Estilhaça-me - Tahereh Mafi

>>  quinta-feira, 26 de abril de 2012

MAFI, Tahereh. Estilhaça-me. São Paulo: Editora Novo Conceito, 2012. 304p. (Estilhaça-me, v.1). Título original: Shatter me.

“Fui desprezada abandonada banida e arrastada da minha casa. Fui empurrada espetada testada e jogada em uma cela. Fui estudada. Fui deixada passando fome. Fui encorajada à amizade somente para ser traída e aprisionada neste pesadelo pelo qual esperam que eu seja agradecida. Meus pais. Meus professores. Adam. Warner. O Restabelecimento. Sou dispensável para todos eles.” p. 66

Há muito tempo um sobrenatural não me deixava tão sem fôlego, tão agoniada com os desdobramentos do livro, tão envolvida com a protagonista. Para aqueles que vão amar e para aqueles que nem tanto assim, ambos concordarão com uma coisa: o livro foge do comum e surpreende com narrativa e enredo bem diferentes. Um romance sobrenatural distópico, super-poderes, amor, sobrevivência. Conheçam Estilhaça-me da americana Tahereh Mafi.

Juliette, 17 anos, não se lembra mais como é o contato de outro ser humano. Há 264 dias ela não vê e não fala com ninguém, não sabe mais usar a própria voz. Há três anos ela foi retirada da casa dos pais com autorização deles e levada para uma prisão instituição. Ela não reconheceria o próprio reflexo, não lembra mais a cor de seus olhos. Ela está sozinha, tão sozinha. Sempre esteve sozinha. Ela é perigosa, pode matar. Ela não é má, não é louca, mas todas as outras pessoas pensam o contrário.

Ela era muito criança quando aconteceu pela primeira vez, quando tocou em sua mãe e a machucou  sem saber como nem porquê. Depois disto, nunca mais foi abraçada, nem amada; seu toque era mortal. Ela cresceu tentando agradar, ser boazinha, ser muito boazinha para que as pessoas gostassem dela. Mas ela era uma aberração, ninguém sabia o que podia realmente fazer, mas todos mantinham distância. Pedras, jogavam pedras nela na escola, nunca teve um amigo. Solidão, sempre a mesma solidão.

“-Você não pode me tocar – murmuro. Estou mentindo; é o que não digo a ele. Ele pode me tocar, é o que nunca lhe direi. Por favor, toque-me; é o que quero lhe dizer.” p. 13

Isto era quando o mundo ainda era normal, depois as coisas se deterioraram e ela não sabe muito bem o que aconteceu, em que pé as coisas estão. A camada de ozônio destruída, os animais envenenados, as plantas mortas, fome... pessoas morrendo de fome. O mundo entrou em colapso, sem comida, sem água, sem meio de sobreviver. Para ela lá fora são apenas lembranças, ela só sabe do quadrado de concreto em que vive, das poucas refeições sem gosto. Sem janela, sem vida, sem ninguém.

Até que ele aparece, um colega de cela. Não sabe quem seria louco o suficiente para colocar alguém perto dela. Talvez quisessem matá-lo, talvez pensavam que ela iria matá-lo. Adam. Adam. Adam. Sua voz é suave. Seus braços são tão fortes. Seus olhos são baldes de água de chuva: profundos, doces, claros.

“- Talvez eu queira tocar em você...
- Talvez eu não queira que você me toque.
Ele faz um som áspero.
- Sou assim tão repugnante?” p. 40

Ele não sabe o que ela é, não sabe da maldição. Ninguém sabe porque o toque de Juliette é letal. O Restabelecimento foi o que lhe jogou naquela cela. Eles assumiram quando tudo estava um caos, eles surgiram com a promessa de consertar e colocar alguma ordem no mundo. Mas agora depois de tantas mortes quem sobreviveu pode se tornar uma oposição. E eles começam a achar que Juliette pode ser a arma de que precisam. Um deles em especial. Warner. Ele tem poder, ele é mal, ele é bonito e cruel. Ela precisa escolher, se será uma arma nas mãos do Restabelecimento ou se conseguirá lutar.

Suas mãos tremem muito levemente, seus olhos estão cheios de sentimento, seu coração vibra de dor e afeto e eu quero morar aqui, em seus braços, em seus olhos, pelo resto de minha vida.” p.157

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Esse livro é tão intenso, tão agoniante e desesperador, completamente envolvente. A narrativa é diferente, Juliette nos transporta para dentro de seu mundo, sua visão é de uma pessoa triste e sem esperança. A autora consegue fazer dessa narrativa a alma da protagonista, suas palavras são corridas, como se ela estivesse sem fôlego, assustada, como se não encontrasse palavras para descrever lugares, ações, sentimentos.

A solidão da personagem é palpável e Juliette me conquistou nas primeiras páginas com seu imenso vazio e seu enorme desespero. Adam chega como um sopro de vida, lindo e carinhoso, ela desesperada porque sabe que ele não pode tocá-la, ele sem saber o que a mantém presa e tão arredia. Gostei de Warner, o vilão gato, que para mim ainda promete muito nos próximos livros. Adam é motivo de total piriguetagem literária.

O texto é repleto de palavras tachadas e falta de vírgulas entre as frases. Mas ao contrário do que você leitor possa imaginar, eu não me senti em nenhum momento incomodada, nem pontuei frases mentalmente enquanto lia. A falta de vírgulas caracteriza Juliette (exemplificado na primeira citação), com um efeito confuso e acelerado, como se ela não conseguisse se expressar, como se tivesse tanta emoção que faltavam palavras.

O futuro distópico não é tão bem caracterizado quanto eu gostaria, acredito que a autora ficou empacada na lógica de sua narrativa. Uma moça presa há tanto tempo, narrando um livro em primeira pessoa, não poderia descrever aquele mundo de modo plausível. Vamos descobrindo aos poucos sobre o Restabelecimento. Foi uma das coisas que gostaria de saber mais.

Outro ponto é que algumas coisas são muito corridas, como se eles conseguissem se livrar fácil demais de algumas situações que contradizem com o controle aparentemente total daquela nova sociedade. Um leitor exigente pode achar muita coisa pouco desenvolvida e mal explicada, eu percebi isto, mas me envolvi de tal maneira que amei o livro.

Este é o primeiro de uma trilogia, os outros ainda não foram lançados nem lá fora e as coisas terminam em um momento muito interessante, queria mais da historia. A pegada X-men é clara desde a sinopse e eu, pessoalmente, adorei. 

Me empolguei e o texto ficou enorme, espero que vocês leiam e gostem tanto quanto eu, para mim este é o melhor livro da NC até agora. Fora a capa linda e a edição perfeita. Muito bom mesmo, minha nota extra oficial é 4,5. Amei tudo, só queria mais detalhes. Leiam!!

Trilogia Shatter me  de Taheref Mafi
  1. Estilhaça-me (Shatter me)
  2. Liberta-me (Unravel me)
  3. Incendeia-me (Ignite me)
1.5 Destrua-me - exclusivo em e-book (Destroy me)
2.5 Fragmenta-me - exclusivo em e-book (Fracture me)

Avaliação (1 a 5):

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