A Mão Misteriosa - Agatha Christie

CHRISTIE, Agatha. A Mão Misteriosa. Rio de Janeiro: Editora Editora L&PM Pocket, 2019. 191p. Título original: The Moving Finger.

"- Que inferno! E eu vim para cá para viver como um vegetal e me interessar pelos pequenos escândalos locais. Pequenos escândalos locais! Calúnia, difamação, linguagem obscena e assassinato!" posição 231

Chegamos ao 45º livro do Projeto Agatha Christie e as resenhas dos livros anteriores, você encontra AQUI. Este mês temos mais uma participação da Miss Marple. Confiram o que achei de A mão misteriosa.

Jerry Burton é um piloto que sofreu um acidente grave. Seguindo orientações médicas para se recuperar e voltar a andar sem a ajuda de uma bengala, ele sai de Londres com a irmã mais nova, Joanna, e aluga uma casa em um pequeno vilarejo tranquilo do interior, Lymstock. 

Ele precisa de ar puro, tranquilidade, longe da agitação e das incomodações Londrinas. Dos amigos que querem ajudar, mas acabam olhando para ele com pena, como se estivesse inválido. Ele logo começa a fazer parte da vida tranquila do lugar... Até que eles recebem uma carta anônima, que afirma que Joanna não é sua irmã, e sim sua amante. Uma carta nojenta e repleta de mentiras, que Jerry atira ao fogo enfurecido.

As cartas anônimas grosseiras e repletas de mentiras começam a repercutir entre os vizinhos, alguns deles negam, mas vários assumem ter recebido cartas ofensivas e com falsas acusações. Ninguém sabe quem envia as cartas, mas todos começam a suspeitar um dos outros.

Quando um habitante da cidade morre em decorrência de uma das cartas, a polícia entra em cena. Mas eles também parecem um pouco perdidos na investigação. Até que a esposa do vigário resolve chamar um especialista na cidade para resolver o assunto. E é então que Miss Marple entra em cena. 

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Eu adoro a Miss Marple, mas fico triste por ela ser tão coadjuvante em suas histórias. Não sei se isso muda nos próximos, mas até então ela aparece muito rapidamente nos livros. Neste aqui então, ela aparece em 73% do livro e nem tem narrativa, só alguns diálogos.  

Eu gostei dos personagens, da vida simples de um pequeno vilarejo e suas intrigas simples. Jerry e Joanna são duas pessoas legais e se integraram muito bem à pequena comunidade. Tem até um certo ar de romance, com o interesse dele por uma jovem meio abandonada pelos pais, Megan, e dela pelo médico da cidade.

 Achei o mistério interessante e acertei a teoria em parte. Mas errei o "quem matou". Esperava mais do final, achei meio forçada a solução e queria muito mais da Miss Marple na história. Ela chega e resolve tudo com duas conversas hehe. Espero que nos próximos livros ela ganhe mais destaque, uma pena aparecer tão pouco, adoro essa senhorinha.

[ALERTA DE SPOILERS] Logo que a esposa do advogado morre e falam que foi suicídio por um das cartas, eu desconfiei que alguém queria matá-la, afinal, todas as cartas diziam mentiras. E em uma cidade pequena nem seria difícil escrever fofocas verdadeiras se o autor assim quisesse rsrs. Então acertei que ela foi assassinada, mas achei que a culpada era a jovem governanta, que queria se casar com o marido dela depois que ficasse viúvo. Na verdade, o culpado era ele, que estava apaixonado pela jovem e queria se livrar da esposa. Achei pouco crível um advogado bolar toda essa trama de cartas falsas apenas para despistar um crime. Mas foi interessante de todo jeito. [FIM DOS SPOILERS]

Então eu esperava mais do livro, principalmente de Miss Marple. Mas sigo curiosas com o projeto e espero ler todos os livros da autora! Quem leu me conte se curtiu. 

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Série Miss Marple

0.5 Os treze problemas

1) Assassinato na Casa do Pastor (Murderat the Vicarage), 1930

1.5 The Regatta Mystery and Other Stories, 1939

2) Um Corpo na Biblioteca (The Body in the Library), 1942

3) A Mão Misteriosa (The Moving Finger), 1942

4) Convite para um Homicídio (A Murder Is Announced), 1950

4.5 Os Três Ratos Cegos e Outras Histórias (Three Blind Mice and Other Stories), 1950

5) Um Passe de Mágica (They Do It with Mirrors), 1952

6) Uma Porção de Centeio (A Pocket Full of Rye), 1953

7) A Testemunha Ocular do Crime (4.50 from Paddington), 1957

8) A Maldição do Espelho (The Mirror Crack'd from Side to Side), 1962

9) Mistério no Caribe (A Caribbean Mystery), 1964

10) O caso do Hotel Bertram (At Bertram's Hotel), 1965

11) Nêmesis (Nemesis), 1971

12) Um Crime Adormecido (Sleeping Murder), 1976

Avaliação (1 a 5): 

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O Belo Mistério - Louise Penny

PENNY, Louise. O Belo Mistério. São Paulo: Editora Arqueiro, 2025. 448p. (Inspetor Gamache, v.8). Título original: The Beautiful Mystery.

“- Eu acho que, quando a gente se importa com alguém, tenta proteger o outro – disse Gamache, escolhendo as palavras com cuidado. 

– Mas, às vezes isso é como bloquear um goleiro em um jogo de futebol ou hóquei: em vez de proteger o jogador, você só faz com que seja mais difícil para ele ver a ameaça que está vindo. E o mal é causado. Por engano.”

A série Inspetor Gamache é uma das minhas favoritas atualmente, quando falamos em ficção policial. Ela tem uma abordagem muito empática e um desenvolvimento psicológico muito interessante. Chegamos ao 8º volume da série, confiram o que achei de O Belo Mistério da Louise Penny.

Esta resenha contém spoilers sobre os livros anteriores! Esta série precisa ser lida na ordem.

No mosteiro de Saint-Gilbert-Entre-les-Loups, escondido nas profundezas das florestas do Quebec, vivem vinte e quatro monges Gilbertinos. Eles fizeram voto de silêncio e  vivem em paz e oração. E assim eles viveram por séculos, sem quase ninguém saber da existência daquele mosteiro, quem eles eram ou onde viviam. 

Buscando formas para cuidar da estrutura do mosteiro, e sem outros recursos financeiros, eles acabam gravando um CD de cânticos religiosos, para arrecadar algum dinheiro. No entanto, por ironia do destino, esses homens se tornaram célebres no mundo inteiro por seu canto gregoriano, uma música que provoca um efeito tão profundo que passou a ser conhecida como ''o belo mistério''. 

Depois disso, todo mundo começou a descobrir quem eles eram, onde estavam, e a tentar visitar ou entregar no mosteiro, perturbando a paz em que sempre viveram. Quando um dos irmãos é assassinado, eles finalmente precisam quebrar o silêncio e o isolamento e deixar o  inspetor-chefe da Sureté Du Québec, Armand Gamache, e seu braço direito, o agente Jean Guy Beauvoir entrarem no mosteiro.

À medida que conversa com os monges, Gamache começa a enxergar as rachaduras e os problemas entre aqueles que deveriam viver em paz.  Os conflitos no mosteiro se tornam cada vez mais visíveis. Ao mesmo tempo, Gamache precisa lidar com seus próprios demônios,  quando seu chefe e inimigo, o superintendente Sylvain Francoeur.

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Eu amo a autora, o protagonista e a narrativa dessa série tão bem construída. Dito isso... este livro não funcionou muito para mim. Achei terrivelmente lento e tedioso, é o maior da série e o livro todo se passa no mosteiro, sem quase nada acontecer, com os monges contando a mesma coisa de novo e de novo... Continua muito bem escrito, mas o assassinato e o suspense não me empolgou em hora nenhuma. 

Por outro lado, a parte pessoal do desenvolvimento dos personagens é o foco do livro. O suspense fica meio a margem, e os problemas de Gamache e Jean Guy, as sequelas emocionais do tiroteio onde perderam tantos agentes é o foco do livro. Gamache não se recuperou por se sentir responsável pelas mortes de tantos agentes novos que confiavam nele, que eram sua responsabilidade. E Jean Guy ficou gravemente ferido e acabou viciado em medicamentos para dor. E a tensão entre eles, os dilemas, permeia o livro até o final, principalmente porque o insuportável do Francoeur está lá tentando jogar sal nas feridas de todo jeito.  Essa parte foi excelente, mas eu tenho ranço com o Jean Guy desde o início da série, então ele mais me irritou do que comoveu hehe.

Senti falta dos personagens legais de Three Pines que adoro, dos outros oficiais da equipe do Gamache, como a Laroche, etc. E aí temos um livro todo só do chato do Jean Guy, ele estava até melhorando, mas aqui me matou de raiva. 

Sobre o suspense em si, eu desconfiei do culpado e não tive muitas surpresas. O impacto maior foi o que aconteceu com Jean Guy no final. [ALERTA DE SPOILERS] Quem matou o monge regente foi o monge mais novo no mosteiro, por não concordar com um tipo de canto que ele queria criar, bem bobo. Sobre Jean Guy, Francoeur acaba conseguindo manipulá-lo e ele volta a usar os comprimidos para a dor em que era viciado. E no final para se  drogar ele puxa até uma arma para Gamache. E acaba indo embora de avião com suas drogas e o Francoeur, em teoria saindo da equipe do Armand para trabalhar para o superintendente. E Gamache fica arrasado. E vai dar mais confusão, porque ele agora namora a Annie, filha de Gamache, coitada. [FIM DOS SPOILERS]

Apesar de não ter amado este, amo a série e já estou ansiosa para ler o próximo. Espero que saiam todos os livros por aqui, leiam!

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Série Inspetor Gamache:

1. Natureza morta (Still Life)
2. Graça fatal (A fatal Grace) 
3. O mais cruel dos meses (The Cruelest Month) 
4. É proibido matar (A Rule Against Murder)
5. Revelação brutal (The Brutal Telling)
6. Enterre seus mortos (Bury Your Dead)
7. Um truque de luz (A Trick of the Light)
8. O Belo Mistério (The Beautiful Mystery)
9. A luz entre as frestas (How the Light Gets In)
10. The Long Way Home (os demais ainda não lançados no Brasil)
11. The Nature of the Beast
12. A Great Reckoning
13. Glass Houses
14. Kingdom of the Blind
15. A Better Man
16. All the Devils Are Here
17. The Madness of Crowds
18. A World of Curiosities
19. The Grey Wolf.

Avaliação (1 a 5):

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Jogos Mortais - Angela Marsons

MARSONS, Angela. Jogos Mortais. São Paulo: Editora Gutenberg, 2025. 336p. (Detetive Kim Stone, v.4). Título original: Play dead.

"- Assim está melhor. Agora posso ver seu rosto - ele disse, inclinando a própria cabeça. - Agora você está pronta para brincar.

A ternura na voz trouxe mais lágrimas aos olhos de Tracy.

Sabia que estava sendo preparada para morrer." p. 264

E quando eu já havia perdido as esperanças... eis que a Editora Gutenberg, finalmente, lançou mais um volume de uma das minhas séries queridinhas de ficção policial, Detetive Kim Stone. Confiram o que achei do 4º volume com Jogos Mortais.

Após concluir um díficil caso envolvendo o sequestro de uma criança, a Detetive Kim Stone se volta para sua mesa atolada de outros casos. Mas é chamada pelo inspetor chefe, Detetive Inspetor-Chefe Woodward, que pede que ela e sua equipe visitem um novo centro de pesquisa que estuda o corpo humano após a morte. Eles ajudam a resolver casos antigos com seus estudos e assim, Kim e sua equipe são enviados para visitar Westerley, conhecida também como "fazenda de corpos". 

O responsável pelo lugar é o Professor de biologia Chris Wright, com ele está a entomologista Catherine Evans. Eles estudam a decomposição, a presença de insetos e como isso afeta os corpos e vários outros aspectos que podem ajudar os legistas e a polícia. 

O que ela não esperava, era encontrar um corpo assassinado no local. Largado no campo enorme, quase confundido com um dos corpos que estão sendo estudados, eles encontram uma jovem mulher assassinada. Kim e seu parceiro, Bryant, e os outros membros da equipe, Dawson e Stacey tomam a frente do caso.

A mulher assassinada é Jemina Lowe. A família, devastada, não saberia dizer quem faria mal à sua filha. Sem suspeitos, sem motivo, Kim procura de toda forma descobrir mais sobre a vítima. Quando outro corpo é encontrado, ela começa a entender a ligação entre eles, e corre contra o tempo, antes que mais alguém seja assassinado. 

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O livro anterior da série foi espetacular, então minha expectativa estava bem alta. E este volume começa de forma excelente, você fica preso do início ao fim. Porém, achei a última parte bem corrida e os desdobramentos fracos. Esperava mais, mesmo assim adorei a leitura.

Kim Stone é uma das minhas detetives favoritas! Ela é totalmente dedicada ao trabalho, tem seus próprios problemas pessoais e seus traumas do passado para lidar, mas ela se identifica muito com suas vítimas e faz de tudo para conseguir descobrir a verdade. Ela é inteligente, persistente, não tem papas na língua e adora um bom desafio. Os outros membros da equipe são todos legais, mas queria que a vida pessoal deles fosse melhor desenvolvida. Kim agora não está mais sempre sozinha, adotou um cachorro em um dos casos anteriores e eu adoro o Barney, já é um personagem querido.

O caso anterior foi inesquecível, e eu queria que alguns personagens tivessem aparecido aqui, uma pena que isso não aconteceu. Mas a série está toda ligada e os casos passados são citados sempre, além do desenvolvimento da vida pessoal da protagonista. Então sempre digo que os livros precisam ser lidos na ordem!

As vítimas e a motivação são interessantes, uma vingança contra algo que aconteceu há tantos anos. Bullying é sempre muito triste e a vingança aqui foi extrema e o método utilizado, bem interessante. Eu morri de dó do que aconteceu com a criança na época, o caso em si foi bem pesado.

Eu achei quase tudo muito fácil de matar e que o livro pecou na parte final, estava tudo muito óbvio e ficou corrido. Eu acertei o "quem matou" e só errei um detalhe. [ALERTA DE SPOILERS] Desde que a Isobel sobreviveu e estava no hospital sem memória, eu desconfiei do tal "namorado" que estava com ela. E para mim foi uma falha da autora, porque obviamente o assassino poderia tentar terminar o serviço. Kim sabe que ela está protegida na UTI, mas não procura muito descobrir mais sobre ela, e simplesmente acredita em tudo o que o tal cara fala. E ele era o assassino, fingindo lá de namorado apaixonado. O nome dela e tudo o mais o que ele falou era falso (e isso Stacey teria descoberto ao pesquisar a lista dos alunos na escola, e quem mais estava envolvido no bullying). O que surpreendeu, foi que o assassino tinha morado na mesma instituição para menores que Catherine Evans, e os dois estavam se ajudando mutuamente. Desconfiei logo também que a Tracy seria uma das vítimas, achei umas coisas bem manjadas. [ FIM DOS SPOILERS]

Apesar de não ter amado o final eu sou fã da série e espero que continuem lançando os livros por aqui. Quem leu me conta se curtiu, leiam!

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Série Detetive Kim Stone da Angela Marsons:

1. Gritos no silêncio (Silent Scream)
2. Jogos Malignos (Evil Games)
3. Infâncias Roubadas (Lost girls)
4. Jogos mortais (Play dead)
5. Blood lines (os demais ainda não lançados no Brasil)
6. Dead souls
7. Broken bones
8. Dyning truth
9. Fatal promise
10. Dead memories
11. Child’s play
12. Killing mind
13. Deadly cry
14. Twisted lies
15. Stolen ones
16. Six graves
17. Hidden scars
18. Deadly Fate
19. Bad Blood
20. Guilty Mothers
21. 36 Hours
22. Little Children.

Avaliação (1 a 5):

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Água fresca para as flores - Valérie Perrin

PERRIN, Valérie. Água fresca para as flores. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2021. 480p. Título original: Changer l'eau des fleurs.

"Com certeza este é o motivo dos cemitérios estarem cheios de epitáfios. Para afastar a passagem do tempo. Para que se apaguem às lembranças. Meu preferido é: 'A morte começa quando ninguém mais pode sonhar com você'. " p. 18

A francesa Valérie Perrin vem conquistando um público fiel no Brasil, e todos comentam empolgados sobre os seus livros. Eu finalmente li o primeiro dela lançado por aqui, confiram o que achei de Água fresca para as flores.

Violette Toussaint teve uma vida difícil e solitária. Nasceu e cresceu em vários orfanatos, teve vários lares provisórios, sem nunca ser adotada. No início da vida adulta conheceu aquele que seria seu marido, Philippe Toussaint, um homem mesquinho que só amava a si mesmo e que nunca cuidou da família. Eles tiveram uma filha, Léonine, e foi aí que Violette descobriu o que era o amor. 

Violette era vista pelos sogros como um objeto, não uma pessoa. Eles nunca a enxergaram, nunca quiseram conhecê-la, eles a toleravam. O marido não era muito diferente, durante a vida de casados ele teve inúmeras amantes, e sempre saia com sua moto para "dar uma volta" e sumia por algum tempo. Primeiro eles  foram vigias ferroviários, ou melhor, ela fora, enquanto trabalhava pelos dois. Depois de anos nesse trabalho, eles se mudaram e viraram zeladores de um cemitério. Foi lá que ela praticamente trabalhou por toda a sua vida.

"Depois que os portões são fechados, o tempo é meu. Sou a única dona dele. É um luxo ser dona do próprio tempo. Acho que é um dos maiores luxos que um ser humano pode dar a si mesmo." p.46

A casa onde Violette vive, na entrada do cemitério, se tornou um porto seguro para muita gente. Para os três outros funcionários do local, para o padre da paróquia da cidade, para os irmãos donos da funerária local e para vários frequentadores, que estão sempre por lá visitando  uma pessoa amada em seu descanso final.  Ela começa a anotar em um caderno todas as informações sobre as cerimônias, todos os detalhes que consegue se lembrar. Como estava o tempo, quantas pessoas compareceram, os discursos fúnebres, músicas, etc. Ela acredita que aquelas informações podem ser importantes para alguém algum dia. 

" Se o paraíso existir de fato, só será paraíso se eu for recebida por meus cães e gatos." p.55

Com o passar dos anos, aqueles amigos viraram sua família. O marido, um dia saiu para "dar uma volta" e nunca mais voltou, depois de um mês ela finalmente registrou seu desaparecimento na delegacia local. Ela sempre procura fazer o melhor dos seus dias, valorizar o seu tempo e construir uma vida com felicidade naquelas pequenas coisas. Seus amigos, os cães e gatos que vivem no cemitério e acabam sendo adotados por ela, sua horta, suas flores e sua pequena casa, onde ela sempre tem um chá, uma bebida, ou algo para comer para aqueles que precisam.

Em uma manhã sua rotina é quebrada com a chegada de Julian Seul, um delegado que vive em Marselha. Ele recebeu com surpresa o último pedido da mãe, ter suas cinzas colocadas naquele cemitério, no túmulo de um homem de quem nunca ouviu falar. Juntos, eles começam a investigar o passado da mãe de Julian, e acabam descobrindo muito sobre si mesmos. 

"Ao me deitar, penso como odiaria morrer antes de terminar de ler um romance de que estava gostando." p. 146

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A narrativa é incrível, um retrato poético da vida cotidiana, com suas alegrias, enormes tristezas e muitas provações. A autora trabalha magistralmente um tema muito difícil, a morte. E o olhar de Violette  de forma simples, sobre todas coisas é muito tocante e comovente.

Violette é uma protagonista fantástica. Impossível não amá-la e não torcer por ela, da vontade de protegê-la em cada momento, uma pessoa boa que sofreu tanto na vida. É lindo vê-la aos poucos construindo uma vida feliz, fazendo amigos, tendo um porto-seguro apesar de tudo o que aconteceu. 

Os outros personagens são todos muito bons, com exceção de Philippe e seus pais, pessoas horríveis. Adorei Nono e seu jeito paternal, as reflexões do padre. Julian que se encantou por Violette logo que a conheceu. E Sasha, que soube ajudá-la de forma sutil e com muito amor. 

O livro tem um pequeno mistério, mas que não me surpreendeu. Imaginei logo no início que algo assim teria acontecido, então não tive surpresas. Acho que isso tirou um pouco do encanto e da emoção para mim, não chorei em momento algum.  

Porém, a história tem trechos tão lindos, tão cheios de vida e de amor, que você se vê ali naquelas páginas. Pensando também no passado, de pessoas que amou e que perdeu, naqueles momentos diários tão ricos de amor. 

Eu adorei a leitura! Devorei o livro no começo e achei que seria um dos meus favoritos do ano. Mas para mim ele perdeu ritmo da metade para o final, e acabei achando os desdobramentos finais bem mornos, faltou um ápice ou algo para eu amar. Amei a narrativa, os personagens, mas queria mais do enredo em si.  

Eu já quero os outros da autora na estante, com certeza indico a leitura, este livro é inesquecível. Leiam!!

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Diário de uma paixão - Nicholas Sparks

SPARKS, Nicholas. Diário de uma paixão. São Paulo: Editora Novo Conceito, 2010. 256p. Título original: The Notebook.

"Se puder, um homem deve desfrutar de outras coisas; deve passar seus últimos dias ao sol. Os meus vou passar debaixo de uma lâmpada de leitura." p. 158

Sigo meu propósito de ler os livros mais antigos parados na estante, e foi assim que mais um Nicholas Sparks saiu da fila. Esse é um dos romances mais aclamados e famosos do autor, eu nunca tinha lido, não assisti ao filme, nada. Finalmente conto para vocês o que achei de Diário de uma paixão.

Noah Calhoun e Allison Nelson eram jovens adultos quando se conheceram. Eles se apaixonaram, passaram um único verão perfeito juntos e se separaram. Ele era um jovem simples, filho de um marceneiro que vivia naquela pequena cidade de Nova Berna. Ela pertencia a uma família rica e tradicional, que fora passar as férias na cidade. Depois que ela foi embora, Noah escreveu para Allie por 2 anos, mas nunca recebeu uma resposta, até que desistiu e seguiu com sua vida.

Anos depois, após o fim da Segunda Grande Guerra, Noah voltou para casa. Ele lutou, sobreviveu, e usou suas economias para comprar e restaurar uma casa antiga na cidade. Lá vivia sozinho, trabalhava na casa e levava os dias de forma simples. Ele nunca amou alguém como Allie e nunca se comprometeu.  

Allie levava a vida que era esperada dela pelos pais. Cursou a faculdade, abandonou o seu sonho de ser pintora e ficou noiva de um advogado em ascensão na cidade. Lon era um homem bom, ela o amava, mas sentia que faltava algo no relacionamento. Faltando três semanas para a grande cerimônia, ela vê uma notícia no jornal que muda tudo. Uma casa antiga, restaurada por ninguém menos que Noah. E então Allie larga tudo e inventa uma viagem para reencontrá-lo. 

A conexão entre eles não mudou, mas Allie está noiva e precisa decidir o que quer fazer de sua vida. Noah nunca teve dúvidas, nunca deixou de amá-la. Tudo o que ele fez na sua vida simples foi amar... 

"Quando olho para você, vejo a sua beleza e seu encanto e sei que ficaram mais fortes a cada vida que você viveu. E sei que passei todas as vidas, antes desta, procurando você. Não alguém como você, mas você, porque a sua alma e a minha têm de estar sempre juntas. E assim, por alguma razão que nenhum de nós dois entende, fomos forçados a dizer adeus." p.122

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Esse é um dos livros mais tristes e mais poéticos que já li, tem frases lindas, tem momentos de partir o coração e outros de explodir de amor. Ele te faz refletir sobre vida, escolhas e morte. E eu amei a leitura, mas achei a parte final muito rasa e corrida. Queria mais umas 100 páginas na história, e foi isso que me impediu de dar nota máxima.

Noah é um dos protagonistas mais doces e incríveis que já conheci. Que homem lindo, honrado, inteligente e gentil. Você se apaixona pelo Noah adolescente, pelo adulto, pelo idoso. E o conflito e as escolhas de Allie são muito compreensíveis, até suas dúvidas sobre o que fazer no futuro. 

