos cantos obscuros da Lapa e em toda a sua boemia, Graça e Dor vão
encontrar o seu lugar no mundo, no amor e na música.
~~~~~~
A
narrativa é feita exclusivamente por Das Dores, sendo, basicamente, um livro de
memórias dela. Cada capítulo é iniciado com a letra de uma música composta por
Das Dores; em seguida, o texto se inicia
com o presente, depois memórias de um passado mais recente e memórias desde que
Das Dores era criança, passando por sua juventude com Graça, a vida adulta e a
velhice.
Alguns
pontos me chamaram bastante atenção ao longo da leitura. Primeiro, a forma
poética como a autora vai nos revelando a história. Lendo tantas frases de
arrepiar, fiquei emocionada em vários momentos com a profundidade do que Das
Dores dizia e até mesmo pensava. Cada frase, pensamento, carregado de
significado e que coloca o leitor para pensar.
Outro
ponto, ou pontos que chamaram a minha atenção foram os cenários onde a história
se passa. Não há como não se imaginar subindo até o Cristo Redentor e depois
indo parar na Lapa em um Rio de Janeiro de tantas décadas atrás, e, principalmente,
não tem como não ficar com vontade de conhecer (no meu caso rever) esses
lugares.
Até
aqueles cenários hollywoodianos que vemos em tantos filmes (O artista é que o
diga!) voltaram à minha mente lendo este livro. Fiquei me sentindo em um
roteiro cinematográfico e já querendo que alguém produza e adapte esta
história para as telonas ou para os serviços de streaming com urgência.
Mais
um ponto que chamou a atenção?! Temos! E é a música! Falar de música
brasileira, do surgimento do samba, de tantos outros estilos que marcaram a
história musical de nosso país me deixou ainda mais emocionada! Fiquei
imaginando Graça como Carmen Miranda, embora não conheça muito a história de
vida da cantora, apenas ouvi algumas músicas. Achei muito bacana a autora
trazer nossa cultura musical em um livro que sei que vai ser mundialmente lido.
Por
fim, um ponto ainda mais interessante é a carga histórica que a autora traz
para suas histórias. Enquanto em Entre irmãs tínhamos o sertão nordestino, com
a questão do cangaço e da pobreza do sertanejo, em Tempo de Graça, Tempo de Dor
temos a Segunda Guerra Mundial, a ditadura no Brasil (tanto a varguista quanto
a militar), a bomba atômica, dentre vários outros contextos históricos que
ajudaram a compor a história e a torná-la ainda melhor!
Falando
um pouco dos personagens, embora eu tenha sentido vontade de dar uns tabefes de
vez em quando em Das Dores – ou Dor, o apelido de que mais gostei – nem se compara com a
relação de amor e ódio (mais ódio do que amor) que tive com Graça ao longo da
história. Meu Deus do céu! Foi muito difícil lidar com ela, suas atitudes, as
coisas que ela fazia, as decisões que ela tomou (do início ao fim, mas uma em
específico me deixou bem chateada).
Vinícius
não me conquistou, embora tenha torcido por ele e por Dor a maior parte do
tempo.
Os
rapazes do bando da Lua Azul são personagens secundários que até dão o que
falar às vezes, eles têm mais uma participação musical importante do que qualquer
outra coisa, rs. Mais para o final é que a participação deles ganha ainda mais
força e importância. Adorei a participação de cada um deles.
O
pai de Graça é tão amável quanto ela, a filha teve a quem puxar, rs. Ô
sujeitinho... Já Dona Aurora, mãe de Graça, parecia ser uma das poucas pessoas
a entender quem realmente era Das Dores.
Madame
Lúcifer, embora uma pessoa de dar medo – pelo nome já se percebe –, acabou
ganhando seu espaço.
A
relação de Dor e Graça me deixou em um turbilhão de sentimentos que perdurou
muito tempo depois que terminei de ler e me atinge até este momento, enquanto
escrevo esta resenha. Queria que Das Dores acreditasse mais em si mesma sem
Graça junto dela. Tanto apego e ao mesmo tempo tanta inveja, rivalidade,
egoísmo!
Mas
é esse misto de sentimentos entre as personagens que faz a história render e
nos fazer avançar as páginas querendo mais e mais. E, claro, o amor à música. Embora
eu tenha gostado mais do título em inglês, é fácil perceber que o título em português
faz total sentido.
É
uma história que indicarei para todo mundo! Digo que não exatamente perde para
minha outra paixão, Entre irmãs, afinal são histórias completamente diferentes.
Vou dizer, então, que vocês aproveitem, para comprar este
livro e levar logo os dois de uma vez. Vocês não vão se arrepender! Leiam!
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Avaliação (1 a 5): 4.5