As leis de nossos pais - Scott Turow
>> segunda-feira, 20 de outubro de 2025
TUROW, Scott. As leis de nossos pais. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007. 2 ed. 400p. (Kindle County Legal, v.4). Título original: The laws of our fathers.
"Hobie tem a desfaçatez de exibir um sorriso luminoso, e depois, como se isso não fosse suficiente, dá um único passo na direção da testemunha e faz uma referência. É um momento espantoso. Quando se ergue, fulmina Eddgar, por apenas um segundo, com um olhar de ódio absoluto. Eddgar absorve isso com mais compostura do que eu poderia esperar. Leva um dedo à depressão por cima dos lábios, estuda Hobie em silêncio. Em algum momento, há poucos segundos, paramos de julgar este processo e ingressamos em outro reino, algo muito além de mim, apenas entre aqueles dois homens." p. 420
Eu gosto muito de thrillers jurídicos e a série Kindle County Legal do Scott Turow é uma das mais famosas do gênero; principalmente por causa do primeiro livro, Acima de qualquer suspeita, que já teve filme e, recentemente, ganhou uma nova série de TV muito boa, da Apple TV. Confiram o que achei do 4º livro com As leis de nossos pais.
Califórnia, 1969
A América se encontrava em plena guerra e tumulto. Os combates se travavam não apenas no Vietnã, mas também nos EUA, onde jovens se opunham ao envolvimento americano e faziam diversas manifestações contra a guerra.
Seth foi convocado, mas não pretendia se alistar. Cogitava se exilar no Canadá e fugir de qualquer jeito. Seus país, sobreviventes de Auschwitz, eram muito rígidos e exigiam que o filho levasse uma vida séria. Eles não aprovavam suas escolhas, e não aprovavam sua namorada Sonny, por quem ele era completamente apaixonado. Já Sonny, queria mais da vida aos 20 e poucos anos, não queria um relacionamento sério, queria viajar, queria conhecer o mundo e viver novas aventuras. Seth e Hobie eram amigos desde a infância, mas Hobie começava a se afastar e conviver cada vez mais com grupos contra a discriminação racial no país. Hobie sabia o que era ser preto nos EUA, e odiava quando todos os brancos, como Seth, afirmavam que as coisas iam "melhorar" e que já não existia tanto preconceito no país.
June e Eddgar estavam completamente envolvidos nas manifestações contra a guerra. Já o filho do casal, Nile, ficava quase o tempo todo sendo cuidado pelas suas babás. Primeiro foi Michael, depois Seth foi contratado para cuidar da criança.
Quando as manifestações se tornam grandes conflitos com a polícia e uma tragédia acontece, todos precisam tomar grandes decisões.
Condado de Kindle, 1995
Sonia Klonsky, Sonny, é juíza no Condado de Kindle. Aos 46 anos se divorciou e cria sozinha a filha de 6 anos, Nikki. Ela irá assumir um dos casos mais complicados de sua carreira, principalmente, porque conhece muitos dos envolvidos, de um passado muito distante.
Uma mulher, June Eddgar, é assassinada a tiros em um bairro perigoso, conhecido pelos domínios das gangues e pela venda de drogas. June foi casada com Loyell Eddgar, importante político e agora senador. O que no início parecia uma simples morte por acidente, em uma área de constantes tiroteios, se provou uma conspiração. Um criminoso conhecido no bairro, Hardcore, afirma que foi pago pelo filho do casal, Nile Eddgar, para assassinar o pai do rapaz. Mas, aparentemente, a mãe foi até o bairro no lugar do pai. E acabou morta.
Nile é assistente social e trabalha com Hardcore e muitos outros membros da comunidade que estão soltos sob fiança ou algo do tipo. E ele é preso pelo assassinato da mãe.
O promotor será Tommy Molto, que continua vivendo sem muito sucesso profissional e recebendo os casos que ninguém quer pegar. A juíza Klonsky tenta negar o caso por conhecer vários dos envolvidos, mas todos parecem não se importar, já que tudo aconteceu há muitos anos atrás. E é assim que ela assume como juíza do caso contra Nile.
