Água fresca para as flores - Valérie Perrin

>>  segunda-feira, 25 de agosto de 2025

PERRIN, Valérie. Água fresca para as flores. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2021. 480p. Título original: Changer l'eau des fleurs.

"Com certeza este é o motivo dos cemitérios estarem cheios de epitáfios. Para afastar a passagem do tempo. Para que se apaguem às lembranças. Meu preferido é: 'A morte começa quando ninguém mais pode sonhar com você'. " p. 18

A francesa Valérie Perrin vem conquistando um público fiel no Brasil, e todos comentam empolgados sobre os seus livros. Eu finalmente li o primeiro dela lançado por aqui, confiram o que achei de Água fresca para as flores.

Violette Toussaint teve uma vida difícil e solitária. Nasceu e cresceu em vários orfanatos, teve vários lares provisórios, sem nunca ser adotada. No início da vida adulta conheceu aquele que seria seu marido, Philippe Toussaint, um homem mesquinho que só amava a si mesmo e que nunca cuidou da família. Eles tiveram uma filha, Léonine, e foi aí que Violette descobriu o que era o amor. 

Violette era vista pelos sogros como um objeto, não uma pessoa. Eles nunca a enxergaram, nunca quiseram conhecê-la, eles a toleravam. O marido não era muito diferente, durante a vida de casados ele teve inúmeras amantes, e sempre saia com sua moto para "dar uma volta" e sumia por algum tempo. Primeiro eles  foram vigias ferroviários, ou melhor, ela fora, enquanto trabalhava pelos dois. Depois de anos nesse trabalho, eles se mudaram e viraram zeladores de um cemitério. Foi lá que ela praticamente trabalhou por toda a sua vida.

"Depois que os portões são fechados, o tempo é meu. Sou a única dona dele. É um luxo ser dona do próprio tempo. Acho que é um dos maiores luxos que um ser humano pode dar a si mesmo." p.46

A casa onde Violette vive, na entrada do cemitério, se tornou um porto seguro para muita gente. Para os três outros funcionários do local, para o padre da paróquia da cidade, para os irmãos donos da funerária local e para vários frequentadores, que estão sempre por lá visitando  uma pessoa amada em seu descanso final.  Ela começa a anotar em um caderno todas as informações sobre as cerimônias, todos os detalhes que consegue se lembrar. Como estava o tempo, quantas pessoas compareceram, os discursos fúnebres, músicas, etc. Ela acredita que aquelas informações podem ser importantes para alguém algum dia. 

" Se o paraíso existir de fato, só será paraíso se eu for recebida por meus cães e gatos." p.55

Com o passar dos anos, aqueles amigos viraram sua família. O marido, um dia saiu para "dar uma volta" e nunca mais voltou, depois de um mês ela finalmente registrou seu desaparecimento na delegacia local. Ela sempre procura fazer o melhor dos seus dias, valorizar o seu tempo e construir uma vida com felicidade naquelas pequenas coisas. Seus amigos, os cães e gatos que vivem no cemitério e acabam sendo adotados por ela, sua horta, suas flores e sua pequena casa, onde ela sempre tem um chá, uma bebida, ou algo para comer para aqueles que precisam.

Em uma manhã sua rotina é quebrada com a chegada de Julian Seul, um delegado que vive em Marselha. Ele recebeu com surpresa o último pedido da mãe, ter suas cinzas colocadas naquele cemitério, no túmulo de um homem de quem nunca ouviu falar. Juntos, eles começam a investigar o passado da mãe de Julian, e acabam descobrindo muito sobre si mesmos. 

"Ao me deitar, penso como odiaria morrer antes de terminar de ler um romance de que estava gostando." p. 146

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A narrativa é incrível, um retrato poético da vida cotidiana, com suas alegrias, enormes tristezas e muitas provações. A autora trabalha magistralmente um tema muito difícil, a morte. E o olhar de Violette  de forma simples, sobre todas coisas é muito tocante e comovente.

Violette é uma protagonista fantástica. Impossível não amá-la e não torcer por ela, da vontade de protegê-la em cada momento, uma pessoa boa que sofreu tanto na vida. É lindo vê-la aos poucos construindo uma vida feliz, fazendo amigos, tendo um porto-seguro apesar de tudo o que aconteceu. 

Os outros personagens são todos muito bons, com exceção de Philippe e seus pais, pessoas horríveis. Adorei Nono e seu jeito paternal, as reflexões do padre. Julian que se encantou por Violette logo que a conheceu. E Sasha, que soube ajudá-la de forma sutil e com muito amor. 

O livro tem um pequeno mistério, mas que não me surpreendeu. Imaginei logo no início que algo assim teria acontecido, então não tive surpresas. Acho que isso tirou um pouco do encanto e da emoção para mim, não chorei em momento algum.  

Porém, a história tem trechos tão lindos, tão cheios de vida e de amor, que você se vê ali naquelas páginas. Pensando também no passado, de pessoas que amou e que perdeu, naqueles momentos diários tão ricos de amor. 

Eu adorei a leitura! Devorei o livro no começo e achei que seria um dos meus favoritos do ano. Mas para mim ele perdeu ritmo da metade para o final, e acabei achando os desdobramentos finais bem mornos, faltou um ápice ou algo para eu amar. Amei a narrativa, os personagens, mas queria mais do enredo em si.  

Eu já quero os outros da autora na estante, com certeza indico a leitura, este livro é inesquecível. Leiam!!

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Avaliação (1 a 5):

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