O Homem do Terno Marrom – Agatha Christie

CHRISTIE, Agatha. O Homem do Terno Marrom. Porto Alegre: Editora L&PM Pocket, 2016. 272p. Título original: The Man in the Brown Suit.

 

“Por algum motivo, o coronel Race estava desconfiado. Mas onde é que ele entrava? Que conexão possível teria com o caso?

– Quem é o coronel Race? – perguntei.

– É uma pergunta e tanto – disse Suzanne. – É bastante conhecido como um caçador de grandes presas e, como ouviu dele esta noite, era um primo distante de Sir Laurence Easrdsley. Nunca o havia visto pessoalmente antes dessa viagem. Ele viaja bastante para a África. Há uma ideia generalizada de que trabalha para o serviço secreto. Não sei se é verdade. Ele é com certeza uma criatura um tanto misteriosa.”

 
“O Homem do Terno Marrom” é o quinto livro do PROJETO AGATHA CHRISTIE. Foi publicado em 1924 e nos apresenta a um de seus personagens recorrentes, o Coronel Race, que aparece em 4 livros. O Projeto Agatha Christie é uma iniciativa do Blog Viagem Literária para reunir leitores fãs da autora e que desejam ler ou reler a sua obra, seguindo a ordem cronológica de lançamento dos livros. Lemos juntos um livro por mês e nesse período conversamos sobre nossas impressões e compartilhamos experiências. Ainda dá tempo de entrar, é só acessar as informações do Projeto no post de apresentação, que você encontra AQUI.
 
Quando começamos o projeto, lá na resenha de “O Misterioso Caso de Styles” (que vocês conferem AQUI), eu escrevi o seguinte:
 

“Enfim, toda minha leitura e pesquisa me mostrou que escrevendo antes, durante e depois da 1ª Guerra Mundial, antes durante e depois da 2ª Guerra Mundial, ela [Agatha Christie] soube como ninguém se renovar e observar as mudanças da época. É isso que pretendo analisar nos livros. E me divertir, como quero me divertir!”

 
Essa análise de época e estilo foi o que mais me chamou a atenção em “O Homem do Terno Marrom”. Aqui, temos a história de Anne Beddingfeld, uma jovem que presencia um estranho acontecimento. No metrô de Londres, ela vê um homem cair nos trilhos e morrer, para logo depois ter seu corpo inspecionado por um falso médico, o homem do terno marrom cheirando a naftalina, que deixa cair um papel ao fugir rapidamente. Ela retém essa pista e investe sua herança em busca de uma aventura para descobrir o que realmente aconteceu, uma investigação que a levará até a África do Sul e apresentará pessoas interessantes, como o Coronel Race.
 
As aventuras de Anne, escritas em 1924, são a cara desta época. Anne é uma jovem que deseja se encontrar e quem sabe um grande amor, fora da rotina esperada para as mulheres da época. E o seu espírito aventureiro a leva para um mundo exótico – a África do Sul em conflito, veja – e envolve coisas empolgantes, como diamantes, uma organização criminosa e interesses amorosos. Isso é a cara de filmes de aventuras antigos e muito refletem costumes e devaneios da época. Diamantes como os bens mais valiosos e preciosos, a África do Sul como o exótico estrangeiro a ser desbravado, e a noção do “dinheiro não importa, mas sim a aventura”, desde que essa aventura no final possa trazer amor e mais dinheiro.
 
Ora, é muito fácil para mim em 2022 ler e analisar esse livro com os olhos da minha época. É óbvio que o gênero mudou, os desafios são outros, o exótico de antes hoje já foi há muito desbravado. E as aspirações são completamente diferentes e mais ousadas, apesar de que uma história de amor leve e divertida sempre cai bem. Agora, se eu analisar o livro com o olhar de 1920, consigo ver uma história interessante e envolvente. E eu não consigo deixar de pensar na minha avó.
 
Minha avó nasceu em Curvelo/MG em 1917. Ela nunca foi de ler, mas adorava um bom filme. Jamais aceitou filmes novos, sempre pedia para assistir os clássicos de Hollywood, que lembravam sua época jovem, as idas furtivas à capital para o grande evento de ir ao cinema na cidade grande. Mais do que tudo, ela amava um bom romance. Passei a colecionar filmes de Grace Kelly, Audrey Hepburn, Elizabeth Taylor e Carry Grant para a entreter, e ela delirava. Mas o que ela mais gostava, o que fazia seus olhos brilharem e o queixo cair em uma excitada animação quase infantil, mais que o romance era o romance aliado com aventura. Não consigo esquecer de “A Princesae o Plebeu” (Roman Holiday, 1953), filme com Audrey Hepburn e Gregory Peck onde uma princesa decide fugir do palácio para viver um dia como uma plebeia, se envolvendo em diversas situações complicadas e engraçadas no processo.
 
Quando eu lia “O Homem do Terno Marrom”, eu só conseguia pensar em como Anne Beddingfeld tinha todas as características da Princesa Ann, personagem de Audrey Hepburn, e como minha avó adoraria esse livro. Enquanto para mim o livro era batido e um pouco simplório, ao mesmo tempo ele me lembrava o quanto minha avó iria ao delírio com a história. Ela é leve, inocente, traz um exótico seguro e sem muita malícia, e sabemos estar entre cavalheiros e moças, de modo que nada politicamente incorreto jamais ocorrerá. É simples, divertido e seguro. Talvez a neta em 2022 não se empolgue com isso, mas tenho absoluta certeza que a minha avó em 1955 iria ao delírio, quando o livro foi lançado pela primeira vez no Brasil. E isso me fez ter um carinho especial pelo estilo de escrita de Agatha Christie nessa história. Ela conhece seu público, sua época, o mercado editorial. A prova disso é o fato dela ser a autora mais vendida da história.
 
A minha nota seria 2, mas pelo valor emocional e simbólico desta leitura, acho válido acrescentar mais uma estrela. Afinal, uma história vai muito além das palavras impressas.
 
Até mês que vem, de novo introduzindo um novo personagem recorrente: o Superintendente Battle, da Scotland Yard! Esse é nosso sexto livro, O SEGREDO DE CHIMNEYS, mais uma obra que mostra a gama de personagens criados por Christie.
 
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Série Coronel Race
 
1. O Homem do Terno Marrom (The Man in the Brown Suit), 1924
2. Cartas na Mesa (Cards on the Table), 1936
3. Morte no Nilo (Death on the Nile), 1937
4. Um Brinde de Cianureto (Sparkling Cyanide), 1945

Avaliação (1 a 5):