Café Preto – Agatha Christie

>>  sexta-feira, 31 de março de 2023


CHRISTIE, Agatha. Café Preto. Rio de Janeiro: Editora Best Bolso, 2010. 154 p. Título original: Black Coffee.
 
Café Preto é o décimo quinto livro do PROJETO AGATHA CHRISTIE. Foi publicado inicialmente em 1930 e depois em 1998, quando foi adaptado em formato de romance policial por Charles Osborne. É mais uma aventura do excêntrico e peculiar detetive belga Hercule Poirot, agora investigando um assassinato que em muito está relacionado ao roubo de uma fórmula com potencial milionário. O Projeto Agatha Christie é uma iniciativa do Blog Viagem Literária para reunir leitores fãs da autora e que desejam ler ou reler a sua obra, seguindo a ordem cronológica de lançamento dos livros. Lemos juntos um livro por mês e nesse período conversamos sobre nossas impressões e compartilhamos experiências. Ainda dá tempo de entrar, é só acessar as informações do Projeto no post de apresentação, que você encontra AQUI.
 
Enfim nos deparamos com a primeira peça idealizada pela autora. No passado, tive oportunidade de assistir em um teatro londrino à clássica “Testemunha de Acusação”, baseada em um conto publicado em 1948. Eu simplesmente adorei a experiência e ali pude perceber como os trabalhos da autora se adaptam bem às outras formas de arte. Com isso, estava curiosa para finalmente encarar um desses exemplares, até que finalmente chegou a vez de Café Preto.
 
A história começa com ninguém menos que nosso querido Hercule Poirot, que está calmamente degustando um café pela manhã. Ele então recebe uma ligação nessa hora mais peculiar, com um recado de que o cientista Sir Claud Amory o chama às pressas para sua propriedade em Surrey, para ajudar em algo urgente. A partir daí, a cena muda para a propriedade em questão e começamos a entender melhor a dinâmica.
 
Sir Claud é um cientista que desenvolveu uma fórmula extremamente valiosa e que certamente é capaz de chamar atenção de diversas pessoas e grupos. E é com essa fórmula que toda a situação começa. Ele está recebendo algumas visitas em sua casa de campo incluindo seus familiares, sua secretária e alguns outros conhecidos. Porém, no decorrer do final de semana, ele percebe que a fórmula foi roubada de seu cofre, o que o faz ligar pedindo a ajuda de Poirot. Enquanto o detetive Belga está a caminho, Sir Claud reúne todos os presentes em uma sala e oferece a eles um acordo para devolver a fórmula roubada. Quando as luzes voltam, o envelope está sobre a mesa, mas Sir Claud é encontrado morto, envenenado com hioscina em seu café. E é aqui que Poirot chega, com a ajuda de seu amigo Hastings (infelizmente) para descobrir o que aconteceu e quem é o culpado.
 
É importante lembrar que o livro foi readaptado em 1998, e é essa versão que chega até nós. Assim, a estrutura narrativa não é a de uma peça (como o excelente Auto da Compadecida, cuja resenha você confere AQUI), mas claramente conseguimos perceber que esse era o formato originário. O livro é incrivelmente descritivo, com relatos precisos do cenário, posição dos personagens, descrições físicas de reações e movimentos... além disso, também temos poucos cenários para a história, algo certamente relativo à produção de uma peça em um espaço mais limitado. Nesse aspecto, a adaptação foi muito bem-feita: deu ao livro uma fluidez de um romance, sem perder as características originais do teatro. Eu adorei analisar o início do livro sobre esse aspecto, pensando no cenário, na atuação, na construção da cena, do enredo. Foi melhor do que eu imaginei que seria, tenho que confessar.
 
Como é comum em seus livros, especialmente nos protagonizados por Poirot, a autora demora um pouco até estabelecer o crime e ditar o que será o alvo da investigação. Porém, talvez pela própria característica do teatro, esse livro tem um passo mais acelerado, em uma dinâmica que muito me agradou. Começamos com Poirot dando as caras e mostrando que sim, esse é um de seus casos, e logo depois de cara com o caso da fórmula roubada. Outro aspecto que me chamou atenção é como a autora brinca com a bebida que dá título ao livro, café preto (que, na Inglaterra, é um tipo de preparo do café, significa a bebida pura, sem qualquer adicional de açúcar ou leite). Com esse título, eu já desconfiava que esse seria o método escolhido para o assassinato, mas fui pega de surpresa com a quantidade de xícaras distribuídas ao longo da história. Eu tentava seguir as bebidas como uma espectadora de um show de mágica na rua, mas falhei. E assim que desisti de acompanhar as danças das xícaras, o crime aconteceu! Foi divertido, confesso.
 
