Drácula – Bram Stoker

>>  sexta-feira, 12 de novembro de 2021


STOKER, Bram. Drácula. Rio de Janeiro: Editora Darkside Books, 2018. 576p. Título original: Dracula. 

Quem não conhece o Conde Drácula? Um dos personagens mais consagrados e representados na cultura popular. Vira e mexe temos as ondas vampirescas, e é aqui que isso se origina, no livro de 1897 de Bram Stroker. Tenho uma história bem peculiar com a obra e falarei um pouco mais para vocês, explicando as razões para esse livro ser uma grata surpresa para mim. 

De cara, já deixo claro que eu sou uma pessoa muito medrosa. Relatei aqui em algumas ocasiões (mais recentemente na resenha de Garotas em Chamas, que vocês conferem AQUI) que sou daquelas que dorme com a luz acesa e tem pesadelos após ler suspense ou terror. Por isso, sempre me afastei da literatura do gênero, não tendo qualquer vontade de ler o livro ou assistir os filmes. A impressão que eu tinha é que seria uma história escura, sangrenta e que muitas vezes apelam para sustos e tensão, o que me deixa muito desconfortável. Hoje já tenho um pouco mais de experiência para saber que a literatura de terror é um pouco diferente do gênero no cinema, e muitos dos meus receios eram oriundos de filmes que queriam só assustar mesmo, sem muito conteúdo. De qualquer forma, Drácula era algo que eu jamais concebia ler, até que em abril de 2019 chegou para me apresentar ares novos. 

Como já relatei em algumas resenhas passadas, entre o final de 2018 e o início de 2019 eu passei uma temporada na Inglaterra, o que me apresentou a diversos cenários literários e muito mexeu comigo. A Alice leitora é uma antes e outra depois desse período, e Drácula é um livro muito querido que faz parte dessa trajetória. Em abril de 2019 eu estava treinando para provas de proficiência em inglês e estava com muita dificuldade em compreensão de escuta. Ao pedir conselhos para uma colega que tinha certa facilidade nessa área, ela me indicou baixar o aplicativo Audible da Amazon, e escutar audiolivros e podcasts. A ideia não era estanha para mim: eu já havia experimentado alguns títulos nesse formato, mas honestamente havia esquecido do aplicativo e suas possibilidades. Resolvi retomar a prática e aproveitar para riscar alguns clássicos da minha lista de leituras futuras. A seleção é incrível e foi difícil escolher, mas Drácula sempre me chamava atenção. Era narrado por autores famosos e que aprecio, e racionalizei que conhecia bastante do personagem e da história a ponto de facilitar o entendimento da língua. E assim o livro agora estava em minhas mãos e ouvidos. 

Um romance gótico epistolar, desenvolvendo a história através de cartas, diários e notícias de jornais, o livro não possui um protagonista definido. São diversos personagens que contam suas experiências e recordações e, assim, temos uma noção do conjunto e a situação que eles estão enfrentando: existem vampiros nesse mundo, e Jonathan Harker, um recém qualificado advogado britânico, assim descobre ao visitar o Conde Drácula na Transilvânia para o ajudar a adquirir uma propriedade em Londres. Harker, sem noção do perigo, é picado pelo mosquitinho da curiosidade e vai explorar o castelo do Conde, sendo atacado por três vampiras. Apesar de ter sido inicialmente resgatado por Drácula, ele depois deixa o advogado para morrer. Harker acaba escapando e vai parar muito debilitado em um hospital de Budapeste e o Conde segue de navio para a Inglaterra. 

Também conhecemos Lucy Westenra, melhor amiga de Mina Murray e basicamente a garota mais popular da cidade, colecionando propostas de casamento de três homens, o Dr. John Seward, Quincey Morris e Arthur Holmwood. Ela acaba aceitando a proposta de Holmwood, mas de uma forma um tanto estranha na minha opinião, todos aceitam a situação e se dão bem. Mina acaba deixando Lucy para ir a Budapeste cuidar de Jonathan e nesse período, Lucy desenvolve sonambulismo e coisas estranhas começam a acontecer com ela. Preocupado, Seward busca ajuda de um antigo professor seu, Abraham Van Helsing, que desconfia do problema da moça, diagnosticando-a com severa perda de sangue. De alguma forma, a história e os relatos de todos se unem em torno desses estranhos acontecimentos e do mal que aparentemente os ronda. 

Começando minhas aventuras pelos capítulos de Drácula, estava receosa e preparada para parar caso o medo ficasse insuportável. Qual foi a minha surpresa ao encontrar uma narrativa incrivelmente envolvente e muito bem narrada, tornando meus planos de interromper a leitura completamente frustrados. O formato audiolivro me permitia fazer longas caminhadas por Bristol, cidade do sudeste da Inglaterra, acompanhando as aventuras da trupe que se formava e encontrando em Mina Murray talvez a minha personagem favorita de todas as leituras daquele ano. O formato epistolar funciona bem para a narrativa, quebrando cenas tensas e escuras com relatos mais pessoais das histórias dos envolvidos. Foi uma excelente escolha narrativa que só deixou o texto mais rico e nos fez mergulhar na história. 


Eu mergulhei de cabeça. Foi uma experiência muito boa acompanhar os passos do Conde Drácula ali literalmente onde a história acontecia. Me lembro de inclusive escutar no final da tarde, com o anoitecer, nas minhas longas caminhadas para descobrir os mais diversos pubs espalhados pela cidade. Havia algo mágico em escutar uma criatura das trevas assombrando a Inglaterra no momento onde a escuridão se estabelecida na própria Inglaterra. O medo deu lugar a um fascínio literário que sempre ficará marcado para mim. 


Mas não era só de escuridão que a minha experiência com Drácula se resume. Havia muita luz, muito sol, muita energia positiva de uma cidade portuária vibrante. Aqui inclusive vale relatar a minha passagem favorita da história, a chegada de Drácula à Inglaterra pela narração do diário de bordo do capitão do navio, completamente atordoado com o sumiço de sua tripulação no decorrer da noite. Bram Stoker pesquisou muito sobre folclore e lendas romenas na preparação para o livro, mas o que ele conseguiu é de tirar o chapéu. O início é um pouco parado e confuso, mas quando conseguimos nos situar e especialmente quando o núcleo inglês da história é apresentado, as coisas passam a fluir melhor. Creio que o livro tem uma constante evolução, de um início fraco, desenvolve a narrativa de modo a cada vez mais engajar o leitor. 

A nota só não é máxima pelos problemas no início. Mas o livro se recupera, e para sempre vou lembrar de como esperava um show de horror e sangue, e acabei encontrando uma história bem escrita, bem bolada, controlada e um excelente conto de aventura. Ainda dá medo? Claro! São vampiros atacando pessoas a noite, claro que dá medo! Mas sabe aquele medo bom, que você sabe que está diante de algo novo e que vale a pena? É esse o medo! 

Para quem quer se aventurar nas páginas desse clássico da literatura, recomendo a edição que coloco como referência aqui. A Darkside tem dado um show nos seus lançamentos de suspense e mistério e esse livro, todo preto com alguns detalhes em dourado é um sonho de consumo! 

Para quem gostou do relato das minhas experiências literárias na Inglaterra, sugiro conferir também as seguintes resenhas: 


E eu? Espero ler muitos outros livros que fogem da minha zona de conforto e fazer mais viagens e conhecer mais lugares que marquem ainda mais a minha história com um livro, como foi com Drácula!

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