Viagem Literária: A mulher enjaulada

ADLER-OLSEN, Jussi. A mulher enjaulada. Rio de Janeiro: Editora Record, 2014. 392p. (Departamento Q, v.1). Título original: The Keeper of Lost Causes.

"Feliz aniversário, Merete. Meus parabéns pelos seus 32 anos. Sim, hoje estamos no dia 6 de julho. Você está aqui há 126 dias e nosso presente de aniversário será deixar a luz acessa durante um ano." p. 103

A Netflix lançou este ano a série policial Dept. Q e vi que era baseada em livros. Obviamente eu fui ler antes. Confiram o que achei do primeiro volume da série Departamento Q com A mulher enjaulada do dinamarquês Jussi Adler-Olsen.

O detetive Carl Mørck ainda se recupera dos traumas físicos e psicológicos sofridos em uma cena de um crime investigado por ele e sua equipe. Um dia qualquer, um corpo em um local ermo. Do nada um atirador mata um dos membros da sua equipe, Anker, e fere Carl e seu melhor amigo, Hardy Henningsen. Carl sobrevive e está apto para voltar ao trabalho, mas nunca se recuperou daquele dia, principalmente por não conseguir atirar e se esconder embaixo do corpo do amigo, fingindo estar morto. Hardy ficou paralizado do pescoço para baixo e só pensa em pôr fim a sua vida. Carl retorna a delegacia sem assumir nenhum caso e com pouco interesse no trabalho.

Merete Lynggaard tinha 32 anos quando tudo aconteceu. Vice-presidente do Partido Democrático, ela tinha uma língua afiada, era linda, inteligente e a imprensa a amava. Seus discursos afiados e sua vida privada misteriosa a deixava sempre na mira dos fotógrafos. Na verdade ela praticamente vivia para o trabalho. E em seu tempo livre cuidava do irmão mais novo, Uffe. Quando eram mais novos, eles sofreram um acidente de carro terrível, perderam os pais e seu irmão ficou com sérios traumas e nunca mais falou. Ele dependia de Merete para tudo e ela cuidava dele da melhor forma que podia.

Até que em um dia, ao viajar de férias com o irmão, Merete desaparece misteriosamente enquanto estavam em uma balsa. A polícia nunca descobriu o que aconteceu. Ela foi dada como morta por afogamento e seu corpo nunca foi encontrado. O caso foi arquivado.

Marcos Jacobsen é o delegado da Divisão de Homicídios de Copenhague. Ele recebe a incumbência de criar um novo departamento, denominado Departamento Q, que ficará responsável por investigar casos antigos não solucionados. A verba para o novo departamento é enorme, mas ninguém precisa saber disso, certo? Ele não vê muita utilidade, mas está interessado na verba. Então ele nomeia Carl para chefiar o departamento e o envia para um porão abandonado do prédio, sem nenhum recurso.

Pouco interessado no trabalho, Carl passa os dias sem fazer nada. Alterna seu tempo com as visitas a Hardy no hospital e ao caos em que vive. Ele se divorciou de Vigga, mas a ex-mulher prefere trocar de namorado sempre que possível e se recusa a assinar o divórcio. Enquanto isso pede dinheiro a Carl sempre que precisa. Seu enteado Jesper, é um adolesdcente que prefere morar com ele do que aguentar a mãe. Para ajudar nas despesas, ele alugou uma parte da casa para um inquilino, Morten Holland. Era Morten quem cuidava da organização da casa e da cozinha, um problema a menos para Carl.

Quando Carl é pressionado para escolher algum caso antigo para investigar, ele faz algumas exigências. Um carro, alguns equipamentos e, principalmente, um assistente. Assad é enviado para trabalhar com ele, um muçulmano que parece ter alguns segredos, mas está muito interessado no trabalho. Juntos eles selecionam o desaparecimento de Merete para investigar. Sem muito interesse pelo caso e poucas esperanças, Carl é surpreendido quando começa a descobrir várias pistas que foram descartadas na investigação original.

~~~~~~~~~~~~~

Os autores escandinavos são famosos na ficção policial, normalmente as tramas são mais intrincadas, diferentes e muito bem construídas. Esse é um livro mais lento, que não empolga no começo e custa um pouco a prender o leitor. Mas valeu a pena persistir, o livro se desenvolvei muito bem e adorei a leitura.

O que deixa tudo mais morno é o óbvio desinteresse do protagonista pela investigação. Carl está deprimido, sofrendo com tudo o que aconteceu e só empurrando tudo com a barriga. Assad é um personagem incrível que melhora muito a trama. Ao mesmo tempo, quase no começo já temos também a narrativa de Merete e sabemos que ela ainda está viva e em cativeiro (ou pelo menos estava há 4 anos atrás). O que fizeram com ela foi tão sádico e tão pesado que é difícil até de entender, senti muita pena dela, do irmão, e torci para que ela fosse encontrada e que ainda estivesse viva.

O motivo do sequestro de Merete e o culpado é facilmente dedutível pelo que ela vai narrando. Agora, esperar Carl descobrir algo e encontrar esta pessoa é agoniante. Eu gostei muito dos personagens principais e de toda a construção do caso, uma pena esse começo morno.

O final foi muito emocionante e eu fiquei curiosa para ler mais livros da série. Pelo jeito pararam de lançar os livros no Brasil, uma pena. Estou torcendo para a série de TV fazer sucesso e voltarem a lançar os livros por aqui. Assisti a primeira temporada da série, eles mudaram totalmente a história de Merete, na série ela é promotora e o culpado é alguém ligado a sua adolescência que morre e a família quer se vingar, bem mais sem graça. Já a história de Carl está razoavelmente fiel ao livro, e no geral, a caracterização dos personagens é bem parecida. Já Hardy está bem melhor na série, o que achei bom hehe, dá mita pena dele no livro. Na série aparece também uma personagem na equipe, que só vai aparecer no segundo livro. E o final da série foi legal porque mostrou o "depois", o livro já termina mais no ar nesse sentido.

Mesmo acertando o culpado eu fiquei agoniada no final, as cenas foram emocionantes. Torci muito por Carl e Assad. [ALERTA DE SPOILERS] No final Merete ainda estava viva em agonia, o seu sequestrador criou uma câmera de pressão e ia aumentando essa pressão cada vez mais com o passar do tempo. E para tirá-la de lá com vida era praticamente impossível, já que ela não sobreviveria se simplesmente abrissem a porta. Carl e Assad enfrentam o sequestrador, seu irmão e sua mãe para libertá-la. Acontece que esta família foram os sobreviventes do outro carro em que o pai de Merete bateu quando eles eram crianças. Os pais dela morreram, mas ela tinha uma grande herança e conseguiu cuidar do irmão. Esta família não conseguiu receber nada na justiça, a mãe ficou paralisada e internada por muito tempo, e o filho acabou indo viver em lares adotivos e jurou vingança. Ele queria deixar Merete presa e sofrendo pelo menos tempo em que ficou longe da mãe e do irmão (5 anos) e só depois disso matá-la. [FIM DOS SPOILERS.

Quem leu me conte se curtiu! Eu adorei e espero conseguir continuar a série, leiam!

Adicione ao seu Skoob!

Série Departamento Q: