A sede - Jo Nesbø

>>  segunda-feira, 29 de dezembro de 2025


NESBØ, Jo. A sede. Rio de Janeiro: Editora Record, 2018. 532p. (Harry Hole, v.11). Título original: The thirst.

"– Se quiser sobreviver, você precisa saber a hora de desistir. 
– Aposto que é um bom conselho. – Harry levou a caneca de café aos lábios e ergueu os olhos para Hagen.
– Se você achar que sobreviver é assim tão importante.”

Harry Hole é uma das minhas séries favoritas de ficção policial, e no 11º volume da série temos um Harry mais maduro e um pouco mais tranquilo, mais estável, por enquanto rs. Confiram o que achei de A sede do Jo Nesbo. 

A resenha contém spoilers sobre o livro anterior. Fala sobre a vida pessoal do protagonista e muitos livros estão interligados. Sugiro que os livros sejam lidos NA ORDEM.

Depois dos eventos devastadores de Polícia e O Fantasma, não é surpresa que Harry Hole venha tentando levar uma vida mais tranquila, afastado da polícia e dedicado ao trabalho como professor na Academia de Polícia. No entanto, a paz dura pouco... uma sequência de assassinatos brutais abala Oslo e o obriga a retornar ao cenário que ele conhece bem demais: o da violência, do medo e das mentes distorcidas.

As vítimas têm um padrão de violência brutal. As mulheres haviam marcado encontros por meio do Tinder, apresentavam ferimentos causados por mordidas, e o assassino parecia agir movido por uma sede literal e simbólica de sangue. Outro ponto interessante é que os apartamentos não tinham sido invadidos, tudo indicava que o assassino já se encontrava dentro dos apartamentos quando as vítimas voltaram para casa. Quando a palavra "vampirista" passa a fazer parte das manchetes, a cidade fica em polvorosa.

A inspetora Katrine Bratt é a detetive encarregada da equipe de investigação. A violência dos crimes e pistas divulgadas por algum informante desconhecido, deixam a imprensa em polvorosa e a polícia de mãos atadas. Não satisfeito pela falta de pistas e suspeitos até o momento, Mikael Bellman, chefe de polícia, já de olho em cargos mais importantes, recorre a Harry, e usa de chantagem para convencê-lo a ajudar na investigação. Apesar de um ódio mútuo, ele sabe que Harry é o melhor detetive que Oslo já teve. 

Harry nunca soube separar a vida pessoal do trabalho, e mergulha de cabeça em mais um mistério. Enquanto isso, sua esposa, Rakel, tem sentido fortes dores de cabeça e acaba sendo internada de emergência.  Tentando equilibrar seu tempo, ele acaba entrando em conflito com seu filho, Oleg, agora um cadete em treinamento para ser policial.

Além de Katrine, Bjørn Holm e Truls Berntsen fazem parte da equipe de investigação. Ninguém confia em Truls; todos sabem que ele sempre foi um policial medíocre, mas ordens superiores fazem dele mais um membro da equipe. Stale Aune se recusa a sair da aposentadoria, mesmo quando Harry pede sua ajuda, então um novo psiquiatra é convidado para o trabalho. Aune só não sabe, que sua filha de apenas 15 anos, Aurora, pode ter uma ligação com o assassino.

À medida que a trama se aprofunda, o leitor é levado a suspeitar que o assassino pode ter ligação direta com o passado de Harry, que desconfia estar à caça do único serial killer que escapou.  Será que Valentin Gjertsen, ressurgiu do mundo dos mortos?

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Depois das bombas dos livros anteriores, neste faltou algo para eu amar e favoritar. Talvez porque achei a solução do crime um pouco forçada em um aspecto, mas os livros são sempre muito bem escritos e eu amo a narrativa e os personagens. Fiquei o livro todo agoniada, Jo Nesbo sempre me deixa tensa, porque ele parece gostar mais de matar os personagens de quem gostamos do que os bandidos hehehe.

Com isso passei o livro todo com medo do assassino ir atrás da Katrina, e temi pela saúde de Rakel até o final, além dela estar internada, tinha a chance do assassino tentar se vingar de Harry através dela. E ainda tinha Aurora, coitada, que nunca contou o que aconteceu com ela no livro anterior e estava apavorada, por ela e pela família. 

De toda forma, A Sede é um dos livros mais intensos da série Harry Hole, tanto no enredo policial quanto no mergulho psicológico de seus personagens. Nesbø mantém sua assinatura de ritmo ágil, reviravoltas precisas e uma atmosfera carregada de tensão e melancolia. Aqui, a violência não é apenas física — ela é também emocional. Acho que poucos livros me deixaram tão ansiosa, muitas vezes precisei parar de ler para respirar. 

Harry, como sempre, é um protagonista dilacerado entre o dever e a autodestruição, e sua relação com Rakel e Oleg ganha novas camadas de vulnerabilidade. Neste livro achei que ele cometeu alguns erros bobos, pouco característicos do personagem, como na cena do Valentim com o barman lá no bar. Katrine Bratt, por sua vez, confirma-se como uma das personagens femininas mais fortes e complexas da série, movida por ambição e por um senso de justiça que muitas vezes beira a obsessão. Fico torcendo por ela e Bjørn, mas ela é um pouco obcecada por Harry, e o final dessa treta aí foi bombástico hehehe. Outro personagem que ganha mais destaque neste volume é Ulla Bellman, a esposa de Mikael, morro de pena dela desde sempre, com o marido escroto e traidor. 

[ALERTA DE SPOILERS] No final Valentin era mesmo o vampirista, mas ele agia sob o comando de outra pessoa, desde que fugiu da prisão. Como uma marionete, ele ia seguindo as regras e recebendo informações e dinheiro. Isso fica óbvio, mas eu desconfiei do policial novato ou do médico da Rakel como envolvidos no crime. E no final era Hallstein Smith, o novo psiquiatra. Ele fez tudo isso porque queria provar a existência dos vampiristas como uma doença psiquiátrica, uma tese que havia sido recusada no passado,  e queria defender sua tese de doutorado sobre o assunto. Achei forçado demais ser, de novo, alguém tão próximo deles, e a motivação dele também é bem forçada. Por outro lado, os desdobramentos foram de arrepiar. Ele atira em Truls que não sabemos se vai sobreviver, sequestra Harry no lugar de Ulla ( e Mikael que não faz nada fica de bobo na história, um bônus) e foge. Acaba sendo morto no final. Outra novidade é Katrina grávida e voltando com Bjorn... mas, tudo indica que o filho é de Harry, na única vez no livro em que ele tem uma recaída e fica completamente bêbado. Fiquei triste também pela morte do barman, tinha gostado do personagem. [FIM DOS SPOILERS] 

A Sede é muito mais do que um livro sobre a caça à mais um serial killer. O livro fala sobre os impulsos humanos mais primitivos — desejo, culpa, poder, e a eterna busca por redenção. O título funciona como metáfora central: todos os personagens têm sua própria sede, seja por sangue, amor, controle ou esquecimento. Com sua escrita precisa, ambientação fria e uma trama que mistura suspense e introspecção, Jo Nesbø entrega um livro maduro, inquietante e perturbador. A Sede reafirma Harry Hole como um dos detetives mais complexos da literatura policial contemporânea — e prova que, mesmo após tantos casos, sua luta contra o mal continua sendo, antes de tudo, uma luta interna.

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Série Harry Hole do Jo Nesbø:
  1. O Morcego (The bat)
  2. Baratas (Cockroaches)
  3. Garganta vermelha  (The redbreast)
  4. A casa da dor (Nemesis)
  5. A estrela do diabo (The devil’s star)
  6. O redentor (Frelseren)
  7. Boneco de neve (The snowman)
  8. O leopardo (The leopard)
  9. O Fantasma (Plantom)
  10. Polícia (Police)
  11. A sede (The thirst)
  12. Faca (Knife)
  13. Lua de sangue (Killing Moon).
Avaliação (1 a 5):

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