Novamente a autora nos traz a donzela apaixonada em apuros, algo já comum em suas obras. Talvez alguns anos atrás eu adorasse esse enredo, mas hoje me incomoda bastante. A figura do herói em contrapartida à mulher que precisa de defesa certamente vendeu (e ainda vende) muitos livros, mas eu estou cansada de histórias assim. Ainda bem que o carisma de Poirot faz a leitura valer a pena, nesse livro leve, simples e que foi uma grata surpresa.
 
Até a próxima, em um experimento do clube de detetives com “A Morte do Almirante”.
 
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Série Hercule Poirot
 
1.  O Misterioso Caso de Styles (The MysteriousAffair at Styles), 1920
2.  Assassinato no campo de Golfe (The Murder onthe Links), 1923
3.  Poirot Investiga (Poirot Investigates), 1924
4.  O Assassinato de Roger Ackroyd (The Murder ofRoger Ackroyd), 1926
5.  Os Quatro Grandes (The Big Four), 1927
6.  O Mistério do Trem Azul (The Mystery of theBlue Train), 1928
7.  Café Preto (Black Coffee), 1930
8.  A Casa do Penhasco (Peril at End House), 1932
9.  Treze à Mesa (Lord Edgware Dies), 1933
10.  Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express), 1934
11.  Tragédia em Três Atos (Three Act Tragedy), 1935
12.  Morte nas Nuvens (Death in the Clouds), 1935
13.  Os Crimes ABC (The A.B.C. Murders), 1936
14.  Morte na Mesopotâmia (Murder in Mesopotamia), 1936
15. Cartas na Mesa (Cards on the Table), 1936
16.  Assassinato no Beco (Murder in the Mews), 1937
17.  Poirot Perde uma Cliente (Dumb Witness/Poirot Loses a Client), 1937
18.  Morte no Nilo (Death on the Nile), 1937
19. Encontro com a Morte (Appointment with Death), 1938
20. O Natal de Poirot (Hercule Poirot’s Christmas), 1938
21. The Regatta Mystery and Other Stories, 1939 (Não lançado no Brasil)
22. Cipreste Triste (Sad Cypress), 1940
23. Uma Dose Mortal (One, Two, Buckle My Shoe), 1940
24.  Morte na Praia (Evil Under the Sun), 1941
25.  Os Cinco Porquinhos (Five Little Pigs), 1942
26.  A Mansão Hollow (The Hollow), 1946
27.  Os Trabalhos de Hércules (The Labours of Hercules), 1947
28.  Testemunha de Acusação e Outras Histórias (The Witness for the Prosecution and Other Stories), 1948
29.  Seguindo a Correnteza (Taken at the Flood), 1948
30.  Os Três Ratos Cegos e Outras Histórias (Three Blind Mice and Other Stories), 1950
31.  Poirot Sempre Espera e Outras Histórias (The Under Dog and Other Stories), 1951
32.  A Morte da Sra. McGinty (Mrs McGuinty’s Dead), 1952
33.  Depois do Funeral (After the Funeral), 1953
34.  Morte na Rua Hickory (Hickory Dickory Dock), 1955
35.  A Extravagância do Morto (Dead Man’s Folly), 1956
36.  Um Gato entre os Pombos (Cat Among the Pigeons), 1959
37.  A Aventura do Pudim de Natal (The Adventure of the Christmas Pudding), 1960
38.  Double Sin and Other Stories, 1961 (Não lançado no Brasil)
39.  Os Relógios (The Clocks), 1963
40. A Terceira Moça (Third Girl), 1966
41. A Noite das Bruxas (Hallowe’en Party), 1969
42.  Os elefantes não esquecem (Elephants Can Remember), 1972
43.  Os Primeiros Casos de Poirot (Poirot’s Early Cases), 1974
44. Cai o Pano (Curtain), 1975

Avaliação (1 a 5): 


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