Viagem Literária: O Cão dos Baskerville

DOYLE, Arthur Conan. O Cão dos Baskerville. In: DOYLE, Arthur Conan. Sherlock Holmes Volume 2. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2016. Título Original: The Hound of the Baskervilles.

O Cão dos Baskerville é o quinto livro do famoso detetive britânico criado pelo escocês Arthur Conan Doyle, sendo o terceiro livro de ficção com um caso selecionado. Originalmente publicado entre 1901 e 1902 e como livro em 1902, a história se passa antes dos acontecimentos narrados no último conto do livro anterior, “Memórias de Sherlock Holmes” (cuja resenha você confere AQUI) e não interfere no desenvolvimento do personagem.

Ler os livros de Sherlock Holmes em ordem cronológica é algo que comecei a fazer naturalmente e sem muita pressão. Li apenas um livro do personagem em 2022 (e entrou na lista de melhores do ano, diga-se de passagem, confiram AQUI) e começo 2023 terminando esse que foi a minha primeira leitura do ano, um exemplar da literatura escocesa. Apesar do detetive ter imortalizado a Baker Street em Londres, seu idealizador é escocês. Arthur Conan Doyle nasceu em Edimburgo, capital da Escócia, em 1859, em uma pequena casa na área de New Town da cidade. Tenho o privilégio de conseguir caminhar na porta do lugar e ver como a cidade foi a casa de tantos autores celebrados internacionalmente. Inclusive, dois dias atrás comemoramos a “Burns Night” (Noite de Burns, em uma tradução livre), quando os escoceses comemoram o aniversário do poeta local Robert Burns com uma bela refeição tradicional, com muito haggis (o prato típico local, ouso vocês a pesquisarem no google o que é) e whiskey. O fato é que Edimburgo foi um importante centro de vida intelectual e cultural no século 19, e certamente influenciou Conan Doyle em sua escrita. É possível sentir essa vida e inspiração passeando por aqui.

Por todos esses motivos, fico feliz de começar meu ano literário com um autor da casa. Já eternamente fã de seus contos (e não me canso de recomendá-los), ainda não havia sido fisgada por seus livros centrados em apenas um caso. Os dois primeiros foram assim: “Um Estudo em Vermelho” e “O Sinal dos Quatro” (clique no título do livro para a resenha), fazem um bom trabalho ao apresentar o personagem e atiçar a curiosidade do leitor com os maneirismos e trejeitos de Holmes, mas deixam muito a desejar com histórias com ritmos descompassados e pouco coesos. Nesse sentido, “O Cão dos Baskervilles” definitivamente é o melhor livro não-conto do autor.

A história de “O Cão dos Baskervilles” nos leva para Dartmoor, em Devon, Inglaterra, e envolve a lenda de um terrível cão diabólico de origem sobrenatural. Novamente temos o detetive Sherlock Holmes e seu assistente Dr. Watson, na liderança do caso. Temos uma tentativa de assassinato em Baskerville Hall; a vítima, Sir Charles Baskerville, morreu recentemente em circunstâncias misteriosas, e seu herdeiro, Sir Henry Baskerville, veio reivindicar sua herança. Acredita-se que a morte de Sir Charles esteja ligada à lenda de um temível cão que assombra a família Baskerville há gerações.

O Dr. James Mortimer, um amigo da família Baskerville, pede ajuda a Sherlock Holmes para resolver o mistério. Holmes, junto com seu assistente Dr. Watson, investiga o caso e descobrem vários suspeitos, incluindo o sobrinho e herdeiro de Sir Charles, Sir Henry Baskerville, e um naturalista local chamado Stapleton. À medida que a investigação avança, uma complicada teia de mistérios e ganância é desvendada em torno da família Baskerville e sua propriedade.

Ao mesmo tempo que reconheço a superioridade dos livros de contos, “O Cão dos Baskervilles” é claramente superior aos seus antecessores. A estrutura narrativa ainda é a mesma, com um início interessante, seguida de um meio descritivo e arrastado, para um final corrido, mas divertido. A diferença é que desta vez a narração do caso não deixou a desejar. A história dos Baskervilles foi interessante de acompanhar, talvez pelos traços góticos trazidos, com o mistério em torno de uma grande mansão, com muitos acontecimentos cercados de escuridão e suspense. Eu falo um pouco mais sobre romances góticos na resenha de Jane Eyre, que vocês conferem AQUI. O fato é que esse livro não me deixou tão entediada quanto os outros na espera da resolução do caso, o que me deixa feliz. Mesmo assim, prefiro a dinâmica inteligente e acelerada que Conan Doyle impõe em seus contos, apesar de reconhecer que “O Cão dos Baskervilles” realmente apresentou melhoras.

Inclusive, esse livro foi lançado com muita expectativa ao seu redor, após o desfecho surpreendente de “Memórias de Sherlock Holmes” e a incrível popularidade do personagem, que só crescia. Sua recepção foi positiva, com críticos da época elogiando um enredo cheio de suspense e ritmo acelerado (apesar de eu discordar dessa última parte), bem como por sua ambientação gótica. Sucesso de vendas, não se fez diferente dos seus antecessores e também foi bastante adaptado para outras mídias.

Na verdade, muitos leitores e críticos consideram “O Cão dos Baskervilles” uma das melhores histórias de Sherlock Holmes. Posso o chamar de clássico? Talvez esse esteja sim nessa categoria.

Que venha o próximo livro, “A Volta de Sherlock Holmes”, outro livro do gênero contos que espero manter o nível de seus antecessores!

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Série Sherlock Holmes