É uma história razoavelmente simples, mas que tem uma história de amor inesquecível. Temos poucos coadjuvantes, as interações com eles são mínimas e o livro é realmente focado no casal. Muito da história só conhecemos pelo diário de Noah.  

Apesar de nunca ter lido ou assistido, algo me dizia que seria um drama, algo de partir o coração. Não sei se foi resenhas que li antigamente, mas eu meio que já imaginava o que estava por vir. Mesmo assim foi de cortar o coração, e ao mesmo tempo muito lindo. 

Meu problema com o livro foi apenas o final. Tudo é muito corrido e a minha edição tinha um monte de coisas depois do livro que eu não sabia (entrevista, comentários, sinopse de outros livros, etc). Eu estava esperando mais páginas e acabou!! E eu fiquei nãooo, não pode ser só isso!! Acho que é até um mérito do autor, mas fiquei decepcionada, confesso hehe. [ALERTA DE SPOILER] Obviamente Allie escolhe Noah e termina com o noivo, eles se casam e vivem uma linda história de amor, tem filhos e etc. Porém, grande parte da história já se passa no futuro, com eles idosos e vivendo em uma casa de repouso. E Allie tem Alzheimer, então Noah passa os dias lendo o diário para ela, alguns dias ela se lembra dele e é lindo, em outros não. Eu senti falta de mais da vida deles depois de ficarem juntos, do presente. Foi tudo muito corrido e já termina com eles deitados juntos, ela parece ter reconhecido Noah depois que ele voltou do hospital, onde estevei internado. Ou é isso, ou ele imaginou a cena e faleceu naquele momento, não dá muito para ter certeza. [FIM DOS SOILERS]

O livro foi adaptado para o cinema em 2024, dirigido por Nick Cassavetes e estrelado por Ryan Gosling (Noah), Rachel McAdams (Allie) e James Garner (Lon).  Agora finalmente posso assistir e pretendo, tem uma média de nota bem alta nas redes. 

Além do filme, tem um livro que muita gente chama de "continuação" desta história, O casamento. Afinal, a protagonista é uma das filhas de Allie. Não fiquei muito interessada em ler, principalmente porque não cheguei a comprar. Mas quem sabe?

Apesar do final abrupto é um romance lindo que merece ser lido. Pegue muitos lencinhos e se divirtam... leiam!

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Os cinco porquinhos - Agatha Christie

CHRISTIE, Agatha. Os cinco porquinhos. Rio de Janeiro: Editora Editora Globo, 2014. 296p. Título original: Five Little Pigs.

"Não chego ao ponto de tolerar o assassinato, mas ainda assim, monsiour Poirot, se algum dia houve uma mulher que foi levada a esse ponto de ruptura, essa mulher foi Caroline Crale. Eu lhe digo francamente, houve momentos em que eu mesma teria gostado de matar aqueles dois." 

Chegamos ao 44º livro do Projeto Agatha Christie e as resenhas dos livros anteriores, você encontra AQUI. Este mês voltamos com Hercule Poirot, mas pela primeira vez nosso amado detetive investiga um crime que aconteceu há muitos anos. Confiram o que achei de Os cinco porquinhos.

A jovem Carla Lemarchant procura Poirot e tem um pedido que muitos julgariam impossível, mas para o detetive mais famoso da Inglaterra é apenas intrigante. Seus pais morreram quando ela ainda era muito nova para se lembrar dos detalhes, mas agora ela está noiva e antes de começar sua nova vida, ela precisa saber a verdade: Sua mãe, Caroline Crale, foi quem realmente envenenou seu pai? Ela morreu na prisão apenas 1 ano após ser condenada à prisão perpétua, pela morte do marido, Amyas Crale, mas deixou para a filha uma carta onde afirmava ser inocente. Isso aconteceu há 16 anos atrás...

Além do casal e sua filha, estavam presentes o melhor amigo de Amyas e seu irmão, Philip Blake e Meredith Blake, e, sua amante Elsa Greer, exatamente, Amyas já tinha tido muitos  casos, mas desta vez ele levou a jovem para se hospedar em sua casa enquanto concluía um quadro com a moça posando como modelo. Na casa também viviam empregados antigos e de confiança e a governanta, Cecilia Williams; que era tutora da irmã mais nova de Carla, Angela Warren, que tinha 13 anos na época em que o crime aconteceu.

A estratégia de Poirot é conversar com cada uma dessas cinco pessoas, falando a verdade ou usando de algum subterfúgio, e descobrir a versão de cada um sobre o que realmente aconteceu. Depois reconstruir como o crime realmente aconteceu, e tentar descobrir se Caroline realmente envenenou o marido... a verdade é que motivos não lhe faltavam. 

Muitos sentimentos se revelam, e Poirot descobre que outros personagens também poderiam ter motivos para assassinar Amyas, mas qual deles realmente cometeu o crime?

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O enredo surpreende, é o primeiro crime que acontece no passado, e o fato do assassinato ter acontecido há tantos anos, muda completamente a linha investigativa de Poirot. O enredo é bem construído, os personagens são bem explorados e o final surpreende em partes. Porém, a estratégia utilizada por Poirot para descobrir a verdade, tornou o livro muito maçante para mim.

Caroline foi presa e condenada por envenenar o marido. Apesar de ter um advogado muito bom, nunca realmente tentou se defender. Ela acaba sendo condenada à prisão perpétua e morre na prisão apenas um ano depois do marido. Ela poderia realmente ser inocente?

Ela tinha motivo, tinha meios, e com certeza roubou o veneno que o matou. Tudo o que ela disse é que o marido só poderia ter se matado, porque ela pegou o frasco com veneno pois pretendia se suicidar. Carla era ainda muito nova e lembra pouco sobre os pais. Angela era apenas uma criança, mas muito inteligente e ardilosa, também acreditava que a irmã era inocente. A governanta sempre achou que Caroline era culpada, e entendia seus motivos. Elsa, a ex-amante, odiava Caroline pelo que ela perdeu, ela pretendia se casar com Amyas depois que ele se separasse da esposa. Philip dizia odiar Caroline, Meredith parecia ter sido apaixonado por ela... e por aí vai. 

A estratégia de Poirot é conversar com cada uma dessas pessoas e pedir para que elas contem tudo aquilo na versão delas. Depois pede que cada um deles escreva um relato sobre como tudo aconteceu. E disso, ele tira a solução do mistério. 

A solução foi excelente e as narrativas deixam pistas para chegarmos ao culpado juntos com Poirot. Porém, o fato de cada uma das 5 pessoas contar tudo de novo, pela versão delas, foi extremamente chato e cansativo. O livro não anda, era ler tudo de novo e de novo com sutis diferenças. 

O final foi bem elaborado e eu curti a solução, mas foi dos livros que menos gostei do detetive, embora bem escrito. [ALERTA DE SPOILER] Eu desconfiei desde o começo que Caroline não se defendeu porque achava que a irmã era culpada, que ela tentou pregar uma peça em Amyas para se vingar dele e acabou matando-o. Ela viu Angela pegar uma cerveja e parecia estar mexendo nela pouco antes do acontecido. Mas Angela iria usar outra coisa para realmente pregar uma peça em Amyas e não chegou a servir a cerveja para ele. Caroline suspeitar da irmã, me fez suspeitar dela também até o final. Eu suspeitei de Elsa a amante (principalmente porque ela sobe para pegar um casaco em um dia quente), mas descartei por falta de motivos. Afinal, Amyas iria deixar a esposa e casar com ela. Mas no final, pelas conversas atravessadas, Poirot descobre que ele não iria fazer isso, que ele disse para a esposa que iria se livrar dela logo depois que concluísse o quadro, só precisava terminar o trabalho. Elsa ouviu tudo e conseguiu dois feitos, matar o amante que iria deixá-la e descumprir sua promessa, e ainda se vingar da esposa, aos olhos dela, culpada de tudo. [FIM DOS SPOILERS]

Agatha Christie com todas as suas inúmeras vertentes sempre é uma surpresa, mas esse achei lento demais para eu amar. Quem leu me conta se curtiu!

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