O advogado de defesa é Hobie Tuttle, ele e sua namorada na faculdade, Lucy McMartin, eram amigos próximos de Sonny e seu namorado, Seth Weissman. Atualmente, Seth é um jornalista de sucesso, famoso por sua coluna assinada como Michael Frain, também um conhecido deles no passado. E Eddgar e sua família, também viviam no mesmo prédio. Ele era professor na faculdade onde eles estudavam. Seth tem uma filha adolescente, perdeu um filho em um trágico acidente e acabou se divorciando da esposa, Lucy.
Agora todos estão juntos novamente. Sonny tenta se manter imparcial e atuar como juíza de um caso complicado. Ao mesmo tempo, por mais que tente evitar, ela e Seth começam a se reaproximar.
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O que mais gosto nos thrillers jurídicos é o quanto um julgamento consegue mexer com a cabeça de todos os envolvidos e dividir opiniões. Como leitora, eu sempre começo a leitura certa da culpa ou da inocência de alguém; e o mais interessante é como essa opinião geralmente muda no decorrer do julgamento. Aqui não foi diferente, Nile é culpado ou inocente? Mudei de opiniões diversas vezes e achei a narrativa muito bem construída.
Não é daqueles livros que a gente devora e que tem um final super emocionante. Achei lento, chato em diversos momentos, mas gostei muito da construção do enredo e dos temas importantes abordados pelo autor. Ele fala muito sobre preconceito racial, a guerra do Vietnã a a marginalização da sociedade negra, por não ter os mesmos acessos da população branca e diversos outros temas importantes. A narrativa se alterna entre presente e passado. No presente temos o julgamento, no passado a vida deles jovens e de como tudo culminou em onde estão hoje.
Outro ponto interessante são os sonhos e caminhos que temos quando somos jovens versus a vida que temos hoje. Como as escolhas que tomamos nos levam para onde estamos hoje, sendo isso bom ou não. E como também aceitar as escolhas que fizemos no passado, e as consequências disso para os nossos relacionamentos. O enredo é todo muito bem construído. Faz também menção a criação e a forma como os pais influenciam os filhos na pessoa que irão se tornar quando adultos, daí vem o título do livro.
Dos livros anteriores só temos a presença do Tommy Molto, que continua um péssimo promotor hehe. Mas até que fiquei com pena dele no final, muito marcante um diálogo que ele teve com Sonny, sobre a vida dele como advogado. E Sandy Stern, que sempre é citado, mas não chegou exatamente a aparecer no livro.
Sobre os personagens, eu tive um pouco de preguiça da história do passado, achei tudo muito lento e descritivo. Principalmente por estar mais interessada no julgamento no presente. E o final foi um balde de água fria, esperava bem mais do fim do julgamento. Foi um livro interessante, apesar de não ter amado.
[ALERTA DE SPOILERS] No final do julgamento, após um depoimento difícil com Eddgar, pai de Nilo, o réu desaparece e seu advogado não consegue encontrá-lo a tempo. Juntando-se isso a inúmeros erros da promotoria, Hobie pede cancelamento do julgamento, apenas para fazer uma jogada com Sonny. Mas para surpresa dele, ela defere o pedido. Então o julgamento não tem final, e Nile continua desaparecido. Se a promotoria quiser, terá que começar tudo de novo com um novo julgamento, com outro juiz e com um mandato para prender o suposto réu. Nile não era culpado da morte da mãe, e não tinha mandado matar o pai como disseram. Mas ele era culpado de tráfico de drogas, pois levava droga para dentro da prisão, em um acordo com Hardcore. Seth estava envolvido com Sonny, mas também parecia que poderia reatar com Lucy. No final ele e Sonny ficam juntos, e termina com ele dizendo que vai adotar a filha dela. [FIM DOS SPOILERS]
Eu curto muito os livros do autor e continuo querendo ler todos da série, a maioria deles são independentes. Quem leu me conte se curtiu, leiam!
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Série Kindle County Legal
- Acima de qualquer suspeita (Presumed innocent)
- O ônus da prova (The burden of proff)
- Declarando-se culpado (Preading guilty)
- As leis de nossos pais (The laws of our fathers)
- Ofensas pessoais (Personal injuries)
- Erros irreversíveis (Reversible errors)
- Os limites da lei (Limitations)
- O inocente (Innocent)
- Idênticos (Identical)
- Testemunha (Testimony)
- O último julgamento (The last Trial)
- Suspect (ainda não lançado no Brasil)
- Presumed guilty.
Avaliação (1 a 5):