Anna Karênina – Leon Tolstoi

>>  sexta-feira, 4 de novembro de 2022


TOLSTOI, Leon. Anna Karênina. São Paulo: Martin Claret, 2019. 858p. Título original: Анна Каренина.
 
Anna Karênina, um clássico da consagrada literatura russa, é um dos maiores exemplares do realismo russo, escrito por Leon Tolstoi. Essa conhecida obra foi a escolhida para a 17ª Leitura Coletiva do Blog Viagem Literária. Como vocês já sabem, o projeto da Leitura Coletiva possibilita a leitura de clássicos da literatura mundial com metas curtas e promovendo uma descontraída interação entre os participantes, compartilhando impressões, ideias e expectativas. Mais uma vez nos aventuramos na literatura russa com um livro que entrega diversas camadas e discussões ao mesmo tempo em que não perde o caráter novelístico de uma trama engajante. Publicado como serial entre 1875 e 1877 e a obra completa em 1878, o livro conta a história de uma mulher que desafiou as expectativas de comportamento da sociedade ao se entregar publicamente a um caso extraconjugal.
 
Anna Karênina é uma leitura que está marcada a ferro e fogo na minha mente. Lembro exatamente onde estava quando comprei meu surrado exemplar, o que fazia quando li o livro e como a história me marcou. Correndo risco de parecer uma garotinha rica e mimada (longe de mim, acreditem), o livro me encontrou em 2005, quando fazia uma visita de dois dias a Nova York, na única vez que visitei a cidade. Em uma feira de livros não tão bem cuidados por seus antigos donos, a capa da Oxford World Classics me conquistou ao retratar uma mulher que parecia um pouco entediada e muito triste, mas ao mesmo tempo inerte. O livro voltou na mala comigo para o Brasil, onde li ainda naquele ano, na minha fase de reencontro com a literatura após uma longa ressaca literária.
 

Não foi meu primeiro exemplar da literatura russa, nem o meu primeiro Tolstoi. O meu encontro com o autor se deu em “Memórias”, um livro que também ficou marcado a ferro e fogo e que guardo com muito carinho na minha memória (e a ironia não me escapa). Esse encontro inicial se deu em 2002 e sabia que eventualmente eu me depararia com outra obra do autor. Anna Karênina me escolheu, com sua capa surrada e a lembrança de uma viagem inesquecível. Foi um dos primeiros livros que li inteiramente em inglês, o que me surpreendeu, pois achei que não fosse conseguir. A edição preza muito mais pela economicidade do que pelo conforto do leitor – letra minúscula, páginas finas, diagramação reduzida... Além do tamanho, um belo de um calhamaço. Enfim, o livro corria o risco de virar um “peso de papel” de estimação em minha mesa, mas não foi esse o caso. Encontrei uma história fluida, bem desenvolvida, que não “emperra” ou desagrada o leitor, sempre curioso para avançar. 15 anos depois, ao ler meu terceiro Tolstoi com “Guerra e Paz” pude perceber que essa é uma característica marcante do autor. Ele preza pela narrativa “interessante”, com um quê novelesco, que prende o leitor e o faz querer continuar. Enquanto “Guerra e Paz” será objeto de uma resenha futura, vamos àquela que jamais esqueci: Anna.
 
Temos a protagonista, Anna Arkadyevna, mulher que se casou com Alexei Alexandrovich Karenin, um homem vinte anos mais velho. Como rege as regras sociais e os bons costumes, ela obedientemente teve um filho e, assim, se estabeleceu em uma vida de eventos sociais e roupas extravagantes, com liberdade de preocupações financeiras. E talvez fosse assim para todo o sempre, se ela não tivesse conhecido o conde Alexei Kirillovich Vronsky, que a fez querer algo diferente, uma felicidade que ela nem sabia ser possível, e se sentiu em quase uma obrigação de buscar algo mais, uma outra vida.
 
Seu marido era apaixonado por ela, ou sentia uma possessão que pode ser confundida por amor (eu realmente não sei dizer ao certo o que), e todos que a conheciam, homens ou mulheres, eram marcados por sua presença. O fato é que esse relacionamento, talvez pela diferença de idade ou pela própria criação, não trazia uma vida a dois apaixonante e empolgante. E Anna sentia falta disso, algo que encontrou em seu amante. E descobriu uma força de viver por suas regras e de seu jeito que superava todas as outras forças internas, sejam elas sociais ou até mesmo maternais. E vamos navegando essa história de desafios, contravenções, intrigas sociais e decisões com muitos, mas muitos trens envolvidos.
 
Eu jamais esqueci Anna pois ela é inesquecível. Lembro de ler sentindo um ódio mortal por suas escolhas e decisões, a ponto de bufar em frustração por suas escolhas. E fiquei assim por um bom tempo: como ousa uma mulher voltar com sua palavra, abandonar tudo, não fazer o que se espera dela? Durante um bom tempo foi essa a sensação, a de entender os rumos do personagem e da história, mas sem necessariamente concordar com eles. Hoje eu entendo que o livro me marcou muito pela época em que o li, quando tomava decisões importantes sobre a minha própria vida, muitas vezes seguindo sempre o caminho do “é o certo e o que esperam de mim”. Então, talvez descontei na Anna uma indevida raiva por ela fazer algo que eu mesma não tinha a coragem de fazer. Eu ainda não tenho coragem de fazer diversas coisas que ela fez, algo tão profundo que não sei nem se essa ânsia surgiria em mim. Mas quem sou eu para criticar as decisões de uma personagem literária?
 
Anna Karênina talvez seja um dos melhores livros que já passou por minhas mãos. É uma obra que marca um momento importante em minha vida, com uma narrativa bem escrita e interessante, trazendo aspectos literários relevantes com talento e com muita coerência e bem desenhada. Além disso, é uma obra que desperta sentimentos em quem lê, uma das coisas mais importantes na minha opinião. Quem não se frustrou com a teimosia da personagem? Não se decepcionou com o tratamento desigual entre a mulher e o homem que escolhem abandonar a família? Se irritou com a diferença de tratamento entre os personagens masculinos e femininos? Teve um ranço básico do Lievin?
 
É um livro muito complexo e completo, e estou feliz por compartilhar essa história com vocês.
 
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Avaliação (1 a 5):


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