Viagem Literária: A amiga genial

. A amiga genial. : , 2011. 336p. (, v.1). Título original: .

"- Obrigada, mas a certa altura a escola termina.

- Não para você: você é minha amiga genial, precisa se tornar a melhor de todos, homens e mulheres."

Finalmente li meu primeiro Elena Ferrante, depois de todo mundo falar tão bem desta autora italiana, e realmente adorei a narrativa. Confiram o que achei do primeiro volume da Série Napolitana com A Amiga Genial!

Nápoles, década de 50

Elena Greco e Raffaella Cerullo, a Lila, se tornam amigas na infância. Moradoras de um bairro pobre de Nápoles, aquela comunidade é tudo o que elas conhecem. Desde cedo ambas se destacam no estudo, Elena por ser muito dedicada, já Lila parece ter uma inteligência e uma curiosidade nata.

As duas são muito diferentes, Elena é uma menina tranquila, estudiosa, que tenta ao máximo ajudar os pais e não ter problemas com a mãe, que parece não gostar de ninguém; Lila é mal comportada, rebelde e nem um pouco tímida. Apesar de todo o seu mal comportamento, ela logo se torna a favorita da professora.

Em um bairro marcado pela violência, pelos gritos e agressões vistos com tanta normalidade, e pelo medo constante, as meninas sonham com um futuro melhor. Os estudos parecem a melhor opção para que as duas não terminem como suas mães, entristecidas pela pobreza e pelo cansaço. No entanto, quando as duas terminam a quinta série, a família Greco decide apoiar os estudos de Elena, enquanto os Cerullo não investem na educação de Lila.

Enquanto Elena se dedica aos estudos, Lila começa a trabalhar na sapataria do pai. Ela e seu irmão mais velho fazem desenhos e planejam fabricar sapatos feitos à mão. Eles almejam enriquecer como estão vendo por todo o bairro. A comunidade cresce e prospera. Como o dono do açougue, os donos do bar, visto como as famílias ricas da região.

No início da adolescência, Lila se destaca mais uma vez por sua beleza pouco convencional. Ela logo chama a atenção dos rapazes do bairro. Um bom casamento mudaria a vida da família. Enquanto isso, solitária e complexada com suas espinhas e seu peso, Elena tenta arrumar um namorado para "não ficar para trás". As duas seguem caminhos diferentes

" O dinheiro reforçou ainda mais a impressão de que aquilo que me faltava ela possuía de sobra, e vice-versa, num jogo contínuo de trocas e reviravoltas que, ora com alegria, ora com sofrimento, nos tornavam indispensáveis uma à outra."

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Adorei a leitura! E olha que normalmente fujo dos livros narrados por crianças, adolescentes, mas talvez por ser a personagem mais velha, contando como tudo começou, a narrativa acaba sendo mais madura e fluida, a autora escreve muito bem, o livro prende do início ao fim.

Mesmo com preguiça dos dramas infantis e adolescentes da Elena e Lina, a narrativa é excelente. São muitos personagens e a vida naquele bairro pobre, a luta daquelas pessoas e os desdobramentos das relações são bem interessantes. Acabei gostando mais da Lina, mesmo com todo seu comportamento irritadiço e muitas vezes incompreensível para todos. Elena é uma adolescente meio mimizenta, insegura e, muitas vezes, invejosa em relação à amiga. Já Lina também tem uma certa inveja da Elena por ter continuado nos estudos e se destacado, enquanto ela teve que sair da escola. Dá muita pena da personagem, que é muito inteligente.

A normatização da violência choca bastante. A forma como elas enxergam as agressões dos pais e maridos, as brigas no bairro, tudo com muita tranquilidade. Frases do tipo: Meu pai me bate, mas nada muito exagerado, só de vez em quando... fazem parte do cotidiano do livro. Ou bate na minha mãe porque ela não sabe ficar calada, etc.

Outro ponto interessante é a forma como aquele bairro pobre de Nápoles é tudo o que elas conhecem do mundo. Para elas o filho do açougueiro é riquíssimo, porque ele tem um carro... e por aí vai. Quando Elena, já adolescente, vai em um restaurante na parte mais rica da cidade, fica assustada com as diferenças, repara em como as moças se vestem muito bem e em como se comportam. Só aí ela começa a perceber a pobreza de onde vive. Ela acreditava estudar em um liceu muito chique e importante, até perceber que era só uma escola um pouco melhor do bairro, etc.

O final é totalmente em aberto, a história continua no livro 2. Este conta a vida delas desde a infância até os quase 17 anos. Mesmo sabendo que seria uma série, fiquei um pouco frustrada com o final sem nenhum grande ápice nem nada. [ALERTA DE SPOILERS] Na verdade o livro termina na festa de casamento de Lina com Stefano Carracci, um dos jovens considerados "ricos" no bairro, os donos do açougue. Ela estava feliz, apaixonada (aparentemente), adorando sua vida agora cheia de luxos, passeios de carro e roupas novas. A família amou a união, Stefano fez um grande investimento no negócio de fabricação de sapatos do pai e irmão dela (que pelo jeito irá pelo ralo). No casamento, o ex namorado de Lina aparece, e ela não queria de jeito nenhum a participação da família do ex. Ela fica indignada, mas não tem muito o que possa fazer. E Elena, esnoba o namorado e fica de conversa com outro rapaz, esqueci os nomes. [FIM DOS SPOILERS]

Sigo curiosa para ler a continuação, leiam!

Série Napolitana: